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Crítica | Junji Ito: Histórias Macabras do Japão

Obras do mestre do terror japonês são reverenciadas em adaptações fiéis, mas faltou capricho estético a mais.

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Em Junji Ito: Histórias Macabras do Japão (Ito Junji: Maniac) são narradas as histórias mais aterrorizantes do mestre do mangá de terror, Junji Ito. O próprio autor seleciona vinte de seus contos para serem adaptados pela primeira vez para animação.

Junji Ito: Histórias Macabras do Japão. Netfix/Divulgação

O mangaká Junji Ito, considerado pela cultura pop como o mestre do terror contemporâneo japonês, esbanja criatividade, tramas diretas que evitam explicações em excesso, surrealismo e uma total exploração do sobrenatural em suas cultuadas obras. Nesta nova produção do Studio DEEN (responsável por adaptar Junji Ito Colletion, em 2018), em parceria com a Netflix, 20 de suas obras, presentes nos mangás Junji Ito Masterpiece Collection, Junji Ito: A Study From the Abyss of Horror e Fragments of Horror (lançado no Brasil pela editora DarkSide), são adaptadas de maneira independente, com narrativas que apresentam começo, meio e, de um certo ponto de vista, fim, uma vez que vários de seus desfechos são abertos para inúmeras possibilidades.  

Podemos considerar Junji Ito: Histórias Macabras do Japão, uma produção que consegue captar, com excelência, toda a atmosfera aterradora criada pelo seu autor, contando com sua incomparável criatividade mórbida, acenos amigáveis ao surrealismo e ao expressionismo, além de conflitos sociais, principalmente envolvendo suas personagens femininas. Com os roteiros assinados por Kaoru Sawada, a série adapta, em 12 episódios, 20 contos perturbadores do mestre do terror, divididos em episódios completos e duplos.  

Todo destaque vai para eximias adaptações de “Balões no Ar”, “Cidade dos Túmulos” e “Foto de Tomie”, sendo este último responsável por levar ao público da Netflix a história de uma suas personagens mais famosas, entre os episódios completos.  

Episódio “Balões no Ar”. Netflix/Divulgação

Entre os segmentos dessa antologia do terror que mais chamam a atenção, temos os curiosos “A história do túnel misterioso/Caminhão de sorvete”, duas obras que exploram, respectivamente, o medo do desconhecido e uma certa alusão ao abuso infantil; “Intruso/Cabelo Longo no Sótão”, duas histórias que, apesar de suas narrativas serem rápidas, contam com premissas criativas e finais perturbadores; “Camadas de Terror”, uma grata reflexão quanto ao narcisismo materno, regado de terror psicológico; “Beco”/Estátua Sem Cabeça”, são curtas que apelam para a psicopatia e o medo espiritual, além do pavor de criaturas horripilantes, representadas pelos espíritos cravados nas paredes (algo, inclusive, semelhante ao caso real dos Rostos de Bélmez, ocorrido na Espanha) e as estátuas homicidas decapitadas.  

Para finalizar a temporada com chave de ouro, temos os segmentos “A Mulher que Sussurra”, inspirado numa triste história de abuso e vingança sofrida por uma figura enigmática que auxiliava uma criança incapaz através de sussurros e sua presença espiritual, além sádico “Bichinho de Estimação”, que consegue reunir terror e humor graças ao estranho personagem Soichi, mais uma criação bizarra de Ito.  

“Bichinho de Estimação”. Netflix/Divulgação

Há, por outro lado, adaptações que parecem estar desordenadas, presentes em episódios onde uma quebra a sensação, ou até mesmo a essência, criada pela produção anterior. Como é o caso de “O que o mar trouxe”, que é uma história desinteressante e de narrativa simples, que quase ofusca o impacto causado por “Camadas de Terror”. Também lidamos com adaptações inteiramente confusas, além de não ostentarem do impacto que prometiam apresentar, como “Labirinto Insuportável/Implicante”.  

Histórias Macabras do Japão conta com frames fidelíssimos aos quadrinhos de Junji Ito, ostentando todos os traços e concepção visual de seu criador, mas, por se tratar de uma adaptação de alto orçamento, talvez tenha faltado um capricho a mais nos detalhes, sombras e até na tentativa de movimentos em animação 3D. Há também o fato de uma animação mais rebuscada parear com a temática pesada da antologia do terror, mas é inegável que um trabalho minucioso na parte estética, pelo menos na construção de cenários e acréscimo de texturas, tenha feito falta.  

No final, Junji Ito: Histórias Macabras do Japão pode ser um verdadeiro deleite para os fãs do mangaká, assim como deve estranhar a quem não está acostumado com as obras, ou até mesmo quem não tem estômago para lidar com violência explícita e tramas altamente perturbadoras. Que venha uma segunda temporada com mais histórias aterrorizantes para podermos exaltar toda a criatividade de Junji Ito!  

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