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    Crítica | Mussum: O Filmis

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    A vida e a obra de Antônio Carlos Bernardes Gomes é relembrada na cinebiografia Mussum: O Filmis, onde o ator Aílton Graça dá vida ao artista que levou alegria para muitos brasileiros entre as décadas de 1960 e 1990. O longa conta a trajetória do músico e humorista carioca, desde o início de sua carreira no grupo musical Os Originais do Samba até sua icônica participação em Os Trapalhões.

    É comum resumir toda uma conturbada trajetória de uma icônica figura, quer seja política, artística ou intelectual, em uma cinebiografia pretensiosa que mescla uma representação da história como ela, de fato, se sucedeu com a fantasiosa reimaginação de fatos e de pessoas. O apelo para o emocional e a tortuosa batalha para evitar o piegas e, até mesmo, o brega, também são características desse tipo de produção que está sempre em alta, principalmente em países com um grande número de personalidades icônicas. Mussum: O Filmis, de Sílvio Guindane, traz um certo frescor para essa nova onda de biografias reimaginadas para a sétima arte que não se preocupam em entregar uma narrativa fora da curva, sendo uma produção que, apesar de se comportar como a um longa que se encaixa neste gênero, apresenta notáveis peculiaridades que tornam o filme uma grata e emocionante surpresa.

    Não havia uma melhor maneira de prestigiar Mussum se não em uma produção que valorizasse o samba e o humor brasileiro. A cinebiografia de Sílvio Guindane, escrita detalhadamente por Paulo Cursino, tem como base o livro “Mussum – uma história de Humor e Samba”, de Juliano Barreto, tendo a proeza de entregar um material que resume bem a trajetória do artista na música e na televisão, abrindo espaço para seus conflitos pessoais e até nas suas investidas em ações sociais. A sábia divisão do longa em etapas da carreira do saudoso Antônio Carlos proporciona uma narrativa dinâmica, tradicional em cinebiografias, porém temperada com uma comunicabilidade forte e bem distribuída, que se amálgama com o drama, felizmente longe de ser piegas, principalmente sustentado pelas incríveis atuações do elenco e pelo modo como a narrativa reverencia o samba e a história da comédia na televisão brasileira.

    Aílton Graça e Neusa Borges em cena de Mussum: O Filmis. Imagem: Reprodução

    Mussum: O Filmis é nobre ao se comportar como uma ode ao ritmo mais carioca que existe, que é o samba, e a televisão humorística. Respeitosa, a obra evita escancarar estereótipos e presta belas homenagens a ícones, sobretudo da música negra, brasileira, como Elza Soares, Cartola, Jorge Ben Jor, Alcione e o próprio grupo Os Originais do Samba, que está bem caracterizado e representado por um elenco competente. Até mesmo Grande Otelo (aqui interpretado por Nando Cunha) é lembrado na cinebiografia, mostrando o famigerado episódio em que o artista teria originado o apelido “Mussum” para Antônio Carlos Bernardes Gomes. São esses detalhes que tornam o longa de Sílvio Guindane uma obra completa, porém, em alguns momentos, é inegável o excesso de informações, chegando a acelerar suas apresentações e desenvolvimentos, a fim de não extrapolar a metragem do filme. O problema de não deixar passar os fatos importantes da vida profissional e pessoal de Mussum é justamente acumular os acontecimentos e lançá-los na cinebiografia como elementos que intensificam tanto a carga dramática quanto cômica da produção. Pelo menos, não há uma desordem narrativa em Mussum: O Filmis, tampouco problemas de coerência, apenas uma rápida sucessão de fatos que não chegam a prejudicar o projeto.

    É gratificante apreciar as interpretações de Thawan Lucas, Yuri Marçal e Aílton Graça como Mussum em três etapas da vida do artista. O destaque maior, evidentemente, vai para Graça, que, além de ser fisicamente idêntico ao ícone do humor, se entrega de corpo e alma, não só para imitar os trejeitos do artista, mas também acrescentar ao longa uma carga dramática muito bem vinda e repleta de nuances, quando está divide espaço com o humor e a irreverência proposta pela produção. Cacau Protásio e Neusa Borges brilham como Dona Malvina, mãe do músico e humorista, em momentos distintos, atribuindo toda a emoção necessária para o impacto de sua cenas. Neusa e Aílton protagonizam um dos momentos mais singelos entre mãe e filho do cinema nacional em anos. Como os integrantes dos Trapalhões, que ostentam uma nostálgica participação no filme, temos os excelentes Gero Camilo (Renato Aragão/Didi), Felipe Rocha (Dedé Santana) e Gustavo Nader (Zacarias).

    Os Trapalhões em Mussum: O Filmis. Imagem: Downtown Filmes/Reprodução

    Com espaço para reconstruções bem trabalhadas de números humorísticos e apresentações musicais de samba, que sofrem um tanto pela falta de sincronia das imagens com a trilha sonora, são, por outro lado, bem ensaiadas e caracterizadas pela direção de arte que não poupou a construção de um cenário fiel às épocas em que o filme se passa. Imagens de arquivo, figurinos, utensílios e veículos também caracterizam as décadas de 60, 70 e 80 com maestria.

    Mussum: O Filmis é uma grata homenagem a um dos maiores nomes do humor brasileiro, sendo também uma produção que valoriza a arte brasileira de fazer música e televisão. Com atuações marcantes de Aílton Graça e Neusa Borges, o longa é uma cinebiografia que todos os fãs esperam para se emocionar para “cacildis”.

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