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Início Críticas Crítica | Não! Não olhe!

    Crítica | Não! Não olhe!

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    Jordan Peele se tornou uma baita figura na Hollywood moderna, seu primeiro longa: Corra! se tornou um sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria, um dos filmes mais comentados dos últimos anos. O cineasta sempre deixou claro sua paixão e inspiração em diretores como Alfred Hitchcock e Roman Polanski, influenciando suas obras tanto na temática e narrativa. Agora, trabalhando com um sci-fi tipicamente clássico, Jordan busca novamente essa atenção do público, mas sem cair no perigoso caminho do hype criado em torno de toda sua imaginação audiovisual.

    Acompanhamos a família Haywood, famosos criadores e adestradores de cavalos, que, após a perda de um ente querido, precisam lidar com fenômenos, aparentemente extraterrestres, na região da fazenda. Com a ajuda da irmã Emerald, OJ quer provar ao mundo o que está acontecendo. Não! Não Olhe! É curioso em diversos pontos, pra começar a escolha simples do título (em inglês Nope), segundo o diretor é uma espécie de interação com seu público, usar essa simples palavra para se conectar com o telespectador, ainda mais um filme de terror, onde geralmente frases como “Não” são proferidas pelos mais medrosos do gênero.

    É possível afirmar que Não! Não Olhe! é o filme mais maduro de Jordan Peele, é uma verdadeira criação de suspense usando as sensações de cada telespectador. O diretor quer esconder e fazer o público duvidar até o momento da revelação, é um grande blockbuster a moda antiga. A semelhança perceptível com diretores como Steven Spielberg e M.Night Shyamalan é palpável, desde a paciência de Tubarão até a criatividade usada em Sinais. Ele busca deixar seu público à deriva, diferente dos outros dois filmes onde as metáforas eram mais claras e o roteiro se sustentava muito em cima disso. Aqui, o longa permeia dois lados: a experiência visual e sensorial.

    Infelizmente alguns detalhes da trama acabam que reveladas durante os trailers do filme, o diretor sempre buscou esconder o máximo de surpresas em seus lançamentos, mas ainda sim é possível se surpreender com o caminho levado na história. Vamos descobrindo o mistério juntamente com os personagens, desde os primeiros estranhamentos, investigações até chegar nas abduções e o inevitável conflito. Em diversos momentos a câmera é colocada no mesmo ponto de vista dos personagens, sempre de olho no céu, procurando algum objeto estranho ou movimento bizarro. A ótima direção nos passa a mesma sensação de desespero e aflição, é uma combinação de curiosidade e medo.

    A experiência visual é incrível, o camuflamento da ameaça é obvio, mas as imagens deixam claro o que está acontecendo. Não precisa gerar o terror apenas de noite, as situações encontradas no dia são tão tensas como, o senso de profundidade e escala é impressionante e a imersão criada aqui aumenta a importância dos acontecimentos. Já a sensação passada aqui permeia interpretações livres do público, apesar da relação estabelecida com o espetáculo e as brincadeiras com o estado atual das produções de Hollywood. Desde as críticas ao uso exagerado de CGI até as pontadas clássicas do diretor envolvendo questões raciais e históricas.

    Universal Pictures/ Divulgação

    A obra felizmente é sustentada por seu ótimo elenco, escolhido a dedo pelo diretor. Os destaques valem para principal dupla do filme: Daniel Kaluuya e Keke Palmer, ambos funcionando numa espécie de preto e branco, mas curiosamente se complementando. Oj permeia a estranheza, sempre calado, apenas abrindo a boca apenas para o essencial. Um olhar na maioria do tempo para baixo, felizmente se tornando uma ferramenta para a ameaça encontrada. Já Emerald é o exato contrário de seu irmão, muito carisma e personalidade, sempre buscando o caminho mais justo, apesar de uma loucura aqui ou ali.  O personagem de Steven Yeun(muito bom por sinal) apresenta uma trama paralela interessante envolvendo um ocorrido trágico em um programa infantil com um chimpanzé, sem dar muitos detalhes, essa subtrama é curiosa e interessante de se acompanhar, mas passa uma sensação de nunca chegar aonde o diretor está buscando, acaba que deixada de lado devido ao plot principal, o personagem poderia ter tido mais espaço e profundidade.

    Jordan Peele acerta de novo, trazendo o projeto mais ambicioso de sua carreira (até agora!), e provavelmente o que causará mais divisão entre os gostos populares. Reações ao final como “Você entendeu? Qual o significado de tudo isso?” são completamente normais e ajudam nos pós debate do filme, o diretor consegue a curiosidade do público. Não! Não Olhe!  foca no espetáculo visual, muitos podem interpretar como um filme vazio, mas o objetivo principal do projeto é alcançado. É autêntico, divertido, tenso e traz uma sensação rara que apenas blockbusters mais antigos eram capazes de combinar. Um dos longas mais interessantes de 2022.

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