ter, 10 dezembro 2024

Crítica | Meu Amigo Robô

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Numa cidade de Nova York habitada pela vida animal, conhecemos Dog, um cachorro solitário e carente por fazer um novo amigo, que monta um robô para ser seu mais novo companheiro. Após estabelecerem uma grande amizade, os dois resolvem passar um dia de praia em Coney Island, mas quando o robô enferruja e fica impossibilitado de se mexer, a convivência entre os amigos é colocada em jogo. Meu Amigo Robô (Robot Dreams) foi indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme de Animação.

“Amigos nas nossas vidas são como garçons, sempre passam, porém alguns demoram mais do que outros”. Como essa frase do clássico de 1986 Conta Comigo (Stand By Me), dirigido por Rob Reiner, repleta de significado, torna-se ainda mais impactante à medida que envelhecemos! Afinal, quantos amigos de fato permaneceram, após anos de convivência e as inúmeras reviravoltas da vida? Por mais triste que seja a resposta para esse questionamento que surge assim que terminamos de assistir a Meu Amigo Robô (Robot Dreams), é importante lembrar daquilo que guardamos e aprendemos com amizades que deixam de ser reais e passam a se tornar boas lembranças. E é justamente esse fator, que ao mesmo tempo nos devasta emocionalmente, como também nos faz lembrar da importância dessas experiências para a nossa formação humana, responsável por tornar essa animação, que quase passou despercebida nos cinemas brasileiras, um singelo exemplo de produção sobre a temática amizade.

Imagem: Reprodução

A animação hispano-francesa dirigida com grande sensibilidade e carisma por Pablo Berger (Blancanieves) chamou atenção à princípio por ser um dos candidatos ao Oscar de Melhor Animação, em 2024, menos comentado entre seus tão influentes concorrentes. Lançado nos cinemas de maneira discreta, sob um marketing pouco chamativo e quase inexistente, além de receber uma tradução pouco chamativa no Brasil (o título original Robot Dreams intensifica o impacto da trama, além de fazer mais sentido), Meu Amigo Robô era uma produção desconhecida, que despertava o interesse do público mais antenado no cinema de animação tradicional e estrangeiro e que, após um curto período de tempo, foi se tornando popular devido a sinceridade uma produção apta a contar uma boa história, sob um pomposo exercício de criatividade e comprometimento narrativo.

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A ausência de diálogos é um detalhe mínimo da animação, que desenvolve sua rica linguagem através de situações bem descritas pelo roteiro do próprio Pablo Berger, em parceria com Sara Varon, que desenvolve com maestria a trama e os dramas paralelos de Dog e Robô. Os sonhos deste segundo personagem são empregados na trama de maneira sutil, chegando a fazer, com excelência, gratificantes jogos de linguagem e brincar inocentemente com o público, que se vê dentro de questionamentos sobre o é real ou abstrato dentro daquela história. Claro que o excesso de sonhos e falsas esperanças do Robô podem soar repetitivas ou situações tristes desnecessárias para alguns que, principalmente, esperam finais felizes em filmes de animação, mesmo sabendo que a produção em questão não é destinada para crianças. A questão é que, se Meu Amigo Robô não contasse com esse excesso de devaneios e gatilhos, tanto no personagem da máquina quanto em Dog, o resultado final dificilmente teria o mesmo impacto.

Imagem: Reprodução

Capaz de encher os olhos dos saudosistas pelo cinema de animação tradicional, a técnica animada em 2D utilizada no longa-metragem remete de fato os tempos áureos das animações feitas à mão que se prendiam nos inúmeros detalhes de composição das imagens e nas cores. Ostentando um colorido verdadeiramente belo, Meu Amigo Robô une cenários bem desenhados a personagens criados com mais simplicidade, a ponto de lhes atribuir expressões minimamente caricatas e mais suaves, o que auxilia na nossa empatia pelos protagonistas. Dog conta com as mais variadas das expressões, principalmente no segundo ato do longa, onde percebemos sua saudade, culpa e desejo por fazer mais para poder resgatar o amigo da praia. A trama é acompanhada de uma bela e melancólica trilha sonora original, que divide espaço com músicas populares, como “September”, de Earth, Wind & Fire, devidamente selecionadas e utilizadas em momentos específicos do longa.

Equipado de uma premissa aparentemente simples, mas com uma narrativa profunda e altamente cativante, Meu Amigo Robô é mais um grande exemplo de que uma grande história não precisa de palavras para poder emocionar.

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