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Crítica | From Zero – Linkin Park

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Após sete anos de silêncio, um período marcado pela dor de uma perda que ainda parece não ter cicatrizado por completo, o Linkin Park retorna com um novo álbum intitulado From Zero. O anúncio desse retorno abalou o mundo da música, provocando reações intensas e, por vezes, divididas. De um lado, estão os fãs saudosistas, cuja ferida pela morte do eterno Chester Bennington permanece aberta, carregando a memória de sua voz inconfundível e presença magnética. Do outro, estão aqueles dispostos a abraçar a nova formação, curiosos e esperançosos em descobrir o que Emily Armstrong, agora no vocal, pode trazer a uma banda que redefiniu o nu-metal e marcou gerações.

Esse retorno não é apenas um marco musical; é uma travessia emocional para os membros da banda e para milhões de fãs ao redor do mundo. From Zero parece sugerir um recomeço, uma tentativa de transformar o luto em criação e honrar o legado de Chester enquanto buscam novos caminhos. É um momento de reflexão coletiva, onde a música se torna novamente o ponto de encontro entre passado, presente e futuro.

From Zero desperta algo singular: uma obra que, ao mesmo tempo em que explora novas atmosferas, presta uma homenagem ao cenário do rock e, acima de tudo, à própria trajetória da banda. Mike Shinoda surge em sua melhor forma – muito participativo -, com faixas que resgatam o vigor característico dos álbuns icônicos Hybrid Theory e Meteora, entregando rimas afiadas e versos impactantes que remetem à essência visceral do Linkin Park.

O contexto em que a banda se insere também é fascinante. Nos anos 2000, o rock viveu uma revolução criativa, marcada pela fusão de estilos e pela ousadia de romper barreiras musicais. Foi nesse caldo efervescente que o Linkin Park se destacou, mesclando o peso do rock com a intensidade do rap, a sofisticação da música eletrônica e a força rítmica da percussão. Poucas bandas conseguiram traduzir essa diversidade com tanta maestria, e From Zero parece reafirmar a posição do Linkin Park como um dos maiores representantes dessa união musical que redefiniu uma era.

No texto que escrevi em setembro sobre o retorno da banda, destaquei a importância de darmos uma — e muitas outras — chances à nova vocalista, Emily Armstrong. Desde o início, sua presença vocal se mostrou impressionante, carregada de uma intensidade emocional que dialoga perfeitamente com a essência do Linkin Park. Sua voz não apenas preenche o espaço deixado por Chester Bennington, mas também traz uma nova dimensão ao som da banda, respeitando o legado enquanto aponta para um futuro promissor.

Emily demonstrou que está à altura do desafio. Ainda que seja difícil, talvez impossível, comparar qualquer artista ao que Chester representou — tanto para a música quanto para os fãs —, ela conseguiu oferecer à banda algo raro: um recomeço que carrega o sabor de um passado brilhante, mas com a promessa de novas histórias a serem contadas.

From Zero apresenta um total de 10 faixas, que juntas oferecem 31 minutos de uma experiência musical intensa e imersiva. Aqui, o Linkin Park conseguiu equilibrar com maestria uma homenagem às suas próprias raízes, remetendo ao espírito vibrante do rock dos anos 2000, enquanto também se reinventa, explorando novas sonoridades e abordagens. O álbum funciona quase como uma jornada de autodescoberta para a banda, resgatando elementos que definiram sua identidade — os riffs marcantes e a as texturas eletrônicas —, mas também ousando com faixas que trazem uma perspectiva renovada, como o pop.

No início do álbum, somos recebidos por uma introdução breve, mas significativa, de 22 segundos, na qual Emily e Mike discutem o nome do álbum. Esse momento, embora curto, carrega uma carga simbólica poderosa. A conversa entre eles não só contextualiza o título From Zero, mas também reflete as intenções de Mike Shinoda em reiniciar, em recomeçar a partir de uma nova perspectiva. Em um espaço de tempo tão reduzido, a introdução estabelece com clareza o tom do álbum, deixando evidente o desejo de reconstruir, de criar algo novo, sem esquecer o que veio antes. É uma abertura que prepara o ouvinte para o que está por vir, com a promessa de transformação e renovação.

Logo em seguida, mergulhamos na faixa que marca o ponto de partida desse novo capítulo: The Emptiness Machine. A intensidade de T.E.M. é quase palpável, como se a banda quisesse anunciar de forma grandiosa: “Estamos de volta. Estejam prontos.” A música é imersiva, criando uma atmosfera que não apenas prende o ouvinte, mas também o transporta para o universo emocional que o álbum constrói desde seus primeiros acordes. É uma introdução musical poderosa, que deixa claro o peso desse recomeço.

A terceira faixa, Cut the Bridge — segunda música propriamente dita —, despertou em mim uma reação curiosa. À primeira audição, soou um tanto genérica, especialmente em termos de musicalidade, remetendo a um padrão mais comum nas músicas populares da atualidade. No entanto, conforme a faixa avança, ela cresce significativamente, revelando ideias sonoras interessantes. Os últimos dois minutos são especialmente marcantes, e o minuto final, com Emily assumindo o protagonismo, é onde a música verdadeiramente brilha.

