ter, 5 novembro 2024

Crítica | Mulher-Hulk: Defensora de Heróis

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Afinal, qual o poder da metalinguagem? Deadpool trouxe a quebra da quarta parede para os filmes da Marvel (sim, ainda sob o selo Fox e não Marvel Studios) com grande sucesso e com ar de ineditismo para o gênero. Essa característica de humor metalinguístico que se tornou definidora do mercenário tagarela, no entanto, foi popularizada nos quadrinhos por outra criação da editora: A Mulher-Hulk. A passagem de John Byrne nos anos 80 pela personagem se tornou um clássico ao dar para Jennifer Walters a consciência de que não passava de uma criação em uma revista focada em um público majoritariamente masculino, colocando todo seu contexto de existência no campo da piada ao tornar explícitos os absurdos que envolvem uma rotina super-heróica e a sexualização de corpos femininos no meio.   

Agora, em 2022, Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, última adição ao catálogo de séries do MCU, busca encontrar no espírito despretensioso e metalinguístico de seu auge no material base uma forma de se destacar entre o cada vez mais inchado cenário super-heróico.    

A série é, de fato, despretensiosa. Não existe um senso geral de urgência e intensidade que poderia ser contrariado pelas constantes piadinhas, o mundo de Jennifer é por vezes trágico mas sempre com uma nota de leveza. A história usa do desconforto da protagonista com seus recém-adquiridos poderes para dar o tom da narrativa e o fato de que a inexistência de sua identidade secreta representa mais um obstáculo para uma advogada que quer construir uma carreira, fator usado para extrapolar a desigualdade de gênero no mercado de trabalho para o campo do fantasioso. O problema é que apesar de ideias bem delimitadas e de pauta importante o programa acaba se sabotando em sua superficialidade. Existem boas sacadas e a série possui consistência dentro da proposta mas parece sempre estar a alguns passos de distância de encontrar potência no que faz.   

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Tatiana Maslany entrega o que pode no papel principal. Ela é divertida, espontânea e expressiva mas obviamente tem que lidar com o elefante na sala: a computação gráfica. Desde o lançamento do primeiro trailer da série, o cgi envolvendo a Mulher-Hulk se tornou motivo de discussão. Na série, com o tempo se torna algo naturalizado(muito graças ao ambiente leve), mas é inevitável passar pelo vale da estranheza até chegar nesse ponto.   

O ponto alto do programa se encontra nos conflitos de Jennifer e em seu poder metalinguístico, relação intensificada no episódio final da temporada. A metalinguagem pode ser usada de formas diferentes para causar impacto, dentro da própria série ela é usada majoritariamente para efeito de humor mas em seu clímax entende nesse poder a capacidade de ressignificar a jornada emocional da protagonista para algo mais conclusivo. É uma ótima ideia que foge em muito ao que é feito em outros programas da Marvel mas mesmo usando de algo que, para esse universo, soa muito disruptivo ainda serve como forma de reafirmar alguns vícios da Marvel Studios ao usar de um novo conceito mas nunca se renovar quanto à linguagem formal dessas produções. A unidade estética (e cada vez menos polida) do MCU, o fato de que a maioria dos diálogos soa familiar e que a temática nunca parece se aprofundar fazem com que eventuais rupturas menores possam parecer grandiosas quando são, na verdade, pequenos passos rumo a uma maior liberdade criativa debaixo do guarda chuva de Kevin Feige, homem responsável por alimentar uma legião de fãs agarrados à cronologia e grandes feitos mas pouco interessados em histórias que parem em pé por si.   

Mulher-Hulk: Defensora de Heróis encontra seu lugar no MCU como a adição mais consciente do efeito de algoritmos sobre si mas não escapa de ser só mais um produto desse contexto.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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