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    Crítica | Meu Sangue Ferve Por Você

    Filme não funciona como a “fábula musical” cegamente proposta pela produção, tampouco dispõe de originalidade e personalidade

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    Ambientado em Salvador no ano de 1979, Meu Sangue Ferve Por Você acompanha Sidney Magal, um dos artistas mais populares e celebrados do país, que, durante a transmissão de um programa de TV, conhece e se apaixona perdidamente por Magali. Para conquistá-la, ele precisa vencer a resistência de Jean Pierre, seu empresário passional, além da desconfiança da família, amigos e da própria moça.

    Em tempos de produções cinematográficas inspiradas na vida e obra de ícones da música brasileira, o público foi agraciado com a sensibilidade de Nosso Sonho: A História de Claudinho e Buchecha, encantado com as boas atuações de Meu Nome é Gal e impressionado com a reverência ao humor brasileiro e ao samba em Mussum: O Filmis. Há, por outro lado, investidas que devemos, no mínimo, considerar lamentáveis, como a catastrófica tentativa de fazer uma cinebiografia em Mamonas Assassinas: O Filme e agora um projeto musical discutível inspirado na história de amor entre Sidney Magal e Magali West, com quem o icônico artista é casado até os dias de hoje, Meu Sangue Ferve Por Você.

    Imagem: Manequim Filmes/Reprodução

    Deixando evidente logo no início que o longa-metragem não tem intenções de adotar uma estética de cinebiografia de Sidney Magal, anunciando-se como “Esta é uma fábula magalesca. Qualquer semelhança com a realidade é uma coincidência cósmica. Obra do destino”, era de se esperar que a longeva e admirável relação entre o músico e sua amada fosse adaptada para os cinemas de maneira instigante, ainda mais sobre um recurso narrativo que abordaria números musicais inspirados nas canções ciganas e de lambada do artista, o que também seria uma valorização desses estilos musicais e do “brega” da qual Magal fora e continua sendo tão associado. Porém, a escrita compartilhada entre o diretor Paulo Machline, Homero Olivetto, Roberto Vitorino e Thiago Dottori se torna um conglomerado de ideias mal aproveitadas e adesões extremamente inúteis à historia, como o foco em personagens secundários que nada acrescentam à trama, e números musicais sofríveis que se querer exaltam a genialidade de Sidney Magal e servem apenas para reforçar caricaturas e estereótipos.

    O romance entre os protagonistas, que, em teoria, seria o foco principal da trama, e simplesmente idealizado e posto na prática sem qualquer esmero ou química entre seus intérpretes. Filipe Bragança, ao representar Sidney Magal, se entrega ao roteiro mal escrito para o seu personagem e entrega uma caricatura do artista, com frases feitas, trejeitos ensaiados e tudo que não passa autenticidade. É visível o esforço do jovem ator de entregar um bom trabalho, pois ele, de fato, parecia querer levar o projeto a sério, mas a má condução de Meu Sangue Ferve Por Você acabou não contribuindo para a sua interpretação. Pode-se dizer o mesmo sobre Giovana Cordeiro, que também é uma excelente atriz que teve o trabalho mal aproveitado pela produção. Outros nomes como Caco Ciocler, como o empresário Jean Pierre, Emanuelle Araújo, que vive a mãe controladora de Magali, e Sidney Santiago, intérprete do amigo Renan, também se entregam ao lamentável pastiche.

    Imagem: Manequim Filmes/Reprodução

    Para um filme que aborda Sidney Magal como um de seus personagens principais, Meu Sangue Ferve Por Você é retido e paupérrimo quanto a sua estética. No lugar de acenar para o “brega” e fazer uma bela homenagem às características desse estilo, amalgamando a música cigana que tanto fez sucesso nas décadas de 70 e 80, o longa escolhe representar tais originalidade de forma vazia, sem alma e sob um olhar mais voltado para conteúdos de redes sociais do que cinematográfico. Os números musicais são simplórios, repletos de cortes que tornam as sequências um aglomerado de cenas picotadas, além de contarem com canções que sequer existiam na época que o filme se passa. Há uma canção do recifense Johnny Hooker em um dos números mais bizarros e aleatórios da produção, além de uma representação no mínimo estranha de “Me Chama Que Eu Vou”, lançada por Magal somente na década de 1990.

    A representação da década de 1970 nesta produção também é de ser questionada. Se não fossem os figurinos extravagantes de Magal, que foram bem reproduzidos, porém pouco utilizados, e veículos, não seria possível associar o longa à época na qual a história se passa. A contextualização histórica é inexistente, assim como costumes, móveis e estilos daquela época. Com investimento notavelmente mediano, a produção de Meu Sangue Ferve Por Você sucumbe aos seus possíveis problemas de orçamento e faz um mínimo esforço para ser criativo.

    Não servindo como romance, nem mesmo como uma fantasia musical para homenagear a força da cultura brega no cenário musical brasileiro, Meu Sangue Ferve Por Você está longe de ter um ritmo quente, ainda mais de ferver nos corações dos fãs de Sidney Magal.

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