“O garoto dos céus” é um filme que foge completamente dos padrões impostos pelo mainstream atual, de forma estranhamente positiva.
Adam é um jovem de uma família humilde de pescadores, que ganha uma bolsa para a universidade de maior prestígio do mundo muçulmano, e embarca em uma viagem para seguir os seus sonhos. Infelizmente, nem tudo ocorre bem quando o Grande Imã morre na frente de seus alunos no primeiro dia de aula, e o conselho entra na missão de escolher o próximo Grande Imã. O que Adam não esperava é que seu futuro seria bruscamente mudado por esse fato.
Não existem palavras melhores para descrever o roteiro do filme do que envolvente e responsável. Envolvente por conseguir através do suspense, do mistério e dos elementos dramáticos que tornaram a história como digna da premiação de “ Melhor Roteiro” no Cannes, trazer uma história com real valor cultural, e aí entra a responsabilidade.
Um filme tão rico sobre uma cultura tão estereotipada no ocidente precisava trazer consigo a responsabilidade de trazer em cada recurso uma visão responsável e fiel às suas raízes, e isso esta obra conclui com maestria. A cultura e religião muçulmanas são retratadas de forma fiel e são friamente ligadas às questões políticas e diplomáticas durante todo o desenvolvimento do filme. Começando pela morte do Grande Imã, que traz uma grande repercussão de nível nacional por seu impacto não só religioso ou dentro da faculdade, mas como figura pública do país todo, e como esse acontecimento vai destrinchando tantos acontecimentos secundários que são trazidos com o decorrer do filme e trazendo uma riqueza inexplicável, uma aula necessária de cultura, religião e política e uma contextualização perfeita.
Infelizmente todos esses elementos são muito ricos, e é impossível lidar com tanta informação em tão pouco tempo – mesmo sendo um filme de quase duas horas de duração. Alguns elementos acabam passando despercebidos, ou alguns momentos ganham menos atenção do que o merecido. Por se passar em uma ambientalização um tanto quanto desconhecida, quando você começa a entender algum aspecto importante ou outro, o filme já acabou. Isso pode deixar o telespectador perdido em mais de um momento da história por não explicar por menores todas as suas informações, mas ao fim todas as peças se encaixam, até para quem não tem nenhum tipo de conhecimento prévio sobre o assunto.
Por outro lado, tanta riqueza traz consigo um mundo de possibilidades, um filme que ou se ama, ou se odeia. O seu ponto forte é nos tirar da zona de conforto. Não é um filme para se assistir descompromissadamente, mas com uma visão e uma mente aberta.
“Garoto dos céus” é um suspense para quem quer expandir seus horizontes enquanto acompanha uma história envolvente e cheia de drama.