ter, 7 maio 2024

Crítica | Máfia da Dor

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Após ter se dedicado quase que exclusivamente à franquia Harry Potter e seu spin off, Animais Fantásticos, David Yates retorna com Pain Hustlers, uma dramatização fictícia baseada em fatos reais, sobre a indústria farmacêutica nos Estados Unidos e a crise dos opioides, remédios comumente prescritos para pacientes com dores fortíssimas, que podem causar vício e levar o paciente a consumir quantias inadequadas, resultando em overdose. O filme é distribuído pela Netflix, que tem investido em diversas produções que abordam o tema em questão, a exemplo de Império da Dor, uma série documental e A Queda da Casa Usher, uma série de terror, esses três projetos lançados esse ano são centrados em torno de chefes da indústria que incentivaram a prescrição desenfreada dessas drogas, acabando com a vida de inúmeros inocentes.

Ou seja, o filme trata do assunto que é uma tendência do momento e ainda conta com um elenco estrelado por Chris Evans, que, apesar de não ser o ator mais talentoso do mundo, é inegavelmente carismático e Emily Blunt, possível candidata ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante da temporada de 2023/2024. A despeito de todos esses fatores a seu favor, o filme tem amargado críticas majoritariamente negativas, o que se deve em grande parte à falta de inspiração com que David Yates conduz o longa. Há uma tentativa de emular a narrativa de O Lobo De Wall Street, sem nunca ter a coragem de ser tão moralmente depravado, há momentos em que a sensação é de estar assistindo a uma versão censurada e menos criativa do filme do Scorsese.

A proposta é justamente apresentar uma versão over dramatizada e fictícia de eventos reais, alterando-se o nome dos verdadeiros envolvidos (apenas para serem revelados ao final). Essa escolha provavelmente se deve porque a ideia era tornar a história de ascensão e queda mais interessante, mas o tiro acaba saindo pela culatra. A forma como os acontecimentos são narrados é burlesca demais e não condiz com o tom semidocumental adotado. A cena em que o primeiro médico receita a nova medicação é completamente absurda, sem que o absurdo seja de fato abraçado pelo restante do projeto. Falta coesão, não é lúdico, nem realista, enquanto tenta ser os dois.

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A personagem principal, Liza Drake, também sofre com a indecisão do texto, ela é descrita logo no começo do filme como alguém impiedosa que não se importa com ninguém além dela mesma, porém nada disso se reflete ao longo das horas seguintes, já que ela parece ser a única com uma bússola moral que não está completamente quebrada. Há momentos em que a obra enxerga em Liza sua salvadora, já em outros, ela é vista como alguém inescrupulosa e disposta a dobrar os limites da ética. O artificio não chega a ser usado para criar profundidade na personagem, pelo contrário, apela sempre para um dos extremos. Por sorte, Emily Blunt é a força vital da trama, esbanjando magnetismo, a atriz entrega tudo aquilo que o filme exige dela e ainda vai além, sua performance é forte e convincente, sem jamais cair na caricatura.

  A despeito de suas irregularidades, o filme consegue, graças ao seu elenco, ser realmente divertido. David Yates pode não ser o diretor mais inspirado, mas tem conhecimento sobre cinema blockbuster e uma coisa que ele aprendeu é como capturar a atenção do público. Há momentos de revirar os olhos, todavia a experiência final acaba sendo positiva e as duas horas de duração passam voando. É o típico filme que beira o ruim, mas consegue se manter levemente acima da média, o suficiente para ser uma opção descompromissada para assistir em uma plataforma de streaming em um domingo à noite.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
Após ter se dedicado quase que exclusivamente à franquia Harry Potter e seu spin off, Animais Fantásticos, David Yates retorna com Pain Hustlers, uma dramatização fictícia baseada em fatos reais, sobre a indústria farmacêutica nos Estados Unidos e a crise dos opioides, remédios comumente...Crítica | Máfia da Dor