A quarta faixa, Heavy is the Crown, foi a segunda música lançada pela banda, e sua chegada carrega um peso simbólico inegável. A letra é intensa, mas o que realmente se destaca é a forma como ela se apresenta. Sendo uma das primeiras amostras da nova fase do Linkin Park, a música assume um papel quase de manifesto para Emily Armstrong. Ela tem 15 segundos poderosíssimos, com um grito avassalador,  que não apenas evidencia seu poder vocal, mas também reafirmam que ela merece estar ali. É um ato de coragem e responsabilidade, ao assumir uma coroa tão pesada, mas também de rebeldia contra aqueles que a subestimaram.

Na sequência, temos Over Each Other, a quinta faixa do álbum e a terceira lançada antecipadamente. Embora sua abordagem possa surpreender — e talvez até assustar — fãs que esperavam algo mais intenso, ela tem um charme próprio. A música se destaca pelo melodrama genuíno de sua letra, que coloca o ouvinte em uma posição profundamente emocional. É uma narrativa carregada de vulnerabilidade, amplificada por uma construção musical que ressoa como batidas de um coração agoniado.

Casualty surge como uma das minhas favoritas e ocupa a sexta posição no álbum. Essa faixa conseguiu me transportar no tempo, evocando uma sensação tão vívida quanto a cena de Ratatouille em que Anton Ego é levado de volta à infância ao provar o prato que remete à sua mãe. Ao ouvir Casualty, senti-me de volta ao momento em que descobri o rock pela primeira vez, quando o som do Linkin Park entrou na minha vida. Foi uma experiência simultaneamente nova e nostálgica, carregada da verdadeira essência do rock — sua potência sonora, cultural e emocional. É uma faixa que encapsula tudo o que torna o gênero tão inesquecível.

Em seguida, temos Overflow, a sétima faixa. Particularmente, considero Overflow uma das mais diferentes do álbum, ao lado de Over Each Other. Aqui, a banda explora uma sonoridade distinta, abraçando elementos do pop moderno. A melodia é cativante, acompanhada de uma letra empoderada e um apelo emocional que captura o ouvinte instantaneamente. Os beats marcantes de Overflow criam uma atmosfera quase transcendental, como se a faixa nos transportasse para outro plano. A produção se destaca com o uso habilidoso de vocais, autotune e harmonias, conferindo uma textura única e moderna ao som da banda, sem perder a emoção que sempre foi a marca registrada.

A oitava faixa, Two Faced, para mim, merece o título de melhor música deste tão aguardado retorno do Linkin Park. É uma experiência corporal que parece atravessar o corpo e se alojar diretamente nos sentidos. A música tem a capacidade de alterar o ritmo do seu coração, como se cada batida estivesse sincronizada com o instrumental explosivo e os vocais intensos, que beiram o catártico. Two Faced é pura adrenalina, que te arremessa para alturas inimagináveis. É como se a música pegasse suas emoções e as amplificasse até o limite, criando uma sensação quase sobre-humana. Ouvindo-a, você se sente invencível, tomado por uma energia arrebatadora, como se pudesse conquistar o mundo inteiro. A experiência é tão vibrante que chega a lembrar aquele pré-treino carregado de cafeína, mas em forma de som.

Stained – nona faixa – é uma combinação brilhante de elementos do pop moderno com uma pegada de rock ‘n’ roll dos anos 2000, uma assinatura inconfundível do Linkin Park. A música se destaca como um dos melhores momentos de colaboração entre Emily e Mike, rivalizando apenas com a energia explosiva de Two Faced. A química entre os dois é apaixonante, com vocais e instrumentação que equilibram nostalgia e inovação.

IGYEIH (abreviação de I Gave You Everything I Had) é uma faixa que exala intensidade e convicção. A música é quase como uma declaração direta de Emily, reafirmando sua posição na banda e mostrando que ela deu tudo de si neste álbum. É uma performance carregada de emoção e autoconfiança, quase como se ela perguntasse ao ouvinte: “O que mais você precisa?” Se as oito músicas anteriores não foram suficientes para provar seu lugar, IGYEIH definitivamente é.

Por fim, Good Things Go fecha o álbum de forma memorável, sendo, sem dúvida, a faixa mais emotiva de todo o trabalho. Sua letra captura o ouvinte em uma teia de sentimentos que torna impossível não se emocionar. É uma despedida agridoce, quase como um abraço final que sela a conexão criada ao longo do álbum, deixando uma marca duradoura no coração de quem ouve.

No geral, From Zero é uma obra absoluta, marcante e imersiva, capaz de cativar desde os primeiros acordes até a última nota. Não é à toa que se tornou o álbum mais vendido de 2024 e, para muitos, incluindo a mim, um dos favoritos da história do Linkin Park. Com uma sonoridade que equilibra perfeitamente o respeito pelo legado da banda e a ousadia de explorar novos caminhos, From Zero reafirma o poder transformador do grupo e a força de sua reinvenção. Linkin Park, de fato, retornou com tudo, e o álbum se consagra como um marco musical. Sejam muito bem-vindos de volta.

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ANÁLISE GERAL
NOTA
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: o cinema. Sou um amante fervoroso da sétima arte, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes. Minha devoção? Cinema de gênero, onde me perco e me reencontro a cada nova obra.
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