dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Instinto Materno

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      A maternidade enquanto tema para o suspense já gerou grandes frutos, seja na literatura ou no cinema. Ainda pensando numa sociedade patriarcal onde a figura da mãe protetora muitas vezes acompanha um estereótipo de neurose, essa suposição de desequilíbrio químico que afasta mulheres da condição de seres “lógicos” é um assunto que combina muito bem com a narrativa de suspense enquanto pauta para discussão. O personagem que tem a sua sanidade questionada é um tipo comum dentro do gênero e colocar o espectador na pele de alguém assim é o que Benoît Delhomme tenta em Instinto Materno. 

      Se Anne Hathaway e Jessica Chastain são duas atrizes que não precisam de introduções, suas respectivas personagens nesse filme (Celine e Alice) são introduzidas como duas amigas e vizinhas donas de casa nos anos 1960 que poderiam representar de maneira genérica o ideal de família americana para a época. Ambas não trabalham formalmente e vivem suas rotinas em função de cuidar de seus lares, maridos e filhos. Tudo muda no entanto quando um acidente acaba tomando a vida de uma das crianças. A partir daí a história vai construindo bem aos poucos a tensão entre as duas famílias e principalmente entre as 2 mulheres. 

      É um filme que realmente toma seu tempo. Tanto a tragédia da situação quanto a eventual desconfiança que as duas personagens principais sentem entre si é explorada de maneira quase minimalista e esse é um filme que usa poucas locações inclusive e se mantém praticamente inteiro na dinâmica das duas casas com eventuais momentos de respiro. Essa contenção da história a um universo muito pequeno na teoria poderia até fortalecer essa história história tem sim algumas boas ideias mas tanto o ritmo quanto a execução dessas ideias acabam jogando contra o todo. 

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      Se existem aqui duas ótimas atrizes entregando um trabalho que traz camadas para suas personagens, tanto direção quanto montagem acabam diluindo momentos do filme em algo esquecível. A maior parte da história em si consegue parar em pé, mas principalmente no seu último terço onde as coisas começam a se permitir acontecer com mais intensidade e de maneira até mais cartunesca, não parece que o resto acompanha. É um trabalho que acaba se definindo pela monotonia e que talvez precisasse de um pouco mais de personalidade para fazer funcionar suas próprias ideias de como concluir essa história.

      Lamentável que um projeto com esses talentos envolvidos acabe se arrastando de maneira tão desanimadora. Até mesmo para quem procura uma opção mais novelesca, que se sustente só na entrega das suas atrizes que são sim muito boas, essa é uma produção que não entrega muito. A pedida aqui acaba sendo a de um suspense raso nascido de um tema que por si só tem muito mais força. 

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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