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    Crítica | Meu Nome É Gal

    Respeitosa cinebiografia tenta fazer bom uso de seu tempo reduzido, mas se atrapalha ao dividir tela com informações em excesso

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    Meu Nome É Gal acompanha a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos, uma menina tímida que desde muito cedo soube que a música guiaria seus caminhos. Criada sozinha pela mãe Mariah, que foi uma de suas maiores incentivadoras, aos 20 anos ela decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, a jovem encontra seus amigos da Bahia: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham os primeiros passos de Maria na música profissional no final da década de 1960, se tornando o ícone que o Brasil inteiro conhece: Gal Costa.

    Tamanha é a responsabilidade de uma cinebiografia, ainda mais quando esta reproduz a vida e a obra de uma personalidade tão querida e cultuada como a saudosa Gal Costa, em transformar trajetórias genuinamente humanas, sendo algumas ainda mais conturbadas e repletas de obstáculos, em um belo conteúdo cinematográfico. Tendo a plena convicção de desenvolver a produção apostando numa sensibilidade bem equilibrada para, dessa entregar um resultado favorável, os realizadores conseguem, não só homenagear o artista cujo a história está sendo adaptada para a linguagem da sétima arte, como também estabelecer uma comunicação funcional para com a história e o público espectador. Meu Nome É Gal é uma cinebiografia que, apesar de tardar em estabelecer tais conexões que permitem a funcionalidade da arte como um todo, consegue se realizar com maestria e respeito para com a maior voz que a música brasileira já viu.

    O longa-metragem ostenta uma dinâmica e detalhista direção de Dandara Ferreira, que já trabalhou sobre a vida de Gal Costa na minissérie documental “O Nome Dela É Gal” (2017), e Lô Politi, que também assumiu, ao lado de Ricky Haraoka, a árdua missão de adaptar os primeiros anos de sucesso da artista em um roteiro por vezes repetitivo, mas carregado de informações, que aproveita grande parte do escasso tempo de metragem do filme (apenas 1 hora e 25 minutos) para dividir a tela com reconstruções históricas, como bem vindas críticas a ditadura militar e o nascimento do movimento Tropicalista musical. Inclusões nobres à trama, que não chegam a ofuscar a história de vida de Gal, tanto que a narrativa acompanha todos os temas interligados, mas que impactariam de forma mais eloquente.

    Por outro lado, longe de ser inconsistente, Meu Nome É Gal introduz com sabedoria os primeiros anos da carreira artística da cantora. Com a graça e comprometimento de Sophie Charlotte no papel principal, que visivelmente se entregou de corpo e alma para interpretar tanto o lado mais tímido da artista, como também a face inventiva, livre e genial de Gal Costa, o filme confia na atriz para estabelecer uma bela homenagem à artista, mesmo sem deixar de lado típicos clichês em filmes do gênero que, apesar de suas trivialidades, não impactam negativamente no resultado final. É importante também destacar os minuciosos trabalhos de figurino, penteados e maquiagens da produção, que captaram de maneira sublime o estilo e energia da artista no final da década de 60 e início dos anos 70.

    Imagem: Paris Filmes/Reprodução

    A contextualização histórica apresentada no filme, apesar de rápida e, nos momentos iniciais, isto é, no primeiro ato do longa, se aparentar um tanto caricata, principalmente em relação ao movimento musical genuinamente brasileiro voltado para a criatividade e elementos que mesclavam o pop ao regionalismo, mas que, ao longo da trama, vai se justificando o porquê de coexistir com a narrativa da cinebiografia. Afinal, seria impossível realizar um filme sobre a vida de Gal Costa sem incluir o Tropicalismo. A partir do segundo ato, temos um deslumbrante foco, não só no processo de criação das obras musicais, mas também na constante luta dos artista contra a ditadura. Rodrigo Lélis e Camila Márdila se empenham e entregam boas caracterizações de Caetano Veloso e Dedé Gadelha, respectivamente. Dan Ferreira, apesar do pouco tempo de tela, brilha como Gilberto Gil. Além dos destaques mencionados, é Luis Lobianco que rouba a cena, como o empresário Guilherme Araújo, sempre que aparece.

    A princípio, os recursos técnicos de Meu Nome É Gal, como a construção de cenários ué remetessem ao final da década de 1960, é modesta e resumida apenas a objetos, como constantes garrafas de refrigerante de vidro que aparecem exaustivamente ao longo da projeção. Foi preciso bastante apelo para imagens de arquivo igualmente em excesso para poder associar a época à narrativa. Pelo menos, no segundo e terceiro ato, a qualidade estética do filme é revista e fica visível uma gratificante mudança da água para o vinho.

    Imagem: Paris Filmes/Reprodução

    Infelizmente, Gal Costa não chegou a assistir a bela homenagem que fizeram para ela. A produção, talvez abatida com a súbita perda da artista, claramente optou por dar continuidade ao longa, mas sem grandes rodeios, ou até mesmo uma complexidade necessária para se falar, através das telas de cinema, da grandiosidade da cantora.

    Meu Nome É Gal é um filme sensível e faz jus a pessoa de Gal Costa, assim como também o faz ao Tropicalismo. Mas, talvez ainda não seja a obra sobre a artista que o Brasil e o mundo precisem ver para saber mais de sua vida e obra.

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