ter, 12 novembro 2024

Crítica | Maestro

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Dirigido e estrelado por Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela), Maestro conta a história real da vida de Leonard Bernstein, compositor, músico e pianista responsável pela trilha sonora de aclamados musicais da Broadway, como West Side Story, Candice e Peter Pan, além de ter sido o principal condutor da Orquestra Filarmônica de Nova York, por 18 anos. O filme se divide entre o lado profissional de Bernstein e o pessoal, focando na sua conturbada relação com a atriz Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

O aprofundado estudo de uma personalidade tende, em teoria, a garantir uma maior qualidade narrativa e técnica para cinebiografias de orçamento generoso e pretensões além de somente traduzir a vida dessa tal persona para a linguagem cinematográfica. Existe em Maestro de Bradley Cooper um insaciável desejo de provar seu entendimento na trajetória do músico Leonard Bernstein, assim como a persistente necessidade de adotá-la com pompas e circunstâncias para a sétima arte. Porém, houve realmente maestria na condução de um longa tão carregado de auto obrigações e visíveis ambições de ser um dos principais destaques nesta temporada de premiações, para não dizer que a produção é um genuíno imã de Oscar?

Sutileza não é uma palavra fácil de encontrar em Maestro. Inegavelmente belo e elegante, o filme não esconde uma megalomania que, até determinado momento, encanta por proporcionar bons recursos técnicos, tendo como principal destaque a bem iluminada e centralizada direção de fotografia em preto e branco, que, apesar da opção levemente piegas em retratar os primeiros anos da carreira de Bernstein de maneira monocromática, funciona à medida que os enquadramentos e a ausência de cores tornam a obra fiel às épocas que ela saúda. A propósito, o saudosismo da era clássica do cinema musical e do teatro é bem empregada a princípio e parece optar por regrar na nostalgia, o que surpreende já que produções que, como Maestro, “cheiram a Oscar”, tendem a conquistar a Academia com essas referências em excesso da velha Hollywood. Mas, como era de se esperar, o fator nostálgico surge como um estrondoso soar de tambores a medida que a cinebiografia se desenvolve e revela que, infelizmente, não é sobre Leonard Bernstein que o longa da Netflix está se referindo, mas sobre um Bradley Cooper e seu insaciável desejo de interpretar o maestro e mostrar para o público como sua grandiosa produção não entrou no catálogo do streaming para brincadeira. É possível afirmar que o mesmo “narcisismo artístico” que ocorre em Nasce Uma Estrela (2019) se repete em Maestro e com uma maior intensidade.

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Imagem: Netflix/Reprodução

Acompanhada das exímias composições do próprio Leonard Bernstein, a narrativa, que inicialmente passeia por diversas fases de sua carreira por meio da trilha sonora, que procura agregar ainda mais reverência ao trabalho do artista, como numa sequência musical que se inspira no clássico Um Dia em Nova York (1949), vai se afastando da até então interessante abordagem artística do maestro para mergulhar numa narcisista visão e execução por parte de seu realizador e intérprete principal, o que acaba por comprometer drasticamente o resultado do longa. É evidente que Cooper tenha se empenhado durante anos para estudar, não só Leonard Bernstein, como a própria regência de uma orquestra, mas o que aqui acontece é uma subutilização de uma extensa bagagem de conhecimento. Há uma incômoda artificialidade na interpretação do cineasta/ator que escolhe por reproduzir, de maneira detalhista, os principais trejeitos de Bernstein, mas sem atribuir uma emoção altamente necessária para diversas situações.

Por mais que o filme insista em trazer à tona os fatos mais pessoais da vida de Bernstein, o roteiro de Bradley Cooper e Josh Singer se aprofunda somente no início da relação entre o maestro e a atriz chilena Felicia Montealegre, interpretada de maneira altamente convincente pela deslumbrante Carey Mulligan, que brilha a todo momento e ainda consegue estabelecer uma parceria agradável com o protagonista de Cooper. Ao longo do segundo ato, quando conflitos íntimos da vida do artista começam a implicar na sua vida pessoal e profissional, não há o mesmo esmero narrativo para aprofun oooidar as situações. A sexualidade de Bernstein, por exemplo, é inserida na trama de maneira não natural, parecendo forçada e sem entusiasmo em explorar as relações do músico de forma detalhista e natural. Isso resulta numa participação pífia e sem química de Matt Bomer, na pele do clarinetista David Oppenheim, um dos amores de Bernstein.

Carey Mulligan e Bradley Cooper desenvolvem uma boa química em “Maestro”. Imagem: Netflix/Reprodução

A falta de coragem por parte do roteiro e direção não implicou somente no desenvolvimento da subtrama envolvendo a sexualidade de Leonard Bernstein e os impactos no seu casamento com Felicia Montealegre, como também no decorrer do segundo ato do longa quando se diz respeito ao comando do músico sob a Orquestra Filarmônica de Nova York, o impacto dos seus trabalhos e até a convivência do músico com os filhos, que é discretamente explorado por meio da relação dele com sua primogênita, Jamie, brilhantemente interpretada por Maya Hawke. Há momentos do filme em que é quase possível esquecer que a produção se trata de um retrato da vida de um dos maestros e compositores norte-americanos mais importantes da história, justamente pelo fato de o processo de criação de sua obra não ter encontrado um espaço em 2 horas e 10 minutos de filme para ter mais destaque.

Ostentando um refinado trabalho de maquiagem e cabelo, além da fotografia já destacada e uma edição que sabe trabalhar boas transições e driblar as confusas passagens de tempo provenientes do roteiro, Maestro é uma produção alinhada que preza pela elegância, mesmo que isso soe como cafona quando levamos em conta a ausência de sutileza visual. Aqui, Bradley Cooper procura conduzir uma orquestra com seu extenso aprendizado adquirido para desempenhar um trabalho digno e que fizesse jus ao nome de Bernstein, mas a ambição pelo mais, intensificada pela presunção do realizador e a pretensão de conquistar a temporada de premiações, acaba por banalizar a beleza que o filme procura proporcionar.

Óbvio que podemos extrair do longa pontos extremamente positivos, como a caracter GG vdfização e interpretação de Carey Mulligan e a química entre sua Felicia Montealegre e o Leonard de Cooper, o uso assertivo das composições do personagem título na trama e até seu desfecho, que chega a comover, mesmo que em baixas proporções.

Maestro está longe de ser uma obra-prima. Mais longe ainda de ser uma produção digna sobre Leonard Bernstein. É quase uma orquestra, que ensaiou nas devidas proporções e ocasiões, semanalmente, mas que não soube assimilar o conteúdo, entregando uma performance desafinada e merecedora de poucos aplausos.

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