qui, 28 março 2024

Crítica | Gato de Botas 2: O Último Pedido

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Estamos no que parece ser um momento de transição para a produção de animações no ocidente. Após o impacto de Homem-Aranha no Aranhaverso (2018) é possível observar um movimento em favor de usar do potencial expressivo da mídia em detrimento de uma busca pelo fotorrealismo enquanto escolha estética. Se tratando da DreamWorks, já é um efeito visível no filme Os Caras Malvados (2022) e agora com o lançamento de um novo filme do Gato de Botas essa tendência se solidifica. 

Gato de Botas 2: O Último Pedido chega como surpresa 11 anos após um primeiro filme que não causou forte impressão, o interessante, porém, é que esse intervalo de tempo fez muito bem ao personagem. No filme somos reintroduzidos para este mundo de contos de fadas constantemente subvertidos, e agora até as caracterizações subvertidas propostas pela própria franquia passam por análise. Se antes a macheza e irreverência do gato eram suas principais características, agora surgem como traços a serem retrabalhados.

O filme nos apresenta um Gato desfrutando do melhor em suas aventuras, o começo é ainda mais forte devido à direção e estilo da animação que se aproveita muito de sequências dinâmicas e cheias de energia para reintroduzir nosso herói da melhor forma possível. O Gato de Botas nunca pareceu tão capaz e sua natureza destemida se faz totalmente justificável nessa introdução, mas é a partir da ruptura dessas ideias iniciais que o filme vai se desenvolver.

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A história se desenrola a partir do momento em que nosso protagonista se depara com sua própria mortalidade. Se, dentro da crença popular, os gatos têm 9 vidas, o Gato descobre estar em sua última. Resta a ele então partir em uma jornada de se entender enquanto indivíduo para além de suas demonstrações de heroísmo. O filme estabelece bem o que está em jogo ao apresentar a figura do Lobo, um caçador de recompensas que demonstra ser muito mais habilidoso em combate que nosso protagonista. Uma vez que o fim é algo que pode ser vislumbrado, o medo surge no coração do protagonista e essa temática é bem desenvolvida ao longo da trama(apesar de ser escanteada em seu segundo terço).

Ainda que o filme, em geral, seja bem organizado tematicamente e brilhe quando se solta na ação(apesar de isso acontecer poucas vezes), existe uma oscilação de ritmo e constantes diálogos expositivos que acabam atrapalhando a diversão. O desenvolvimento do protagonista é muito atrelado a sua conexão com Kitty Pata-mansa, e a relação de ambos funciona bem, assim como toda a subtrama envolvendo Cachinhos Dourados (outra interessada no desejo da Estrela) e sua família disfuncional, mas existe uma discrepância de tom quando lidamos com outros personagens novos apresentados aqui. Perrito, o cão que serve como alívio cômico, e que é fofo sim, mas acabou não encaixando tão bem com o tom do filme que talvez brilhasse mais ao deixar nas mãos do protagonista essas mudanças de chave. Outro personagem que chega apenas como ferramenta de roteiro é João Trombeta, antagonista que mais representa ameaça imediata ao longo do filme mas que ainda assim não passa de uma grande caricatura do mal pelo mal. 

É triste ver que parece existir uma insegurança em lidar com questões maduras dentro do filme. O filme, por vezes, parece estar tentando dialogar com diversos públicos, mas sem encontrar uma unidade narrativa. A impressão final, porém, ainda é bem positiva. 

Apesar de tudo, Gato de Botas 2: O Último Pedido é um frescor necessário. Se este universo parecia já ter dado o que podia, aqui vemos que resta muito potencial. Ainda falta encontrar o equilíbrio entre uma história concisa e um estilo que a potencialize, mas o futuro parece animador.

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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