ter, 18 março 2025

Crítica | Milton Bituca Nascimento

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Sou um cinéfilo apaixonado por tudo que envolve o cinema — dos gêneros aos estilos, tudo me fascina. Com os documentários não é diferente, mas preciso admitir que consumo muito menos do que gostaria. Refletindo sobre isso, me deparei com uma possível explicação para esse fenômeno. A maioria dos documentários segue uma estrutura muito familiar, como se houvesse um jeito “correto” de se fazer cinema documental. Grande parte adota uma estética e uma forma bem definidas — as paisagens de um bioma significativo para o protagonista, as entrevistas que filmam os detalhes do rosto, ou até mesmo a figura central do documentário contemplando espaços e caminhando entre eles. Isso, de certa forma, acabou me afastando desse tipo de cinema, justamente porque ele se permite explorar tão pouco sua própria linguagem como arte.

Claro, existem exceções, e são justamente elas que costumam me fisgar. Quando um documentário rompe com o formato preestabelecido e expande sua estética em prol de uma visão própria, ele me conquista. Adoro quando o gênero abraça o experimentalismo, por exemplo. Milton – Bituca, de Flávia Moraes, segue em grande parte essa estética mais tradicional do cinema documental, mas tem algo que pouquíssimos filmes têm: Milton Nascimento.

O longa documental mergulha de cabeça no poder artístico de Milton Nascimento, transformando sua trajetória em uma celebração da ancestralidade musical. Mais do que um simples retrato, o filme capta a música como algo intrínseco à existência, quase como um fluxo vital que atravessa gerações. A decupagem brinca com ritmos e sensações transcendentes, fazendo de Bituca não apenas um artista, mas uma entidade, um verdadeiro orixá da musicalidade.

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Na verdade, parece que essa é justamente a proposta: como enquadrar um artista do tamanho de Milton senão como uma figura ancestral? E é exatamente isso que mais me fascina no filme — a forma como ele respeita e abraça essa grandiosidade sem hesitação. A câmera não apenas registra Milton; ela o coloca em um pedestal digno de sua genialidade. Isso transparece em escolhas visuais marcantes, como a tela dividida que cria uma espécie de clonagem visual, quase duplicando sua presença e dotando-o de um poder divino, ou nos momentos em que sua potência vocal é evidenciada em toda a sua força.

Mas o reconhecimento não vem só da estética. Ele também se reflete nos depoimentos das personalidades que surgem ao longo do filme. Ver artistas do calibre de Spike Lee, Wayne Shorter, Gilberto Gil e tantos outros, nacionais e internacionais, falando com tamanha paixão e admiração por Milton é simplesmente magnífico. O documentário entende a dimensão de seu protagonista e se entrega a ela. Além de que, eu gosto muito da ideia de prestar uma homenagem em vida. É muito mais significativo para o artista reconhecer e sentir sua importância enquanto ainda está aqui.

Entretanto, por mais que o longa explore bem a arte transcendental de Milton Nascimento, sinto que o próprio filme não se aprofunda em todas as possibilidades imagéticas que essa arte oferece — e que ele mesmo defende ao longo do documentário. Afinal, é repetido inúmeras vezes como cada show de Bituca é único, como ele ama inovar, experimentar e explorar as infinitas dimensões da música. No entanto, o filme acaba seguindo um caminho mais seguro, preso a uma ideia convencional do “bom fazer”, sem se arriscar tanto quanto poderia. Isso se reflete até na narração da grandiosa Fernanda Montenegro, que, apesar de sua imponência, por vezes soa deslocada, tornando-se quase impessoal. Em alguns momentos, a escolha estética lembra mais uma peça publicitária do que uma real imersão na essência criativa de Milton.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: a arte. Sou um apaixonado por escrever, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes e músicas. Minha devoção? O cinema de gênero e o rock/heavy metal, onde me perco e me reencontro a cada nova obra. Aqui, busco ir além da análise, celebrando o impacto que essas expressões têm na nossa percepção e nas nossas emoções. E-mail para contato: [email protected]
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