O jovem ator britânico Dev Patel continua produzindo bastante e está de volta na direção para seu primeiro longa-metragem com um orçamento curto e uma história de ação que balança entre a obviedade e clichês do gênero e uma tentativa de ser profundo com forte crítica social.
Dirigido, escrito e estrelado por Dev Patel, ‘Fúria Primitiva’ narra a vida de Kid, um homem com várias questões do seu passado em aberto e que age para buscar vingança.
Não há muita diferença entre ‘Fúria Primitiva’ e os filmes mais descartáveis no gênero, principalmente se pensarmos nos filmes de ação que tem em streamings. Tentativa de construir um impacto a partir do passado do protagonista, cenas recheadas de iluminação bem “balada anos 2010” e porradaria e sangue rolando ao som de alguma música mais eletrônica.
Porém, enquanto meu papel como crítico, não limito essa estética somente a filmes ruins. Muitos podem ter se lembrado de ‘John Wick’, o que é uma comparação obviamente não justa com filmes como o de Dev Patel. A diferença principal nesses casos é a construção do argumento. No caso de ‘Fúria Primitiva’, sua decupagem interfere muito nisso.
Somos bombardeados com imagens “bonitas” e uma montagem frenética, que vai tentando uma conexão com o espectador. Não há nenhuma profundidade naquelas imagens. A profundidade que o filme TANTO fica procurando está justamente no passado do protagonista, sua conexão com a religião, contexto social e a relação com sua mãe. A decupagem, a divisão de planos do filme, decide nos mostrar isso apenas na segunda metade da rodagem.
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Até chegar esse momento, parece apenas que você está assistindo uma tentativa de cópia de ‘John Wick’, mas feita na Índia. Aliás, segue a cartilha de todo mundo hollywoodiano que tem alguma cena em países do Terceiro Mundo: aquela luz amarela com muita poeira, críticas sociais e políticas (bem vagas, lógico).
Quando o filme busca falar de religião, conta a história do protagonista com sua mãe, já se passaram dezenas de minutos maçantes. Os melhores momentos acabam sendo quando o filme não usa essa fórmula e explora esses lados próprios.
A lamentação fica com o grande potencial do filme, tanto mostrado pelo próprio filme quanto pelo extra-obra. Por exemplo, este ano tem eleições na Índia e todo esse tema político é tratado de forma bem ambígua, aquela linguagem liberal que conhecemos tanto no Brasil também.
‘Fúria Primitiva’ acaba tendo um grande potencial, com um contexto externo muito favorável para elevar a experiência do filme. Mas o diretor, em seu longa de estreia, prefere seguir uma cartilha de clichês do gênero que o público já está mais que adaptado.