sáb, 9 dezembro 2023

Crítica | Foe

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Saoirse Ronan (Little Women) e Paul Mescal (Aftersun) são dois nomes populares entre a nova geração de atores, ela já coleciona três indicações ao Oscar de melhor atriz principal e uma de melhor coadjuvante, totalizando quatro nomeações à estatueta dourada, ele, por sua vez, conquistou sua primeira indicação ano passado, no emocionante papel de Calum, além de contar com uma indicação ao Emmy por seu trabalho em Normal People. Ambos possuem, ainda, uma crescente fanbase, principalmente nas redes sociais, não à toa, quando foi anunciado um projeto cinematográfico em que esses dois queridinhos da indústria interpretariam marido e mulher, num filme dirigido por Garth Davis (Lion – que também recebeu reconhecimento no Oscar, acumulando 6 indicações), houve bastante burburinho na bolha cinéfila. A despeito das expectativas elevadas, o filme debutou com 0% de aprovação no site do rotten tomatoes (tendo posteriormente subido para 23%) – frisa-se que o RT não deve ser utilizado como um padrão absoluto de qualidade e serve apenas para sentir como está sendo a recepção da obra pela crítica especializada e pelo público geral, e independente de qualquer agregador de notas, um filme deve ser visto de coração aberto para que o espectador forme sua própria opinião.

As estrelas envolvidas somadas às notas baixíssimas me deixaram, no mínimo, curiosa para conferir a produção, que se trata de uma ficção científica, passada num futuro próximo, em que o mundo está praticamente inabitável, motivo pelo qual a humanidade está tentando habitar novos planetas, nesse contexto, o casal principal recebe a notícia de que Junior teria sido selecionado pelo governo americano para uma missão de colonização interplanetária e sua esposa, Henrieta, seria presenteada com um “robô” de carne e osso hiper-realista, que seria visualmente idêntico ao seu marido e receberia suas memórias, para fazer companhia à garota na ausência de seu cônjuge. A partir dessa premissa, o longa tenta trabalhar questões envolvendo sentimentos humanos e nossa interação com a inteligência artificial, enquanto pincela comentários sobre a destruição do planeta pelo homem.

A premissa, por si só, não traz nenhum tema, especificamente, novo, apesar de abordar assuntos urgentes, o que poderia ter sido feito de forma criativa para gerar um projeto provocante e atual. Contudo, acaba por ser mais um caso em que a “mensagem importante” é suficiente para seu realizador, que não se mostra nada interessado em desenvolver o restante do filme. Cinema – e arte em geral – não podem se contentar apenas em fazer uma crítica social, sob pena de perder sua função essencialmente artística. Em outras palavras, falar sobre o assunto do momento não torna uma produção automaticamente boa ou relevante, é preciso que o conjunto da obra seja bem-feito e em Foe isso não ocorre.

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divulgação

A começar pela montagem completamente sem noção de ritmo que faz com que a uma hora e cinquenta de duração pareça interminável. O filme dá voltas e mais voltas em torno do mesmo assunto, sem que as discussões nunca progridam, a trama não sai do lugar até os vinte minutos finais, quando já é absolutamente impossível estar minimamente interessado, altura em que o plot twist mais previsível e aborrecido do ano é revelado, causando um sentimento que só pode ser descrito como uma mistura de nada com coisa nenhuma. Nesse interim, para preencher o tempo, o casal vivencia situações episódicas com poucas consequências narrativas que não avançam a história e tampouco enriquecem a obra. Tudo isso intercalado por cenas dos dois em paisagens bonitas – que isoladamente não configuram uma boa fotografia – proferindo frases supostamente profundas que possivelmente fariam sucesso no Tumblr em 2012. Durante o último ato, o filme tem um novo final a cada cinco minutos, e luta para conseguir entregar um desfecho até que, enfim, acaba sem mais nem menos.

Os atores, que merecem toda fama conquistada e já provaram mais de uma vez o potencial que possuem, são mal aproveitados por um diretor que não sabe o que fazer com eles e um roteiro que não os merece. Ronan e Mescal dão tudo de si e tentam ao máximo salvar um projeto condenado, e apesar de serem excelentes em seu ofício, não há material suficiente para que trabalhem.

O filme é, em síntese, um pastiche de Terrence Malick sem a autoralidade desse diretor, com nada para oferecer além dos nomes creditados no elenco e uma sinopse recheada de temas instigantes que serão mal explorados.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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