ter, 5 novembro 2024

Crítica | Glass Onion: Um Mistério Knives Out

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O fim de 2022 tem sido uma época especial para os amantes de mistérios. Após o simpático ”Veja como eles correm”, dirigido por Tom George, estrear no Star+, a Netflix lança Glass Onion, a continuação do aclamado whodunit de Rian Johnson, Knives Out. Seguindo o mesmo sabor e acidez eat the rich presente no primeiro filme, Johnson traz novamente Benoit Blanc em mais um mistério.

Daniel Craig está mais confortável do que nunca na pele de Blanc neste segundo longa, sua diversão com o personagem é contagiante a ponto do espectador abrir um sorriso a cada linha de diálogo do detetive com sotaque caipira, é inegável que Craig solidificou o personagem como uma das figuras icônicas da cultura pop nos últimos anos. Além disso, temos uma sutil confirmação que Blanc está em um relacionamento homoafetivo, o que torna sua caracterização muito mais charmosa.

Seguindo Craig, Glass Onion conta com um elenco de peso. Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr, Jessica Henwick, Madelyn Cline com Kate Hudson e Dave Bautista. Cada personagem com uma profundidade diferente, Johnson brinca com o grupo trazendo arquétipos do mundo real para sua história, desde youtubers misóginos até figuras políticas que são o completo oposto de sua persona pública. 

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Arquétipos esses que demonstram uma maestria de caracterização, nos primeiros momentos do filme somos transportados de volta para Março 2020, o auge de pânico da pandemia e isolamento social. Através desse cenário Johnson nos introduz a cada um dos personagens que realçam seu comportamento em relação ao isolamento, com isso, vemos personagens que usam máscaras que literalmente não servem para nada (uma piscadela maravilhosa para aqueles que acompanham fofocas de celebridades) e também personagens que sequer se dão o trabalho de por uma. 

Glass Onion segue o padrão já mencionado no início desse texto de eat the rich. A direção não esconde o seu desprezo justificável para com a classe dominante no capitalismo do século XXI. Em Knives Out vemos uma família de herdeiros racistas que se escondem na fachada de boas pessoas, no segundo filme a sátira ácida de Johnson vai além e entrega singulares pérolas com seus personagens (se fôssemos citar cada traço genial na sátira presente esse texto se tornaria longo demais a ponto de que é muito mais prazeroso pegar  próprio filme tais referências). Com apenas algumas exceções, todos do elenco são seres humanos desprezíveis que a narrativa nos convida a rir da ridicularidade e mediocridade deles, trazendo no fim uma conclusão prazerosa ao ver os ricos (ou pelo menos um em específico) serem obrigados a confrontar sua própria mediocridade.

Seguindo para a conclusão do filme, é quase de deixar sem palavras o quanto Rian Johnson consegue brincar com a expectativa do público. Desde a primeira obra o diretor nos entrega uma subversão do gênero de whodunit, nos deixando atentos para o que virá na sequência. E como o próprio título e texto do filme apontam, a surpresa do mistério está no quão simples o caso pode ser: A Glass Onion (cebola de vidro) sendo um objeto que aparenta ser tão denso em sua natureza porém podemos ver claramente o seu centro à olho nu. 

A quebra de expectativa de Glass Onion se dá por nós, assim como Blanc, superestimarmos a inteligência de seu vilão, fazendo o caso ser justamente o que esperamos. Um filme que apresenta tamanho desprezo sincero pela classe rica só mantém sua coerência em apontar em como o CEO golpista não consegue articular um plano minimamente complexo. 

Glass Onion é uma sequência que entrega ao espectador duas horas de risadas e puro deleite ácido ao criar um mistério rico em caracterizações afiadas. Daniel Craig junta Benoit Blanc ao seu James Bond e se solidifica como um personagem icônico da Cultura Pop deste século, sendo uma figura prazerosa de se acompanhar e que entrega um conforto em esperar mais casos a serem investigados.

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