qui, 21 novembro 2024

Crítica | Kill: O Massacre no Trem

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Com o início da escrita em 2016, o diretor e roteirista Nikhil Nagesh Bhat produziu um thriller de ação que causou boa repercussão no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2023 e no Festival de Cinema de Tribeca em mais uma grande produção da língua hindi que já tem adaptação para a língua inglesa para ser produzida pelos mesmos produtores de ‘John Wick’

Uma simples viagem de trem até a capital da Índia, Nova Deli, acaba transformando-se em pesadelo quando uma família com dezenas de ladrões começa a tomar controle dos vagões e ameaçar os passageiros. Amrit Rathod (interpretado por Lakshya Lalwani) e Viresh Chatwal (interpretado por Abhishek Chauhan), membros da Guarda Nacional, entram em ação e começam combates violentos.

Acredito que seja consenso sobre os pré-conceitos que vem à mente de uma pessoa acostumada com cinema produzido no Ocidente quando escuta falar em cinema indiano. Os melodramas, as cenas com efeitos tidos como questionáveis, cenas musicais bem exageradas, dentre outras ideias que surgem automaticamente. Para um público que cresceu sobre o monopólio hollywoodiano, com um estilo de cinema ocidental, assistir a um longa-metragem oriental, acaba causando estranhezas, naturalmente. O grande problema, especialmente para os críticos, é apenas associar a isso a sua experiência com aquela obra. Acho importante tratar disso pois, quando alguém assiste um filme indiano, sempre escutamos “pérolas” como “é, filme indiano… sabe como é, né?”, mas não há nenhum desenvolvimento propriamente dito sobre isso. Note que não é uma discussão sobre gosto, uma experiência com arte envolve várias questões inter e intrapessoais, mas sim de uma incapacidade do(a) crítico(a) de encontrar argumentos para interpretar uma obra, baseando-se única e exclusivamente no fato que, por ter crescido apenas ao olhar de obras ocidentais, aquele que quebrar esse padrão, não é do seu agrado.

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Créditos: Paris Filmes/Lionsgate

Faço essa reflexão pois com o lançamento de filmes como ‘Kill: Massacre no Trem’, esses argumentos voltam à tona. E esse pensamento ofuscam até análises mais simples, como o uso bem feito da geografia das cenas de luta, principalmente considerando que o filme, em sua maior parte, se passa dentro de um trem, com um espaço bem limitado para um confronto corporal, mas ainda assim é feito de forma bastante eficiente pelo diretor Nikhil Nagesh e pelo diretor de fotografia Rafey Mehmood. Nada que cause confusão para o público ou quebre a mise-en-scène da cena, mas sim que cause mais aflição e dá um tom maior aos combates.

Apesar do melodrama da narrativa ainda ter passagens ineficientes, ainda há relações positivas. A energia criada entre as cenas de ação acaba sendo tão potente que quando há essas interrupções para o melodrama, existem algumas relações fortes, mas outras, ou melhor, uma em específica que atrapalha e cria o sentimento de que está “roubando” tempo de tela do que há de melhor na obra. Existe um bom desenvolvimento entre a família dos sequestradores, a amizade entre Rathod e Viresh e a relação entre Tulika e seu pai, com cada uma dessas interações tendo um valor bem estabelecido e bem localizadas dentro da decupagem, com a grande maioria dessas interações dentro inclusive do contexto da ação. Por outro lado, o romance entre Rathod e Tulika destoa bastante do restante da obra. Com exceção da cena final de Tulika no trem, as outras aparições, especialmente os flashbacks, quebram o ritmo instigante da ação. É bem claro o “efeito John Wick” que vem influenciando o gênero de ação na última década, quando lançou o primeiro filme da franquia protagonizada por Keanu Reeves, ainda que passe longe de ter o mesmo impacto.

‘Kill: O Massacre no Trem’ é um projeto bem interessante, especialmente para quem gosta de filmes de ação e curte aquele derramamento de sangue com lutas épicas. Com um uso bem criativo e fazendo bom proveito dos espaços em cena, contando ainda com boas relações entre grande parte dos personagens e seus respectivos núcleos, sempre integrados à ação e tensão daquela situação do trem que estava a caminho de Nova Deli.

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