Desde o lançamento do primeiro filme em 1993, não existe alguém que não fique animado em imaginar ir ao cinema para rever o tiranossauro em tela grande, ou então para ver os braquiossauros caminhando por um campo esverdeado em uma ilha distante. Depois do auge da franquia, com as sequências ‘O Mundo Perdido: Jurassic Park’ (1997) e ‘Jurassic Park 3’ (2001), os humanos retornaram à ilha para uma continuação da saga em 2015, com a trilogia ‘Jurassic World’ (2015), ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ (2018) e ‘Jurassic World: Dominion’ (2022), chegou a hora mais uma vez da saga tentar achar um novo rumo. O filme é dirigido por Gareth Edwards, conhecido por dirigir ‘Rogue One: Uma História Star Wars’ (2016), ‘Godzilla’ (2014) e ‘Resistência’, 2023, com este último sendo indicado ao Oscar 2024 de Melhores Efeitos Visuais. O filme conta com um elenco protagonizado pela Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali, além de um elenco de apoio que conta com Rupert Friend e Manuel Garcia-Rulfo.
Buscando a cura para uma nova ameaça global, Martin Krebs (interpretado por Rupert Friend) pede a Zora Bennett (interpretada por Scarlett Johansson) que reúna uma equipe e retorne a uma ilha onde, décadas antes, foram realizados testes com dinossauros. Lá, eles precisam encontrar material genético vital. Mas a missão rapidamente se transforma em uma luta por sobrevivência, quando descobrem que a ilha esconde predadores ainda mais perigosos do que imaginavam.
Pelo jeito como caminham os rumos do cinema hollywoodiano, você receber um filme de uma grande franquia que não seja uma reciclagem é quase um milagre. Para garantir que a aceitação do público será maior e que o grande orçamento do projeto não será em vão, o normal é fazer uma continuação seguindo as cartilhas, o básico da história daquele universo, uma referência aqui e outra ali e acabou, garante pelo menos um “legal” do público e um resultado bom de bilheteria. Dentro dessa lógica, é interessante, por outro lado, acompanhar o trabalho feito por Gareth Edwards e como, mais uma vez, ele consegue seguir essa fórmula mas ainda fazer uma obra interessante. Assim como fez em ‘Godzilla’ (2014), o diretor vai fazer tudo isso que é esperado dentro do filme, mas dentro da linguagem do filme ele vai construir algumas sequências bastante interessantes dentro daquele universo e do significado daquela história, ainda que não ache o resultado final algo explêndido. Em ‘Rogue One: Uma História Star Wars’ (2016), era uma história prequel, mas o diretor conseguiu expandir e realizar uma obra tão grandiosa que é lembrada com muito carinho pelos fãs de Star Wars. De forma satisfatória, ele também segue essa linha para tratar de ‘Jurassic World: Recomeço’ e consegue fazer uma obra com mais dignidade desde o filme original, provavelmente, e com certeza com mais dinâmica que qualquer coisa feita desde o lançamento de ‘Jurassic World’ (2015).

Acho bem acertada a escolha do diretor de focar no que realmente importa. Afinal, se você foi assistir Jurassic World, você quer ver dinossauros na tela, quer sentir estar novamente na ilha, com aquele frio na barriga em cenas tensas igual quando você, provavelmente ainda criança, assistiu ‘Jurassic Park’ (1993) pela primeira vez. Não existe aquela preocupação exagerada dos filmes anteriores de que precisa criar uma super história de fundo ou uma tentativa de relação emocional, como por exemplo os sobrinhos que a Claire precisa se preocupar o tempo todo no filme de 2015. Nesse novo filme, essas relações são feitas de forma mais sútil e rápida. Uma explicação rápida, uma piada e corta pra ação, algo mais eficiente que os últimos 276 minutos que os últimos dois filmes gastaram tentando construir uma relação emocional minimamente boa. Ainda há espaço para uma discussão mais profunda sobre a ciência e como ela pode ser usada para o bem de todos, para todos, e não para alguns e apenas para enriquecer alguns. E mesmo que o foco do filme não seja esse, o desenvolvimento da história e essa solidez em lidar com as questões da trama faz com que essa simples discussão ganhe uma profundidade grande, representada de forma emocionante na cena entre os dois braquiossauros. Essa autoconsciência da obra sobre o que realmente precisa ser mostrado em tela facilita as coisas, criando já uma imersão dentro das cenas de maior suspense, algumas das sequências mais tensas dessa nova fase da franquia, como as cenas na água envolvendo Isabella (interpretada por Audrina Miranda), a filha mais nova de uma família que foi atacada enquanto passeava a vela e acaba indo parar na ilha junto com a equipe de Krebs. É como se, pela primeira vez em muitos anos, existisse realmente um sentimento de medo e aflição dentro de uma ilha recheada de dinossauros. Não é nada inovador, muito menos dentro da própria franquia ou dentro da fórmula que mencionei no parágrafo anterior, mas a diferença aqui é que o diretor, Edwards, sabe exatamente o que precisa ser mostrado, o que precisa ser falado e o que é melhor deixar quieto.
‘Jurassic World: Recomeço’ é aquilo que os maiores fãs de Jurassic Park estavam esperando por anos, uma obra que mantivesse uma qualidade sem se forçar a ser nada além do que ela própria sabe que tem a oferecer. Sem inovações ou ideias esplêndidas, mas cumpre o seu papel e dá um bom recomeço para a franquia seguir em frente.