Eu adoro quando me apresentam com um longa-metragem com menos de duas horas de duração. Eles têm a tendência de ser concisos e efetivos, se comprometendo a não desperdiçar tempo.
O caso de Fogo Fátuo, porém, não é indicativo de uma narrativa empacotada ou purificada. Sua duração de apenas uma hora é resultado do que parece ser uma simples falta de recursos para contar sua história por completo. É uma narrativa tão esburacada que você se pergunta se, na verdade, essa foi sempre a intenção dos desenvolvedores. Se foi, então pior ainda.
Fogo Fátuo é um musical, ou seja, é de se esperar uma obra que se expressa de maneira mais artística e abstrata ao invés de um plot lógico. Porém, existe um plot (não dos melhores) e existe também uma progressão neste plot.
Alfredo (Joel Branco) é o jovem príncipe de Portugal preocupado com o cenário ambiental. As queimas florestais em seu país o abalam tanto que ele se sente compelido a se tornar bombeiro. Apesar das súplicas dos pais e do deboche dos outros bombeiros, ele se segue a frente com sua decisão e se junta à equipe dos bombeiros.
Uma vez lá, Afolfredo logo se apaixona por Afonso, seu mentor de equipe. A história, que à princípio parecia se comprometer com o a luta a favor do ambiente, muda de foco e passa a ser completamente sobre o casal. A conexão dos dois é expressa de forma interessante através da coreografia musical no início do romance entre ambos. Nada maravilhoso, mas também não é péssimo. Medíocre.
Temperado com pequenas doses de humor e imagens homoeróticas (e pouquíssimas cenas musicais), Fogo Fátuo parte de cena em cena com a utilização de diálogos abstratos. Um clássico caso de um roteiro onde os personagens não articulam conversas, mas pronunciam palavras (supostamente) poéticas, conectadas aos temas gerais da obra.
O relacionamento de ambos progride, de forma imperceptível e enfadonha. Por mais que o pontapé inicial (a decisão de Alfredo virar bombeiro) tivesse me confundido, ao concluir-se o filme deixa claro sua proposta. Se não fossem pelas performances dos atores, as coreografias agradáveis ou a fotografia tolerável do filme, esses meros sessenta minutos de duração passariam muito mais devagar.
A história, na verdade, se conclui tão rápido, que me coloca a suspeita de que existiu, outrora, a intenção de explorar mais afundo a dinâmica entre Alfredo e Afonso. Tanto narrativa quanto tematicamente.
Porém, o roteiro é tão mal trabalhado e tão convencido no suposto poder das palavras que eu não duvido que o plano do realizador (João Pedro Rodrigues) sempre tenha sido esse. No fim, o que nos sobra é um breve comentário superficial sobre raça, a responsabilidade dos poderosos para com o meio-ambiente, sexualidade e a importância da amizade.