seg, 18 novembro 2024

Crítica | Morte, Vida e Sorte

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Duda (Luiza Válio), Bebel (Eva Bensiman) e Tati (Maria Paula Lima) são jovens atrizes não muito bem sucedidas que decidem montar a peça de teatro que escreveram juntas. Endividadas e correndo o risco de serem despejadas do seu apartamento, as três se inspiram nos seus filmes favoritos para encontrar a solução de seus problemas. Morte, Vida e Sorte é produção nacional que mistura humor ácido, dramas pessoais e referências ao teatro e ao cinema.

Chega a ser gratificante ver como o cotidiano e seus altos e baixos tendem a render grandes ideias para a construção de uma boa história. O mesmo pode ser sentido e dito quando nos deparamos com o clássico “a vida imita a arte”, assim como “a arte imita a vida”, o que, curiosamente, é empregado de maneira até inesperada no inicialmente pouco ambicioso Morte, Vida e Sorte, de Alexandre Martins, produção esta que se revela uma grata surpresa graças a um desfecho que consegue superar o caminho conturbado até chegar ao ponto almejado.

Pode ser arriscado afirmar que, ao entendermos a concepção da narrativa em estabelecer uma história mais introspectiva, que acaba resultando em absurdos baseados em trivialidades da vida real que podem ser facilmente confundidas com superficialidades, vitimismos e até hipocrisias, o roteiro de Morte, Vida e Sorte acaba se tornando um exercício ousado de identificação e empatia, ainda mais quando nos demos conta de como, de fato, a classe artística sofre com a falta de valorização no Brasil. Óbvio que não é prudente compactuar com as ações do trio protagonista, mas o fato do texto do próprio realizador Alexandre Martins se esforçar para convencer o público emotiva e racionalmente com as situações apresentadas, mesmo que de maneira primeiramente rasa e visivelmente apressada, é um ponto a ser destacado, pois este é capaz de atribuir personalidade ao longa, assim como também faz as suas louváveis opções de técnicas utilizadas.

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Imagem: Reprodução

A escolha da produção pela fotografia em preto e branco não só estimula um curioso ar mais artístico à obra, como também estabelece um genuíno casamento entre estética e história. A ausência de cores ilustra bem as dificuldades enfrentadas pelas protagonistas, assim como os jogos cênicos que envolvem iluminação e construção de cenários. Há enquadramentos fechados que valorizam a ideia íntima de Morte, Vida e Sorte, além de um sucinto trabalho de edição que permite que os cortes não interfiram na compreensão do que se passa em cena. Assertiva, a fotografia e a montagem, assim como a trilha sonora, agregam valores para o longa e conseguem superar a tímida habilidade de condução por parte do seu diretor, que, por outro lado, consegue atribuir bastante carisma às personagens principais.

Dotadas de distintas personalidades, Duda, Bebel e Tati, são interpretadas pelas promissoras atrizes Luiza Válio, Eva Bensiman e Maria Paula Lima, respectivamente, que conseguem superar uma certa timidez do roteiro e entregar atuações convincentes, ultrapassando clichês e situações que não foram escritas com esmero pelo roteiro. Das protagonistas, Eva Bensiman é quem mais entrega uma atuação catártica de sua personagem, o que surpreende.

Eva Bensiman e Luiza Válio (em destaque), em cena de Morte, Vida e Sorte. Imagem: Reprodução

Chama atenção a inclusão de uma linguagem metafórica assertiva e no terceiro ato do longa, o que subverte quaisquer superficialidade antes exposta pelo texto, além de dar Morte, Vida e Sorte uma conclusão bem elaborada. Referências ao cinema e às artes cênicas também são bem empregadas na narrativa, principalmente devido a sutileza.

Morte, Vida e Sorte é mais um grata surpresa que nos prova, mais uma vez, como a tendência do cinema nacional independente é decolar com suas boas histórias.

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