sáb, 27 abril 2024

Crítica | Meu Pai (The Father)

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Provavelmente você já conviveu com alguém de idade avançada que não tenha mais a lucidez normal. Desde pequenos esquecimentos a completa falta de noção crítica da realidade. A mente humana é algo misterioso, mas a idade avançada cria ainda mais obstáculos para qualquer pessoa.

Em “Meu Pai” a ideia é justamente mostrar como a mente de alguém com Alzheimer é complexa, confusa e solitária; dentro de um enredo tocante e extremamente envolvente. E para mim, foi um retrato fiel do que vivi com meu avô, em seus últimos anos de vida, acometido pela doença, e que entre lembranças e esquecimentos, partiu sem sequer lembrar meu nome.

No filme, Anthony (Anthony Hopkins), em um de seus melhores papéis, vive sua vida “comum” de um idoso, que ama música clássica e é apaixonado pelo seu apartamento. Mas, claramente devido a sua idade avançada, sua filha Anne (Olivia Colman), precisa conseguir alguém para cuidar dele, antes de se mudar para Paris. A ideia simplista do roteiro se desfaz nos primeiros minutos, criando uma rotina nada cronológica e deixando os espectadores confusos sobre o que realmente aconteceu. Nesse ponto, claro, a edição do filme se faz essencial, e além de perfeita ela é minimamente angustiante!

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É justamente após este ponto que percebemos que o filme não é realmente narrado pela linha comum de uma edição, e sim, pela linha de raciocínio e da memória de Anthony.

O longa que é baseado numa peça do próprio diretor Florian Zeller, cria várias realidades paralelas que nos deixam extremamente confusos sob qual a real percepção dos acontecimentos devemos seguir, e qual parte deles é realmente real. Ou se todos são reais. Ou nenhum! É esse jogo mental que nos envolve e faz mostrar um Anthony Hopkins tão dedicado e envolvido num papel tão delicado, que sua indicação ao Oscar foi no mínimo essencial.

Do outro lado, Olivia Colman (The Crown) faz com que cada minuto em cena nos faça enxergar que ela é além de uma filha dedicada ao pai, uma pessoa que sofre (e muito) pela condição do mesmo. E nestas cenas é que paramos pra pensar em nossos familiares, dos quais um dia irão precisar de nossos cuidados e em como nós deveremos ser humanos e acima de tudo, pacientes com eles.

A fotografia do filme é outro detalhe a parte que nos envolve em cada aspecto em cena, desde focos detalhistas em quadros ou utensílios de cozinha, até nas análises mais amplas de cada local e personagem.

Talvez seja o melhor filme sobre uma enfermidade tão cruel, mas tão comum entre as pessoas, contado do ponto de vista do doente, pra nos fazer entender o quão difícil (e as vezes impossível) é para a pessoa se manter sã, justamente por não saber ou não se lembrar mais do que é ou foi real. Não por menos, ele foi indicado a 6 Oscars.

Meu Pai é um filme melancólico, duro e sofrível que nos mostra o quanto teremos de ter empatia, compreensão e amor por aqueles que envelhecem hoje, e no mínimo, torcer para que quando chegar a nossa vez, tenhamos pessoas assim por perto.

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Uillian Magela
Uillian Magelahttps://estacaonerd.com
Co-Fundador do Estação Nerd. Palestrante, empreendedor e sith! No momento, criando meu sabre de luz para cortar a lua ao meio. A, SEMPRE escolha a pílula azul. Não faça como eu!
Provavelmente você já conviveu com alguém de idade avançada que não tenha mais a lucidez normal. Desde pequenos esquecimentos a completa falta de noção crítica da realidade. A mente humana é algo misterioso, mas a idade avançada cria ainda mais obstáculos para qualquer pessoa. Em...Crítica | Meu Pai (The Father)