seg, 7 outubro 2024

Crítica | Memória Sufocada

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Coronel Ustra (1932-2015) é o único militar condenado como torturador durante a ditadura do Brasil. Hoje, ele é exaltado como um herói por grupos extremistas e, principalmente, pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro. Mas qual é a verdade? Por meio de buscas pela internet, “Memória Sufocada” mostra que o passado do Brasil vai sendo reconstruído e esbarra no presente.

Nesses últimos anos, foi sentida uma real ausência de produções nacionais que contestavam ou faziam alusões às barbaridades dos anos de chumbo que se sucederam durante 21 longos anos, no Brasil. Após o premiado “Democracia em Vertigem” (2019), indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020, que documentou o processo de impeachment sofrido pela ex-Presidente Dilma Rousseff, era esperada uma produção com nível impacto tão forte quanto a obra de Petra Costa. Memória Sufocada, de Gabriel Di Giacomo, ousa fazer uma analogia ao livro de memórias publicado pelo autor das maiores atrocidades durante a ditadura militar brasileira, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, denominado “A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”, em uma obra que vai contra qualquer tentativa de inverter a história e transformar essa figura, que é reverenciada por figuras questionáveis (como o ex-Presidente Jair Bolsonaro), em um herói nacional.

Foto: Reprodução

Tendo como base os depoimentos de Ustra em uma audiência da Comissão da Verdade, em 2013, o documentário foca na exposição dos atos criminosos cometidos na sede do DOI-CODI de São Paulo, que era chefiado pelo Coronel em questão, além de mostrar os dolorosos depoimentos e vítimas sobreviventes dos sequestros e torturas que eram cometidos pelos militares. Compilando as falas de ex-presos políticos, falácias e esquemas de corrupção durante a Ditadura (acenando para o escândalo da Usina de Itaipu), e até a visão da mídia internacional sobre o governo antidemocrático que o Brasil vivenciou, o longa faz um excelente uso de sua 1 hora e 16 minutos de duração.

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Com direção, roteiro e montagem assinados por Gabriel Di Giacomo, Memória Sufocada é fruto de uma minuciosa pesquisa de arquivos das épocas pré-ditadura, dos próprios anos de chumbo e da atualidade, dando ao documentário a grata oportunidade de se fazer paralelos entre o Brasil de 1964 a 1985 e o de 2016 a 2021, última época esta em que a democracia se viu desestruturada, o que culminou no resultado das eleições presidenciais de 2018. Utilizando uma linguagem que preza pela modernidade virtual, como uma grande navegação pela internet, com direito a propagandas – muitas delas, tiradas do Arquivo Nacional e utilizadas metaforicamente, para ilustrar o Nacionalismo nocivo que se espalhou durante os 21 anos de ditadura -, áudios de ligações telefônicas e reportagens de jornal da época, Memória Sufocada ostenta de uma estética diferenciada.

Foto: Reprodução

Contudo, por mais que o documentário se destaque em apresentar os fatos por meio de uma linguagem mais dinâmica e voltada para as mídias sociais, o excesso de elementos que caracterizam a narrativa chegam a, em um breve momento, confundir o público, ainda mais quando levamos em conta os cortes bruscos ou a mudança repentina de tema a ser debatido.

Memória Sufocada é um longa documentário essencial que, além de desmentir os argumentos de Ustra no livro publicado em 2006, serve como mais um grande registro de como o Brasil deve preservar o sistema democrático, para que não haja mais tirania e repressão de um (des)governo ditatorial.

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