Publicidade
Publicidade
Início Críticas Crítica | Hypnotic

    Crítica | Hypnotic

    Netflix/Divulgação
    Publicidade

    A hipnose, por incrível que pareça, é um ato habitual do ser humano. Para reconhecer que você é hipnotizável, é preciso lembrar que todos já passaram pela situação de focar-se em seus próprios pensamentos e esquecer-se do resto. Nisso, uma auto e sem pretensão hipnose acontece. Agora, para a psicanálise, o método é capaz de acessar as profundezas do subconsciente com base em um transe guiado por um profissional, que conduz um estado de concentração profunda. Ao contrário do que o atual Corra! (Jordan Peele, 2017) e o clássico O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920) ensinam, não é possível transformar o indivíduo em “marionete” ao balançar uma colher ou induzi-lo ao sono. Entretanto, alguns seguem em um pensamento – comprovadamente certeiro no cinema – baseado em uma hipnotização perversamente manipulável. Trazendo essa tese mais uma vez,  Hypnotic (2021), de Matt Angel e Suzanne Coote, comercializa um produto que ronda o pseudoterror.

    Jenn Thompson (Kate Siegel) não é feliz com sua monótona vida. Para tentar mudar tal condição, a moça aposta na contratação de um hipnólogo, o Dr. Collin Meade (Jason O’Mara), mas acaba se arrependendo da decisão. Logo, a personagem entra em um confuso espiral de sonho e realidade, ilusão e verdade, que a faz perder a noção do que são suas sessões de terapia e o que nelas de fato acontece. Para completar, outros integrantes são envolvidos no drama de Jenn, participando diretamente de seu “tratamento” – ou de sua ruína. Sem escapatória visível, será necessário um esforço além da consciência para tirá-la dessa prisão inserida mentalmente.    

    Em seu início, o filme apresenta uma mulher aparentemente neurótica e supostamente fugindo de alguém em um ambiente de escritório, depois indo para o elevador. Quando chega lá, as paredes se comprimem e a desconhecida grita de desespero. Apenas por essa cena, muitos acontecimentos posteriores tornam-se reconhecíveis de maneira intuitiva. Através dela, por exemplo, temos a compreensão de que Jenn, em algum momento, irá ser tomada pela paranoia. E, conforme a trama se desenrola, entendemos que o porquê possui seu estopim na terapia com Dr. Meade. Não demora para que as respostas passem do ponto de fácil identificação para o nível de jogadas de forma que o público pouco se canse para decifrá-las, e, consequentemente, digeri-las. Desde a trilha sonora fantasmagórica – coringa em projetos com criatividade escassa de mesmo gênero, com serventia de avisar ao espectador que é hora de ficar apreensivo – até a sensação de planejamento cenográfico forçado, nada ocorre de supetão. Esse último ponto, aliás, transmite à audiência um ligeiro desconforto que os intérpretes, visto a sensação de estarem milimetricamente posicionados nos cenários, parecem sentir ao proferir falas engessadas e sem naturalidade. 

    Embora sua história seja difícil de revisitar com um novo molde, dado as inúmeras narrativas partidas do mesmo pretexto acerca da hipnose e seu poder, o longa-metragem não insinua a menor intenção de ser revolucionário. Pelo contrário, segue com convenções do estilo do terror ou thriller, como a morte de testemunhas do caso de Jenn e os confrontos finais. Não somente isso, Hypnotic mata qualquer margem de suspense e tensão que poderia causar ao solucionar os eventos rápido demais. Se existe uma fagulha de agonia por trás de alguma descoberta da protagonista, a mesma não permanece em foco para originar – e aguçar – a curiosidade do público. Então, as surpresas são entocadas para o ato final, quando revelações que de fato seguiram como um mistério, são distribuídas de maneira clichê, porém com um alcance maior ao sentimento de urgência.

    Com todas essas adversidades na passagem de um verdadeiro terror na obra, Kate Siegel, calejada no quesito de presença em obras dessa categoria, como Ouija: A Origem do Mal (2016) e a minissérie Missa da Meia Noite (2021), carrega uma possível afeição de quem assiste por irradiar emoções reais, talvez pela comodidade em ser peça de produções similares. Já Dr. Meade, interpretado por Jason O’Mara, exibe um refinamento diferenciado de vilões escancaradamente maus. Na verdade, sua atuação é convincente o suficiente para não duvidar das demagogias do psicólogo, que, aos poucos, associa sua figura a um cinismo e uma desmoralidade pertencentes apenas a um antagonista. Contudo, a dupla responsável pela direção, Matt Angel e Suzanne Coote, que também assinam o roteiro, não agrega mecanismos nem estilísticos nem comunicativos que deem a seu trabalho características que definam o mesmo. O que há são colagens da fotografia, design de produção, figurino, etc., de outras obras, culminando em uma com pouca identidade. 

    Netflix/Divulgação

    Hypnotic não conversa com nenhuma das categorias em que se enquadra. Ainda que se passe e se assemelhe a um suspense ou thriller psicológico, sua função como tal é quebrada ao passo que o ar de apreensão é interrompido com resoluções imediatas. E, como terror, passa mais longe ainda. Contando com as boas atuações dos protagonistas, o longa-metragem finca-se nisso. No entanto, nenhum personagem cumpre o cargo de uma boa direção, um bom roteiro, e tudo que, nos bastidores, faz uma obra obter relevância. Disponibilizando uma série de obviedades, mas ressaltando uma última parte com uma ação que empolga e rechaça um bocado dos esperados intentos das cenas (inclusive nesse mesmo fragmento do longa-metragem), o filme continua não escapando do que é: igual a muitos outros. 

    Publicidade
    Publicidade
    Sair da versão mobile