Crítica | It – Capítulo Dois

    Voltando à direção da segunda parte de It – A Coisa (2017), Andy Muschetti prova que está em forma e nos presenteia com uma conclusão sangrenta e impactante, sem deixar o ar cômico e memorável dos loosers, agora adultos. Com um elenco bem atuante, um vilão ainda mais faminto e muitas referências, It – A Coisa: capítulo 2, encerra uma trama que dividiu seus fãs, seja por questão de fidelidade ou simplesmente expectativas não correspondidas.

    Dois anos atrás, acompanhamos a história de um grupo de crianças, unidas por uma característica comum: serem “perdedores”. Claro, o bullying evidente, que os separava dos demais colegas da escola e de familiares, acabou tornando-os ainda mais próximos, ainda mais quando compartilham pesadelos recorrentes, sempre com um elemento central: um palhaço (Pennywise), que elevava seus piores pesadelos. Juntos, decidem deixar o medo de lado e enfrentar a aberração e, aparentemente, conseguem, prometendo, num pacto de sangue, que se o monstro voltasse, voltariam para o ultimato.

    Neste novo episódio, temos um roteiro mais fiel ao material original, com flashbacks, porém, não menos que o telefilme de 1990, que segue este arco narrativo do início ao fim. O diretor procurou se importar com o que os personagens se tornaram depois de 27 anos dos eventos do primeiro filme, algo obrigatório para o desenvolvimento do roteiro, de modo que, mais tarde, cada um repensasse em suas escolhas e na influência que os acontecimentos em Derry tiveram.

    Assim, o elenco teria que repassar toda a emoção e carisma que suas versões jovens cumpriram com eficiência. E é o que ocorre. A história inicia (continua) com uma nova morte brutal na cidade e Mike, (Isaiah Mustafa) que ainda reside por lá, desconfia que o mal pode estar de volta, quando começa a recrutar os loosers Bill (James McAvoy), Beverly (Jessica Chastain), Stan (Andy Bean), Ritchie (Bill Hader), Ben (Jay Ryan) e Eddie (James Ransone) , como foi pactuado, de volta ao Maine. Já na contramão, temos um personagem que continua ignorado desde 2017: a cidade que, na verdade, é a crítica social mais forte no livro de Stephen King.

    Percebe-se a preocupação na imersão visual e sonora que o primeiro capítulo trouxe, uma vez que a experiência é igual: trilha pulsante, ora enervantemente calma, ora insurdecedoramente apavorante, com pinceladas dramáticas na resolução de pontas soltas, misturando-se a cores saturadas e vibrantes contrastando nos tons fúnebres e mágicos das cenas mais taquicárdicas.

    Enquanto que no anterior houveram easter eggs em massa, neste, boa parte do que foi questionado pelos fãs é apresentado, compensando sua falta tanto na refilmagem quanto no telefilme. Aliás, tudo que o público queria ter visto, ao menos citado, em A Torre Negra (2017), este filme mostra com fidelidade e maestria, como a origem do mal, a “criação”, a relação com elementos ancestrais e, é claro, toda a mitologia por trás do excelente Pennywise de Bill Skarsgard.

    Muschetti acerta novamente no equilíbrio entre humor e gore, deixando o filme de 165 minutos agradável demais de assistir. Algumas ressalvas quanto ao exagero de CGI continuam, com algumas animações “borrachudas”, mas que não tiram o brilho do excelente trabalho de maquiagem e de fotografia, principalmente.

    It – Capítulo 2 tem todos os elementos de sucesso de seu anterior, porém, o quanto se vai gostar deste filme continua na premissa de quanto se é fã do livro ou de quantos filmes de terror já foi digerido. Não é uma obra-prima do medo, mas é um filme memorável para quem ainda quer e sonha com um multiverso do Rei Stephen nas telonas.

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