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Início Críticas Crítica | La Casa de Papel – Temporada 4

Crítica | La Casa de Papel – Temporada 4

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A nova temporada veio para te descabelar e te fazer surtar. Mostrou que não é impossível você ser imerso dentro daquela realidade, mesmo que você esteja na sua casa, deitado no sofá, assistindo tudo pela TV.
Você não vai precisar de um óculos VR para sentir que está no Banco nacional da Espanha. Suas emoções também serão testadas e você também ficará uma pilha de nervos.

Nesta temporada, finalmente o Professor, o GRANDE GÊNIO, parece sucumbir. Parece estar perdido, sem controle de absolutamente nada.
As atitudes invasivas da polícia, a situação imposta para que achassem que tinham perdido mais um membro e um certo Golpe de Estado, mudam todas as perspectivas.

Arturito chega para nos matar de raiva mais uma vez, mas dessa vez mostrando uma outra faceta. Como se não nos bastasse morrer de ódio por mais de três temporadas, ele consegue passar as camadas da estratosfera, para mostrar que toda a raiva que sentíamos do personagem até o momento, ainda não eram o suficiente. Foi elevado a níveis extraordinários todo o asco e nojo que poderíamos sentir por um personagem.

Arturo Roman, o gerente da Casa da Moeda, casado e com filhos, que traiu a esposa com a secretária e a engravidou, negando a paternidade posteriormente e que orquestrou a rebelião de reféns que deixou como consequências a morte de Oslo, volta novamente para nos mostrar uma narrativa muito peculiar: Um estupro dentro de um banco sendo assaltado. Logo que é mostrada a fragilidade de uma das reféns(que está nitidamente abatida e tensa), Arturo se aproveita da personagem como se fosse uma presa fácil, a drogando e deixando-a inconsciente para que o abuso fosse perpetuado. Não sendo o suficiente para nos enojar até aqui, é mostrada uma perspectiva também muito comum nos casos reais: invalidar o discurso da vítima. A mulher se lembra dos acontecimentos, mesmo estando dopada na maior da parte do tempo. Mas com discurso previsível, Arturo se defende, chamando-a de louca. Insinua que a vitima estava frágil e nervosa por conta dos acontecimentos, e que deveria estar delirando, por que JAMAIS faria tal ato (só faltou dizer que não a estuprou porque ela não merecia).
PRONTO. Ódio instalado na minha alma COM SUCESSO.

Para não jogar spoiler pra vocês, passemos ao próximo ponto.
Vimos outra questão sendo discutida com muita validez. O machismo é demonstrado várias vezes na narrativa envolvendo Denver e Estocolmo. Desde que o filho do casal nasceu, os dois mudaram seus comportamentos para que o filho fosse sempre a prioridade. Mas com a volta do grupo, para um novo assalto, Denver se torna agressivo, violento e instável a cada episódio que passa. A cada surto, o machismo é escancarado nas nossas fuças, como quando ele compara Tokio e Estocolmo a dois carros (instaurando assim, até uma certa inferioridade de Monica à Tokio, já que a morena foi comparada à uma Maserati e Monica à um Fiat 6000), e que ele e Rio seriam os donos/pilotos dessas máquinas. Fica aí o questionamento se a comparação se dá porque, assim como uma Maserati, Tokio vai de um ponto ao outro em segundos (pela intensidade e potência), ou se porque, ela seria um artigo de luxo (tal qual o carro) que não é tão fácil de se ter nas mãos por ser valiosa demais e que não seria qualquer um que poderia tê-la. Também não podemos esquecer como o discurso de Denver logo no começo, também invalidava sua mulher como parte do grupo. O mesmo insinua que, por conta de seu emprego anterior, ela não saberia empunhar uma arma, e poderia ser ingênua e fraca nessa situação. Seria uma pena se a loira não se opusesse à tal opinião machista, construindo uma narrativa desde o primeiro roubo, onde ela abandonou a própria vida, para se tornar Estocolmo. E que isso, já a fazia forte o suficiente para merecer estar ali com eles, participando de tudo. E ainda assim, precisou lembrá-lo: “Monica Gastambide já não existe mais”.

