seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Medusa

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Em Medusa, uma gangue de jovens mulheres tenta controlar tudo ao seu redor, incluindo outras mulheres, perambulando pelas ruas e espancando aquelas que consideram muito pecaminosas.

Narrativas ambientadas em universos distópicos alternativos costumam abrir portas para inúmeras possibilidades, além de utilizar situações chocantes para fazer alusões a problematizações reais que são constantemente debatidas na atualidade. Após o sucesso de “Mate-me, Por Favor” (2015), a cineasta Anita Rocha da Silveira eleva seus conceitos de terror urbano vivenciado por mulheres a uma categoria mais desafiadora, explorando os horrores do machismo estrutural, misoginia e a opressão sofrida pela mulher no meio que ela vive, quer seja dentro de um grupo ou individualmente. A representação da violência sofrida pelo gênero feminino ocorre em contrastes: ora por Mari, uma jovem criada em um meio religioso, que não vê mal nos absurdos impostos pela igreja da qual participa por achar tudo aquilo normal; ora por Melissa, uma mulher dona de si própria que, quando mais nova, sofreu nas mãos do fanatismo, o que lhe custou a liberdade.

Imagem: Rotten Tomatoes

Inspirada em clássicos de terror dos anos 70 e 80, principalmente no clássico Suspiria de Dario Argento e em demais produções do subgênero giallo filmes italianos, conforme a própria diretora declarou em entrevista à imprensa, Anita Rocha da Silveira dispõe de uma técnica louvável para dar vida à narrativa e direcioná-la de maneira instigante, potente e pretensiosa, no melhor sentido do termo. A cineasta sabe muito bem como encaixar na trama a alusão ao mito da Medusa, uma mulher livre e cheia de personalidade que fora castigada, devido ao seu estilo de vida, por outra mulher a Deusa Atena, desenvolvendo o grupo das Preciosas de Cristo e suas ações para “evangelizar” almas pecaminosas, como o caso da personagem Melissa (Bruna Linzmeyer), uma releitura moderna da criatura mitológica. Tudo isso acompanhado de planos sequência bem construídos, que dispõem de uma fotografia centralizada, com planos que destacam com maestria expressões das atrizes em cena e situações de medo e suspense, muitas vezes sem a necessidade de diálogo para explicar o que está sendo passado em cena.  

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O a predominância do neon em Medusa, além do foco em tons mais fortes que se destaca em meio a uma distopia repleta de sombras e cores mais neutras, assim como a proposta do roteiro em abordar, em sua história, comportamentos questionáveis em atos normalizados pela religião, tornando o mais puro absurdo algo “terrivelmente evangélico”, estão presentes tanto em Medusa quanto em outra produção semelhante, que é “Divino Amor” (2019), de Gabriel Mascaro. Enquanto nesse longa distópico, a não monogamia é normalizada entre uma comunidade evangélica, no filme de Anita Rocha da Silveira o que se torna uma comum prática entre os personagens religiosos é a violência e a submissão. 

Poderoso em suas discussões e inteligente ao associar possibilidades alternativas a duras realidades, Medusa, por outro lado, arrasta um pouco sua trama, ao ponto de tornar, para alguns, seu desfecho um tanto confuso ou com metáforas por demais, exigindo do público um estdo maior sobre o texto do longa e suas personagens.

Imagem: Reprodução

Medusa, além de ostentar de uma estática impecável, direção que reconhece os desafios que lhe foram apresentados e um roteiro inteligente, conta com atuações memoráveis e personagens vem desenvolvidas, como é o caso da protagonista Mari, vivida pela incrível Mari Oliveira que, notavelmente, fez um aprofundado estudo de como uma jovem, que cresceu em um ambiente conservador, se portaria, entregando um trabalho digno de aplausos. Outro grande destaque vai para Lara Tremouroux, que também se entrega para a personagem Michelle, que é repleta de camadas. Bruna Linzmeyer e Thiago Fragoso, que interpretam Melissa e o Pastor Guilherme, respectivamente, possuem pouco tempo em tela, mas não deixam de exibir seus talentos, além de serem importantes na trama.

Chocante, reflexivo, metafórico e, visualmente, belo, Medusa é mais uma obra que prova que Anita Rocha da Silveira é, atualmente, um dos maiores nomes do cinema de terror que nós temos, sabendo dosar medo e aflições em narrativas que prezam por fazer alusões a realidades difíceis.

Vale destacar que a Sessão Vitrine, da Vitrine Filmes fará exibições promocionais de Medusa com preços promocionais, em cinemas selecionados de todo o Brasil.

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