ter, 30 abril 2024

Crítica | Immaculate

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Seguindo o sucesso comercial de filmes como A Freira 2 – que custou menos de 40 milhões de dólares e arrecadou mais de 260 milhões –, só nesse ano já tivemos dois “terrores de convento”, A Primeira Profecia, uma prequela do clássico de 1976, A Profecia. E mais recentemente, Imaculada, um projeto de baixo orçamento – 9 milhões de dólares – que gerou um certo burburinho por ser produzido e estrelado por Sydney Sweeney, atriz queridinha do grande público por seus papéis em Euphoria, White Lotus e Todos Menos Você.

No filme acompanhamos a história da irmã Cecilia, uma jovem noviça que se muda para um convento em Roma nas vésperas de tomar seus votos para tornar-se freira, sem saber que tinha sido propositalmente atraída para aquele lugar, pelos poderosos no comando, para que fosse utilizada como peça chave em uma conspiração.

Quem assistiu A Primeira Profecia pode estar estranhando as semelhanças entre as premissas dos dois filmes, e posso adiantar que essas coincidências ficam mais presentes ao decorrer de Imaculada. Mas ainda que isso gere inegáveis comparações entre os dois, nesse texto apenas o segundo será objeto de análise. Até porque, mesmo tendo muitos pontos em comum na construção da narrativa, possuem formas e estéticas bastante diferentes. Além do mais, as estreias tão próximas descartam qualquer possibilidade de influência que um tenha exercido sobre o outro.

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Imaculada bebe das fontes de alguns clássicos de terror italiano, em especial Suspiria, criando essa ideia de uma jovem garota que demora a perceber que está presa em uma espécie de culto do qual precisará lutar com unhas e dentes (literalmente) para escapar. E Sydney Sweeney se entrega tanto quanto sua personagem, como se sua vida também dependesse disso, ela é a força motriz do filme e conseguiu provar – não que ela precisasse provar nada a ninguém – que além de mocinha em comédia romântica, ela também tem muito talento para scream queen. A cena final é o ponto alto da obra, tudo graças a sua performance visceral já que a câmera fica o tempo todo em seu rosto e nós entendemos o que acontece a partir de seu olhar, gerando um momento à la O Bebê de Rosemary.  

    

Durante o longa, existe uma crescente tensão que é verdadeiramente incomoda, já que – assim como o ocorre em Suspiria – o espectador sabe desde logo que há algo de estranho ali, ficando apreensivo pela ingenuidade da protagonista e posteriormente temendo pela sua segurança, quando os mistérios vão sendo desvendados por ela. E o filme explora muito bem todos esses sentimentos inquietantes. Inclusive, ele funciona muito melhor quando trabalha na sugestão e na incerteza do que quando tenta dar sustos por meio de jumpscares – algo que, irritantemente, insiste em fazer o tempo todo e fazer mal feito.

O diretor se aproveita da estética católica para compor esse ambiente assustador e deslumbrante na mesma medida, é fácil entender porque alguém ficaria tão encantado com aquele lugar a ponto de ignorar o quanto ele também é suspeito. Por outro lado, não tem o mesmo cuidado visual com passagens que ocorre nas áreas externas ou em cômodos muito fechados, que acabam sendo visualmente pobres e/ou excessivamente escuros. E não me refiro aos planos que são propositalmente pouco iluminados porque a câmera busca esconder algo para criar tensão, esses momentos são muito bem-vindos, como já foi dito – como é o caso da cena em que ela está fugindo pelas catacumbas da igreja e a escuridão é uma ferramenta narrativa. Falo sobre algumas cenas em que a falta de luz não tem nenhuma função e só empobrece a obra, a exemplo das cenas na banheira ou na abertura do filme. A ambientação em Roma é igualmente precária, quase não vemos a cidade e quando ela é mostrada, nem parece ser Roma. Talvez o filme tivesse se beneficiado caso se permitisse levar-se um pouco menos a sério, sem necessariamente perder seu caráter dramático. Um pouco de leveza e maneirismo teriam caído como uma luva nessa premissa e combinariam, inclusive, com várias escolhas estéticas do diretor, que poderia ter um futuro clássico camp em suas mãos se não tivesse optado por uma abordagem tão realista. Mas – como sempre digo – é preciso julgar o filme por aquilo que ele é e não pelo que eu gostaria que ele fosse, e Imaculada é um bom filme, que deve agradar os fãs do cinema de gênero, apesar de estar longe de ser excelente, justamente por nunca abraçar tudo que esse cinema tem a oferecer.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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