Um outro assunto em que foi abordado de uma maneira curta, mas válida, foi a transexualidade. E a forma em que isso é mostrada, é que deixa tudo tão mais “leve”, por assim dizer. Em uma conversa antiga, entre Professor, Denver e Moscou, vemos pai e filho tentando convencer ao líder do grupo, que recrutassem uma nova peça ao jogo, servindo de infiltrado se passando por refém. Juanito é apresentado como um primo de Denver, que passa por dificuldades em um outro lugar e que poderia servir em algum ponto do plano e assim poderia ter condições de vida melhores. Quando o recebem em um ponto de ônibus, quem chega é Julia. Juanito já não existe mais: somente Julia. Uma mulher linda, de cabelos castanhos e de atitude enérgica. Logo depois, em uma conversa com Denver, Julia explica que sempre foi mulher, mas em um corpo “errado”. Conta como se sentia ao voltar de pequenos assaltos que acompanhava Denver quando mais novos: chegava em casa, e passava um batom vermelho. Assim, sozinha em seu quarto, ela sentia que poderia ser, apenas ela mesma. Também é discutida de forma que deixa bem claro a diferença dos termos: orientação sexual x identidade de gênero. É curioso que, isso tudo seja exposto justamente com um personagem que transborda machismo, mas que ao mesmo tempo, está aberto a ouvir e entender sobre o assunto. Uma perspectiva bônus, é mostrar a normalidade do personagem: ele é comum e como qualquer outro. Podendo fazer parte tanto do grupo de assaltantes, (do lado mal), quanto dos reféns (lado do bem). Porque de novo: orientação sexual e identidade de gênero NÃO DEFINEM CARÁTER.

O que podemos esperar de uma próxima temporada, é um final digno a cada personagem. A maneira com que conseguiram elevar as nossas expectativas no último segundo, foi simplesmente estupefata.
A lealdade e amizade de cada um, é colocada em xeque várias vezes, mas a todo momento também é mostrado cumplicidade até as ultimas consequências. Até onde iriam por um amigo em perigo? Eram mesmo uma família ou num momento crítico, seria cada um por si? A instabilidade de um personagem com estresse pós-traumático é motivo para deslizes e acertos dos membros do grupo, e mostra como é importante dar apoio a pessoas que passam por isso. Vemos como é imprescindível ouvir e dar suporte à uma pessoa que passou por terror psicológico ou por situações que mexessem com a sanidade mental. Questionar seus medos, aflições e traumas NUNCA é o modo efetivo de ajudar alguém nesses casos. -Pensemos nisso antes de julgar alguém que conhecemos e que tenha passado por traumas em suas vidas. Não sabemos as marcas que cada um carrega, inclusive se essas marcas não são vistas a olho nu.-

A grosso modo, o surto vem a cada episódio, te deixando sem reação, senão a única de começar a ver o próximo episódio.

Consigo pontuar apenas duas questões ruins tristes de toda a nova temporada:
1- A de que deixa nós, TELESPECTADORES, com a sensação de que chegamos até o fim, mas morremos na praia;
2- Trocaram os dubladores (de uma temporada para a outra) e isso faz com que, quem assiste o conteúdo dublado, perca um pouco da visão que já tinha sobre os personagens.

No mais, você, que combinou de assistir a nova temporada com amigo, namorado, família e etc.. e não podem ver no momento sozinhos, fica uma dica: não tentem ver e fazer o(a) sonso(a) depois. Uma vez que assistir, não terá volta, e você não conseguirá fingir choque,surpresa e tristeza na mesma intensidade duas vezes.

Bom, vocês foram alertados. Preparem-se. É só o que digo.

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