sáb, 21 dezembro 2024

Crítica | Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais

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Nos anos 90, durante a ascensão dos programas sensacionalistas, as grandes emissoras brasileiras frequentemente preenchiam sua grade com filmes e especiais sobre crimes que chocaram o país: o caso da “Feiticeira de Guaratuba” (Evandro Ramos), o desaparecimento de Pedrinho, o assassinato da atriz Daniella Perez, e, claro, o caso de Suzane von Richthofen, que chocou o Brasil ao planejar o assassinato dos próprios pais. Com a chegada da era do streaming, essas histórias, que antes pareciam ter perdido sua relevância imediata, passaram a ser recontadas em minisséries que buscam uma abordagem mais profunda e prestigiada, ao invés de simplesmente capturar a audiência pelo sensacionalismo. Ninguém se destacou tanto nessa reconfiguração cultural como o produtor Ryan Murphy, tornando-se difícil separar suas diversas séries antológicas. Onde encaixar os irmãos Menendez? Estão em American Crime Story da FX ou em Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, na Netflix? Será que o horror real de American Horror Story ficou de fora? Afinal, muitos desses títulos são, na verdade, histórias de terror da vida real, reencenadas por elencos renomados.

Monsters The Lyle and Erik Menendez Story is based on the real life story of the Menendez family. (Photo Instagram Netflix US)

Coincidentemente, os irmãos Menendez têm a duvidosa honra de suceder Jeffrey Dahmer na segunda temporada de Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais da Netflix, agora adaptada para uma abordagem mais ampla da série. Ao longo de nove episódios, Ryan Murphy e seu frequente colaborador, Ian Brennan, exploram a história e a psicologia por trás de Erik (Cooper Koch) e Lyle (Nicholas Alexander Chavez), que foram condenados pelo assassinato de seus pais, José (Javier Bardem) e Kitty (Chloë Sevigny). O primeiro episódio lança uma rede ampla ao acompanhar os irmãos nas semanas que se seguiram ao crime em 1989, antes de sua prisão. A série começa com um desconfortável funeral realizado em uma instalação da Directors Guild, devido ao fato de José ter trabalhado na indústria, e vai e volta entre flashbacks que revelam a disfunção familiar, o planejamento do crime e o próprio assassinato. Desde o início, há uma tensão – nem sempre produtiva – entre a tendência de Murphy para o horror exagerado e o olhar mais contido dos cineastas que ele emprega, como Carl Franklin, um especialista em noir, que dirige os dois primeiros episódios.

A aparente estratégia é entregar ao público o sensacionalismo esperado e, em seguida, aprofundar-se nas ambiguidades perturbadoras e inesperadas. Com múltiplos pontos de vista sobre os eventos que antecederam o crime e suas consequências, os episódios posteriores tornam-se (relativamente) mais focados. Isso é especialmente evidente no quinto episódio, que quebra o formato ao apresentar uma única conversa de 35 minutos. Durante essa sequência, a advogada de Erik, Leslie Abramson (Ari Graynor), questiona-o sobre os abusos horríveis que ele alega ter sofrido nas mãos de sua família, particularmente de seu pai. 

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Entretanto, no episódio seguinte – que explora a origem de José e Kitty – o tom volta a ser semi-inscrutável, com disfunções familiares mal explicadas. Mesmo com o espectro de um possível abuso multigeracional, os repetidos vislumbres da psicologia dos pais Menendez não oferecem muita profundidade. As tentativas da série de apresentar múltiplos pontos de vista acabam resultando em uma cansativa alternância de informações contraditórias. A atuação de Bardem molda José como um monstro, independentemente da escala real dos acontecimentos, enquanto episódios posteriores levantam ainda mais questionamentos sobre o que os irmãos poderiam ter inventado – e até que ponto a história foi distorcida.

A série parece querer ser multifacetada, mas acaba tornando-se repetitiva, alternando entre os irmãos como vítimas de abuso e como manipuladores sociopatas. Apesar dos esforços de atores como Graynor e Bardem para dar profundidade aos personagens, os melhores elementos da série acabam evidenciando o desequilíbrio do conjunto.

Talvez a verdadeira questão seja se esse material realmente justifica oito ou nove horas de duração. Certamente merece mais nuance do que um telefilme sensacionalista de 96 minutos, mas será que precisa se estender por tanto tempo? Na década de 90, esse mesmo conteúdo sobre os irmãos Menendez poderia facilmente preencher uma semana de programação. Monstros tenta justificar sua duração épica ao relacionar os eventos a uma narrativa maior sobre Los Angeles nos anos 90 – com tumultos, terremotos e até OJ Simpson – mas acaba disparando para todos os lados. O personagem do escritor de crimes, interpretado por Nathan Lane, é um exemplo disso. A série tem seus momentos intensos, mas, no geral, parece que Murphy se desgastou ao explorar o folclore do crime verdadeiro do final do século 20. Talvez seja hora de dar um descanso à reinterpretação dos grandes casos de tabloide.

A série está disponível da Netflix.

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