A diretora Mimi Cave estreou na direção de longas metragens com o filme Fresh de 2022, uma produção de terror direto para streaming, que recebeu bastante elogios em razão da condução do plot twist e de algumas escolhas estéticas da diretora iniciante. Agora, Cave retorna com Holland, outro filme direto para streaming, dessa vez um thriller/mistério sobre uma mulher vivendo uma vida “perfeita” em uma cidade idílica, até começar a suspeitar de seu marido.
Porém, ao contrário de Fresh, Cave não consegue desenvolver bons momentos de suspense em Holland, o mistério não é interessante o suficiente e a revelação final é ainda mais morna. A despeito de um elenco estrelado e uma estética chamativa, a diretora não leva sua história a lugar nenhum, depois de mais de uma hora de filme, parece que ainda estamos no mesmo ponto, o que culmina em uma resolução apressada das coisas nos vinte minutos finais.
Apesar de algumas cenas supostamente tensas, essa tensão nunca atinge o espectador – em boa parte porque o uso dos celulares acaba sendo um facilitador que a diretora não consegue contornar – e mesmo quando parece que a protagonista vivida por Nicole Kidman será confrontada, o suposto confronto nunca acontece e toda possível tensão é mais uma vez diluída, em prol de um suposto clímax futuro que nunca acontece – ou ao menos não com o impacto prometido.

O personagem ameaçador, só ameaça na teoria, já que na prática nunca toma nenhuma ação concreta contra os mocinhos. As cenas de violência que poderiam causar algum impacto são suavizadas, isso quando a diretora não opta por filmar a porta de um carro para fugir do sangue. Cave sequer consegue trabalhar a cena a partir do desconforto agoniante da sugestão, deixando-a apenas higienizada e sem vida.
Nem mesmo a cidade que dá o título à obra tem alguma relevância explorada adequadamente, esse lugar, que promete desempenhar um papel fundamental na trama, praticamente não é mostrado – ou é mostrado de uma maneira totalmente protocolar – já que a maioria das cenas ocorrem dentro da casa, do consultório ou da escola – fora que uma das cenas mais importantes ocorre em outra cidade. A estética falsamente perfeita do local é apenas outro elemento mal aproveitado.
O affair vivido pela protagonista tira a trama temporariamente da monotonia, graças a sua química com o companheiro de tela, Gael García Bernal, mas assim como tudo que funciona minimamente nesse filme, é mais uma ideia que começa boa e logo é desperdiçada pela realizadora, filmando as cenas intimas do casal sem paixão ou tensão sexual. Os dilemas em torno das origens étnicas dele são jogados apressadamente em uma cena e nunca mais voltam a ser mencionados, é como se houvesse um checklist de assuntos que precisassem ser abordados, ainda que precariamente.
Chega a ser difícil que alguém responsável por Fresh, um filme que trabalha igualmente bem reviravoltas e romance, tenha sido o nome por trás de uma obra como Holland, tão vazia nesses dois aspectos, que desperdiça um excelente trio de atores, uma boa estética e uma proposta curiosa.