ter, 30 abril 2024

Crítica | Música

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Rudy Mancuso começou sua carreira na internet através de um canal no Youtube e desde então já trabalhou como apresentador, ator, músico e agora faz sua estreia na direção com o longa-metragem, Música, um filme semiautobiográfico, no qual, além de dirigir, o rapaz atua como o protagonista de mesmo nome. Na trama, Rudy possui uma condição rara que o permite transformar sons cotidianos em ritmos musicais e busca conciliar esse talento – que as vezes também se manifesta como uma espécie de tormento, pois não permite que ele foque em outras coisas ao seu redor – com as pressões surgidas com o iminente fim da faculdade e o começo da vida adulta. Sofrendo para decidir os rumos de sua carreira, ele ainda precisa lidar com os dilemas do seu coração, que está dividido entre sua namorada de longa data e Isabella, uma paixão inesperada.

O filme usa essas complicadas relações amorosas para ilustrar e salientar as indecisões de Rudy, enquanto Haley representa uma escolha mais segura, ela é alguém que ele conhece a vida inteira, uma boa aluna, que planeja um futuro em um trabalho “tradicional” que lhe abriria portas para uma possível ascensão social na cidade grande, já Isabella simboliza o extremo oposto, ela apoia os sonhos do rapaz de se tornar artista, sem precisar sair de Nova Jersey e, ao contrário de Haley, compartilha com ele a descendência Brasileira. E por falar em Brasileiras, outra figura feminina importante nesse filme é a mãe superprotetora de Rudy – interpretada pela própria mãe dele na vida real -, que sonha em ver o filho namorando uma menina do Brasil.

Essas personagens femininas, apesar de representarem um papel de destaque dentro da narrativa, acabam sendo reduzidas a esses estereótipos “gringa que só pensa em sucesso profissional” versus “latina de alma leve que realmente entende o lado artístico do protagonista” e no meio disso a “figura materna intrometida”. Elas não têm motivações e desejos próprios, funcionam apenas para mostrar as possibilidades de futuros para ele. Talvez isso ocorra por se tratar de um projeto tão autobiográfico que se esquece de prestar atenção em qualquer pessoa que não seja em si mesmo, e por isso falha ao tentar desenvolver seus demais personagens. Algo que também afeta Anwar, o melhor amigo cuja única personalidade é dar conselhos enigmáticos e pouco eficientes.

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Se por um lado Mancuso cai nas armadilhas dessas tropos batidas, por outro, ele demonstra um estilo interessante de filmar, principalmente as cenas mais “musicais”, ainda que o filme não chegue a ser propriamente um musical no senso tradicional da palavra, envolve várias passagens em que o protagonista mergulha nos ritmos a sua volta, criando uma espécie de orquestra com os sons e ruídos do dia a dia e esses momentos são registrados de maneira bem criativa, que possibilita que o público construa com ele aquelas melodias a partir da sonoridade de cada objeto ao seu redor, analisando cada um separadamente para depois uni-los em uma sinfonia muito bem coreografada. Nessas cenas, é possível realmente mergulhar em sua psique e acompanhar seu processo criativo envolvendo música, o que é bem mais interessante do que seguir seus entraves amorosos.

Infelizmente o diretor parece discordar e prefere focar cada vez mais no triangulo amoroso – que é quase um quadrado, de tanta interferência da mãe – do que no drama sobre o artista torturado capaz de extrair arte da banalidade diária. E é aí que acaba perdendo um pouco a força que poderia ter, tornando-se apenas uma opção de comédia romântica mediana. De toda forma, Rudy Mancuso faz um debut competente, com um estilo que se mostra promissor caso venha a ser melhor desenvolvido no futuro.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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