dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Imaculada

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As comparações entre Imaculada, de Michael Mohan, e A Primeira Profecia, de Arkasha Stevenson, são inevitáveis. Isso ocorre tanto pelas semelhanças narrativas quanto pelo curto intervalo de tempo entre as estreias dos filmes. No entanto, este texto não pretende realizar uma comparação entre os longas-metragens, pois o trabalho crítico consiste em argumentar com base no que cada obra oferece para análise, e não em um estudo comparativo.

O subgênero “filme de freira” apresenta poucas variações no cerne de sua narrativa, e Imaculada segue esse mesmo princípio: uma jovem freira, Cecília (Sydney Sweeney), chega à Itália para viver em um convento que, por trás das aparências, esconde segredos sobre a natureza de sua existência, e onde qualquer tentativa de fuga é punida com a morte. É interessante, por exemplo, a forma como Mohan utiliza o imagético suspeito das freiras católicas desde os primeiros minutos, jogando com as sombras enquanto uma das moradoras do convento tenta escapar. Contudo, embora isso seja um ponto forte, percebe-se que não há grandes variações de tom na atmosfera do filme.

Esse problema se torna evidente já nos primeiros minutos do filme, quando Cecília chega à Itália e é retida no aeroporto. Com a escolha de planos fechados e uma iluminação sombria, a sensação de que esse momento é uma conquista para a protagonista se perde. Toda a decupagem imagética parte dessa instabilidade e perigo que, à medida que o filme avança, se torna previsível.

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Em outros termos, ao não conseguir sugerir tensão através da própria encenação, o longa-metragem adquire contornos mais previsíveis, sem efetivar possíveis sobressaltos. E ao utilizar a palavra “sobressaltos”, não me refiro a possíveis jumpscares (que são recorrentes e pouco inventivos, como o pássaro que bate na janela), mas sim a uma atmosfera de tensão e terror que depende de uma quebra de expectativas dentro do próprio subgênero. Mesmo em sequências mais gráficas, o potencial choque resulta mais dos elementos periféricos, como a trilha sonora, do que da evocação da imagem em si.

E quando se observa o subtexto trabalhado, envolvendo as questões do feminino, o longa-metragem também parece muito mais confortável ao pensar, na maioria das vezes, em imagens que pouco interferem ou acrescentam ao que se pretende desenhar como instância – e aqui a comparação com A Primeira Profecia se torna inevitável, já que o filme de Stevenson parte de imagens clássicas do horror feminino para dar a elas uma nova textura e um novo questionamento. O único momento em que Mohan parece conseguir sumarizar tal ideia é no momento em que se confirma que Cecília está grávida e que tal feito é um milagre divino.

O diretor utiliza o rosto de Sweeney, excelente em suas variações de expressão, e parte de um plano fechado para revelar a protagonista trajada como uma santa sobre o altar, enquanto todo o convento ecoa um cântico. Essa construção é perturbadora tanto pela economia de recursos linguísticos (um único plano que se abre gradualmente; uma música católica de tons sombrios) quanto pela ideia de uma gravidez indesejada, imposta como um milagre, dentro de uma concepção de maternidade e feminilidade que rejeita a agência da mulher. O olhar de Cecília, perturbado e resignado, contrasta com a serenidade forçada da cena religiosa, sublinhando a dissonância entre a imagem e a realidade. Essa dicotomia expõe a hipocrisia e a rigidez das instituições religiosas que, ao mesmo tempo em que veneram a imagem da mulher santa e materna, negam sua autonomia e humanidade.

São nesses raros momentos que o filme consegue se destacar dentro de alguns companheiros fílmicos que estão preocupados com a ideia do terror sinônimo de susto. Na sequência final, como outro exemplo, na evocação de diversos símbolos católicos, o filme entrega um momento cuja catarse se dá pela explicitude dessa ideia de horror feminino, tornando o grito gutural como algo além de uma ferramenta do gênero, mas tornando-o como uma forma de enfrentamento ao mesmo tempo. Na falta de uma habilidade mais contumaz na condução de suas ideias, Imaculada entende seus símbolos e suas possibilidades, mas ainda parece ter medo de ir um pouco além nas abordagens tanto narrativas quanto estéticas.

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