Desde o lançamento do primeiro filme em 2013, ‘Invocação do Mal’ virou uma referência para o gênero de terror e consolidou o diretor dos dois primeiros filmes, James Wan, como um dos grandes nomes do cinema de horror desse século e estabeleceu uma nova franquia de terror. ‘Anabelle’ (2014), ‘A Freira’ (2018) e ‘A Maldição da Chorona’ (2019) foram lançados nos anos seguintes e deram início a esse universo com resultados grandes de bilheteria, como o caso de ‘Anabelle’ que arrecadou mais de $200 milhões de dólares em todo o mundo tendo tido um custo de produção de apenas $6 milhões de dólares. Para dirigir os últimos filmes de Invocação do Mal, foi escolhido o diretor Michael Chaves, cuja filmografia de longas-metragens são de filmes desse universo.
Tentando seguirem aposentados, Ed (interpretado por Patrick Wilson) e Lorraine Warren (interpretada por Vera Farmiga) acabam envolvidos no aterrorizante caso da família Smurl, enfrentando forças malignas que colocam em risco seu legado.
Venhamos e convenhamos que a filmografia do diretor, Michael Chaves, não empolga tanto para qualquer fã que esteja esperando um final satisfatório para essa história. Particularmente, não consigo achar algo interessante nem em ‘The Maiden’, segundo curta-metragem que dirigiu e projeto que foi responsável pela maior visibilidade dele no meio. Apesar de Chaves conhecer a franquia, nenhum dos seus filmes conseguiu uma aclamação do público ou algo relevante para o debate dos fãs, que apenas lembram de ‘A Freira 2’ (2023) ou ‘A Maldição da Chorona’ (2019) como os piores filmes da saga. Pelo bem ou pelo mal, os dois primeiros filmes e a direção de James Wan impuseram um nível artístico e estético que não seriam alcançados tão facilmente. Apesar de que o objetivo não era alcançá-los, mas pelo menos fazer mais dois filmes dignos da saga, algo que parece que foi mais difícil para Chaves do que para Ed Warren fazer um exorcismo. Até há alguns curtos momentos bons, os sustos e algumas cenas específicas acabam passando a impressão de medo constante, ainda que sinta que no geral não exista aquela “entidade do mal” que sentimos nos melhores filmes de terror. É como se fossem diversos filmes com potencial de serem bons dentro de um filme só. Acredito que tinha potencial, por exemplo, para explorar melhor a Judy, filha do casal e seus traumas que são explorados desde o primeiro filme, mas é tudo jogado de forma bem solta e desconexa durante este novo filme.

Olhando até para a própria franquia, existem alguns problemas nesse último filme que são por deficiência do diretor em lidar com a história e com a própria ambição de querer um final grandioso para a família Warren. Ao mesmo tempo que o diretor parece querer fazer um filme mais básico em muitos momentos, seguindo padrões genéricos do gênero mesmo, mas a narrativa do filme parece querer amarrar muitas pontas soltas em um filme que tem 2 horas e 16 minutos mas que se estendem durante uma eternidade em tela e não pelos melhores motivos. Temos os problemas de personagens de Ed com sua saúde, a vida melhor explorada de Judy, o desenvolvimento de Lorraine como mãe e ajudando sua filha até num processo de “sucessora”, o drama de Tony para conquistar os pais de Judy e ter um relacionamento com ela, além claro das atividades demoníacas e as relações internas na família Smurl. É um caminhão de informações e desenvolvimentos diferentes que o filme promete que vão se resolver no final e que não cumpre de maneira satisfatória, como se o diretor tivesse escolhido o pior caminho possível para a história se encerrar. O sentimento que fica é de algo incompleto, porque foram abertas muitas portas para discussões e poucas foram realmente aproveitadas. O potencial do personagem de Tony, por exemplo, que em certo momento da rodagem parece que terá algum peso maior na narrativa, especialmente para ajudar na situação de Judy com seus demônios, acaba sendo apenas mais um personagem esquecido nessa vastidão de temas. Poucos dias antes de assistir a este filme, re-assisti o segundo filme da franquia, ‘Invocação do Mal 2’ (2016), dirigido por James Wan, que também possui muitas histórias de fundo para além de contar sobre o caso em questão de assombração. Porém, naquele filme, todas as questões postas na narrativa são bem amarradas, com um final quase poético unindo o drama de Ed, Lorraine e a libertação do mal de Janet. Já no novo filme, tudo se perde, não tem nada a se agarrar à qualidade em como o diretor desenvolve a história e nem como a finaliza. Como disse, é um limbo do diretor entre tentar fazer um projeto mais genérico e que acaba funcionando para 99% dos filmes do gênero, mas também buscar um final quase que épico.
‘Invocação do Mal: O Último Ritual’ tenta encerrar a história da família Warren de forma digna, ainda que a direção de Chaves se esforce para fazer algo épico que nunca chega perto de atingir o seu ápice. Os momentos isolados funcionam, mas a tentativa de finalizar tudo em uma unidade só, não.