ter, 5 novembro 2024

Crítica | The First Lady

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“Por trás de todo grande homem existe uma grande mulher”. Gillian Anderson, Michelle Pfeiffer e Viola Davis interpretam as ex-primeiras-damas Eleanor Roosevelt, Betty Ford e Michelle Obama, respectivamente, em The First Lady, série da Paramount+ .

O protagonismo dos homens na política é notório. Sabemos quase tudo sobre os presidentes dos Estados Unidos, ao contrário das primeiras-damas. Como tantas outras mulheres, elas são retratadas como meras coadjuvantes da história. A série The First Lady, dá a elas o protagonismo. O intuito da série é fugir do retrato patriarcal da história estadunidense.

O plano é que seja uma antologia, com cada temporada focando nas primeiras-damas dos EUA. Na primeira temporada temos: Eleanor Roosevelt, mulher de Franklin D. Roosevelt e primeira-dama entre 1933 e 1945; Betty Ford, esposa de Gerald Ford e primeira-dama entre 1974 e 1977, e Michelle Obama, mulher de Barack Obama e primeira-dama entre 2009 e 2017. Mesmo em épocas diferentes, nos é mostrado como elas possuem personalidades fortes e foram silenciadas assim que entraram na Casa Branca. A temporada mostra como elas lidaram o silêncio e encontraram uma maneira de ter influência na sociedade e na Casa Branca.

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No começo da série você vai percebendo como a série é construída em torno de Michelle e como o telespectador acaba sentindo falta de cenas das primeiras-damas que antecederam Obama. Michelle faz um tour pela residência com a primeira-dama Laura Bush. Ela encontra o mordomo Eugene Allen, um homem negro que aconselhou presidentes americanos por 34 anos. No percurso, Michelle vê vários outros funcionários negros e quadros sobre a história estadunidense na qual os negros são retratados como escória da sociedade. Esse simples ato de passear pela Casa Branca mostra o percurso histórico representado por Michelle (única primeira-dama negra dos EUA).

Betty Ford, interpretada com excelência por Michelle Pfeiffer, estava feliz com a aproximação do fim da carreira política do segundo marido, Gerald Ford (Aaron Eckhart). Ela não esperava a reviravolta provocada pela renúncia do vice Spiro Agnew e depois do presidente Richard Nixon, em um intervalo de poucos meses. Deslocada e sem muita noção do que deveria fazer, a série vai acompanhar Betty se lapidando.

Já Eleanor Roosevelt (Gillian Anderson) veio de uma família rica. Conheceu seu marido, Franklin D. Roosevelt (Kiefer Sutherland) ainda jovem. Roosevelt chegou à presidência, depois de ser acometido de uma doença que paralisou suas pernas. Franklin foi presidente durante um dos períodos mais duros dos Estados Unidos. Eleanor ficou conhecida por suas ações em benefício dos pobres e por compartilhar suas opiniões sobre os direitos humanos.

THE FIRST LADY Gillian Anderson as Eleanor Roosevelt

Como toda série histórica, The First Lady tenta desenvolver o desejo de independência através de mulheres fortes. Na trama, vemos que o machismo continua presente em diferentes facetas. Por vivermos em uma sociedade criada no patriarcado, a história dessas mulheres, e de várias outras, são relembradas através dos atos de seus maridos. A série tenta quebrar esse feito e vemos as intenções das primeiras-damas e como elas eram únicas e movidas por um mesmo objetivo: equidade.

A série possui várias lacunas em aberto e mesmo que saiba o que quer mostrar na teoria, na prática isso não ocorre com tanto deleite. Uma narrativa sobre citações de classe de história e mudanças caóticas na linha do tempo tornam uma trama com pouca fluidez. Há uma dificuldade de narrar eventos reais, principalmente a história mais recente retratada no terceiro arco. O retrato de Sherald de 2018 é a iconografia clássica de Obama – imponente, mas convidativo, intelectual e um equilíbrio delicado. Esse equilíbrio está fora de The First Lady; como qualquer espectador sabe, não é Michelle Obama. A suspensão da descrença é difícil quando o personagem é uma figura bem conhecida, e publicamente vibrante. É um ajuste estranho desde o início e talvez o melhor exemplo de uma performance da história recente que é simplesmente muito cedo de ser feito.

Outra questão a ser ressaltada é a intenção do programa de oferecer uma “reformulação reveladora da liderança estadunidense” através das lentes das três primeiras-damas, para lançar suas lutas e triunfos pessoais – o pensamento independente de Roosevelt em um mundo masculino, a franqueza inovadora de Ford sobre vícios e câncer; a resiliência de Obama diante do racismo persistente – como âncoras históricas. Há uma intenção absolutamente nobre aqui de recentralizar mulheres, muitas vezes empurradas para as margens da história, mesmo com imenso privilégio. Mas a intenção nobre em nome das mulheres, vem através de diálogos constrangedores, ritmo confuso e performances deformadas.

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As histórias vão e voltam – três linhas do tempo diferentes, cada uma com seus próprios flashbacks – abordando namoros, infância, tensões em casa e triunfos com o público votante. The First Lady narra as muitas maneiras pelas quais essas esposas foram essenciais para o sucesso de seus maridos: as mulheres se uniram em torno de Betty Ford depois que ela veio a público com seu diagnóstico de câncer de mama em 1974; multidões em adoração cumprimentam Michelle na campanha em 2008, depois que a equipe de Barack disse que ele tinha um “problema de relacionamento”; Eleanor fornece uma lista de possíveis mulheres nomeadas para FDR, que finalmente nomeou uma mulher para o cargo de Secretária do Trabalho.

A série, criada por Aaron Cooley e com produção executiva de Viola Davis, alterna entre novela histórica e melodrama. Lembranças de uma versão fraca da minissérie Mrs America, disponível na Star+, sobre a luta dos anos 1970 pela emenda de direitos iguais que também abrangeu várias linhas do tempo e um elenco feminino de estrelas ao adicionar nova profundidade a figuras famosas da vida real.

Um dos pontos positivos em The First Lady, é a atenção dada a Betty Ford, a menos conhecida e menos ambiciosa politicamente das três. Embora cercado por sublinhados ousados ​​de temas, subentende-se que Betty foi uma mulher com uma personalidade real. A Ford de Pfeiffer é vulnerável, falha e fascinante. Não calculada para ser uma figura pública, embora essa performance esteja espalhada entre flashbacks e dinâmicas potencialmente complexas – sua amizade com sua governanta negra, Clara, por exemplo – reduzida a algumas conversas. O elenco é de peso e impressiona na caracterização de suas protagonistas. Michelle de Viola Davis é a que possui uma atuação caricata. Uma tentativa falha de imitar o jeito que Obama fala e que atrapalha alguns diálogos importantes. Com uma temática política leve, não temos tanto aprofundamento do governo de cada época, até porque o foco é a narrativa das relações de Michelle, Betty e Eleanor.

“Você sabia no que estava se metendo”, observa Gerald Ford, informando a Betty que ela está prestes a se tornar primeira-dama após a renúncia de Nixon. É um tema comum na vida dessas mulheres: você se casou com um político, o que você esperava? Suponho que, como telespectadores, poderíamos dizer a mesma coisa para nós mesmos: estrelas de primeira linha interpretando pessoas importantes, uma rede faminta pelo Emmy, uma indústria de TV que parece valorizar mais o “verdadeiro” do que a “história”. Esse é o padrão para os dez episódios de The First Lady.  Uma tentativa em dar a cada uma dessas mulheres reais a chance de preencher uma série inteira com suas dualidades, tensões e complicações.

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Destaque

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