seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Kardec

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Educador, autor e tradutor francês, Kardec é conhecido por ter codificado o espiritismo, uma das doutrinas mais praticadas no Brasil. Cético até os 50 anos e registrado com o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail, Allan Kardec tem parte de sua história pouco conhecida. Uma trajetória com crise de fé, conversão e descobertas a serem mostradas em “Kardec”.

O filme de Wagner de Assis não busca desenvolver uma narrativa complicada demais para o espectador que não é familiarizado com relação à história real, mas, ao mesmo tempo traz os principais acontecimentos lineares de modo detalhado, não adentra muito no processo pessoal de Kardec e no reconhecimento de sua nova forma de ver a vida.


Por mais esperados que sejam os acontecimentos, existe uma atenção maior dentro da narrativa que é voltada para o poder que o catolicismo impôs acima dos espíritas. Evitando com que suas crenças fossem liberadas para o mundo mesmo que por um breve período ou provocando revolta dos fiéis da Igreja. Com isso, todo o processo de descobertas de Kardec soam um tanto corridos, como se houvesse a pressa de cair diretamente nas dificuldades encontradas a partir do momento em que O Livro dos Espíritos foi publicado, em 1857. No entanto, a linha do tempo é precisa e estabelece todos os pontos principais da história do autor sem que haja presunção ao redor da importância de sua presença na religião.

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Os momentos em que Kardec (Leonardo Medeiros) e sua esposa Amélie (Sandra Corveloni) adentram a realidade espírita, onde ele vai deixando o ceticismo de lado e ela se mostra uma boa companheira e grande apoiadora, são muito mais interessantes e bem construídos, pois há tempo para o roteiro apresentar outras pessoas que fizeram parte da jornada de pesquisa até a publicação do primeiro livro de Kardec. As jovens Caroline Boudin, Julie Boudin, Madame De Plainemaison e Ermance De La Jonchére Dufaux são algumas médiuns que ajudaram o professor a finalizar seu livro na época e formam uma importante participação na história, mas ainda assim, senti uma necessidade de mais momentos com as personagens antes da “caça as bruxas” começar.


É admirável a atuação de Leonardo Medeiros no papel de Rivail/Kardec e como a postura séria combinou com a evolução do personagem. Corveloni como Amélie Gabrielle Boudet, traz a leveza e romantismo interessante ao casal, se revelando como uma perfeita parceira de trabalho também. Em alguns momentos existe uma certa distância que não é falada, mas que acaba sendo bem trabalhada em cena, como na cena do jantar silencioso.


Kardec é uma biografia que retrata bem a época em que a história aconteceu e muito disso graças a ótima fotografia e direção de arte, que conseguiu trazer uma Paris que não existe mais, onde os prédios eram velhos e tinha esgotos nas ruas, deve ter sido muito desafiador. Tudo foi de suma importância para entendermos quem foi o homem que criou a doutrina espírita e garantiu milhões de adeptos à sua forma de ver a vida, a morte e Deus.


Apesar de ter uma temática espírita, não se trata de uma produção sobre o espiritismo. É um filme sobre investigação, sobre métodos, sobre racionalizar coisas que até então não poderiam ser racionalizadas.


O longa-metragem estreia em 19 de maio nos cinemas brasileiros.

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