sex, 19 abril 2024

Crítica | Garota Inflamável

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Saúde mental é uma pauta em relevância nos dias de hoje, as próximas gerações caminham cada vez mais no sentido de entender como os traumas afetam não só um indivíduo isolado mas também as pessoas ao seu redor, principalmente sua família. Situações problemáticas em casa e expectativas herdadas podem trazer dificuldades para o desenvolvimento dos filhos e não faltam exemplos recentes no audiovisual para a abordagem destas questões. O que nos leva a Garota Inflamável, filme da diretora italiana baseada em Berlim, Elisa Mishto, que busca construir uma narrativa sobre expectativas sociais associadas à figura da mulher e a decadência de uma geração ociosa.

A trama segue Julie, uma herdeira cujos pais já faleceram mas que carrega um trauma que não consegue lidar o faz que suas ações se tornem cada vez mais autodestrutivas ao ponto de preferir se internar em instituições psiquiátricas mesmo não possuindo um diagnóstico claro de qualquer distúrbio que seja. A vida de Julie começa a se desestruturar ainda mais ao descobrir que gastou toda sua herança e que terá agora que lidar com o mundo real como de fato é tudo se intensifica ao conhecer a enfermeira Agnes que fica responsável por seus cuidados. 

O filme se desenvolve de maneira bem objetiva ao focar somente no impacto quase imediato causado pelo encontro das duas personagens. Agnes que é casada e possui uma filha pequena com a qual não sabe lidar vê na espontaneidade de Julie uma válvula de escape. Por sua vez, Julie sente uma necessidade de orientação e vê em Agnes uma figura de segurança. A mensagem por trás dessa interação, porém, parece se perder ao longo da história. Os primeiros trinta minutos da trama (que já representam um terço do filme) servem apenas para estabelecer os elementos fundamentais para compreender Julie enquanto pessoa e os outros dois terços do filme que deveriam estabelecer o foco temático da narrativa fazem tudo de maneira tão apressada e superficial que ao fim a história pode se resumir simplesmente à sua sinopse. Não existem muitas camadas acrescentadas e as que existem mal causam impacto.

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A personagem Julie possui uma característica marcante no longa que é a constante utilização de luvas de lavar louça, sem nunca retirá-las e é estabelecido logo no começo do filme que esse hábito é mais uma tentativa da personagem de construir essa imagem ficcional e artificial de loucura que justifique sua desconexão com a sociedade. Essa desconexão que vem a partir dos acontecimentos que envolvem seus pais poderia render momentos potentes caso houvesse uma abordagem mais elaborada de direção e roteiro sobre a condição da personagem mas no fim tudo relacionado a esse desenvolvimento parece tão artificial quanto a imagem que Julie cria para si e isso está muito relacionado a uma questão de falta de sutileza ao tratar de assuntos de alta sensibilidade. O filme parece querer esfregar a mensagem na cara do espectador e esquece de fazer com que a história seja relacionável. Por outro lado, a linha narrativa envolvendo a relação de Agnes com a maternidade tem seus pontos altos mas parece pouco ao final do longa, todas as transformações acontecem de maneira muito imediata, não existe tempo para sentir os ocorridos.

Garota Inflamável falha em contar uma história marcante por não se permitir entrar a fundo nos assuntos que quer discutir. Existem temáticas pertinentes e mesmo o filme sendo relativamente curto seria possível fazer mais com essas mesmas temáticas dentro dessa duração caso houvesse uma organização melhor distribuída dos acontecimentos. O que fica para o espectador é apenas a ideia de uma história com potencial.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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