Em Narvik (Krampen om Narvik) são mostrados os acontecimentos da primavera de 1940, na cidade litorânea da Noruega que era um ponto estratégico para os alemães abastecerem seu país com minério de ferro, onde 200 noruegueses pegam em armas para impedir que o local fosse sitiado pelos nazistas, sendo a primeira grande derrota de Hitler. Entre os soldados, está o jovem cabo Gunnar Tofte, que ele luta pela liberdade de seu país, enquanto sua esposa, Ingrid, é forçada a colaborar com os invasores fascistas.
Geralmente, filmes de guerra tendem a tanto exaltar heroísmo quanto focar nos infortúnios acarretados pelo conflito, sendo, na maioria das vezes, difícil equilibrar suas emoções em meio a uma rajada de histórias paralelas presentes em produções do gênero. Por outro lado, em longas-metragens que ostentam de uma minuciosidade narrativa que se preocupa em desenvolver cada drama apresentado em tela, como é o caso de Narvik, deve-se tirar o chapéu para a equipe da produção, pela habilidade em conciliar o drama, a ação e os fatos históricos que estão sendo retratados.
Assinado por Christopher Grøndahl – tendo como base o argumento de Erik Skjoldbjærg, Sebastian Torngren Wartin e Live Bonnevie -, o roteiro de “Narvik” tem uma notável estrutura e chama atenção por não se desvirtuar dos acontecimentos reais que levaram à batalha na pacata cidade de um país, até então, neutro. A fidelidade histórica, porém, pode não despertar grande interesse do público, que é capaz de enxergar os primeiros minutos do filme como didático em excesso, até por contar com imagens de arquivo da Segunda Guerra Mundial, recortes de jornal e, ao longo do filme, uma série de textos que resumem os acontecimentos. Se, por um lado, o apelo detalhista pelos acontecimentos históricos tornariam “Narvik” uma obra, de fato, autêntica, por outro o seu grande triunfo também seria enxergado como um “mais do mesmo” em filmes de guerra. Deixo claro que, na opinião deste crítico, prezar pelo detalhismo histórico não é um erro aqui, tampouco compromete com a obra.
No plano fictício de “Narvik”, acompanhamos o drama enfrentado pelo cabo Gunnar Tofte (Carl Martin Eggesbø), que se tornou prisioneiro de guerra dos nazistas, e sua esposa Ingrid (Kristine Hartgen), que se viu obrigada a trabalhar para o exército alemão como tradutora, a fim de proteger o filho de 6 anos do casal. Cada um, principalmente Ingrid, passa por dilemas e desafios morais que, ao longo da trama, vão se intensificando, mostrando que as represálias alemãs gera inúmeras lutas e motivos para lutar.
O diretor Erik Skjoldbjærg tem grandes habilidades em conduzir sequências de batalha, a ponto de conseguir transformar um set de filmagens em um front, graças a minuciosa filmagem, cortes precisos, uma direção de arte sucinta e o gracioso equilíbrio entre efeitos práticos e sutis e bem construídos efeitos visuais em computação gráfica. O realizador também faz um bom uso de seus personagens centrais para movimentar seus respectivos dramas, com Carl Martin Eggesbø e Kristine Hartgen entregando toda a emoção necessária, principalmente nos momentos finais do longa. Faltou, porém, um pouco de atenção extra para os coadjuvantes, que também são essenciais para o desenrolar da trama, como a membro da resistência norueguesa Bjørg (Mathilde Holtedahl Cuhra) e o cônsul alemão Wussow (Christoph Bach).
Com boas cenas de combate, fidelidade aos fatos históricos e um drama fictício que convence, “Narvik” é um acerto da Netflix norueguesa no que se diz respeito a produções sobre horrores e feridas irrecuperáveis casadas pela Segunda Guerra Mundial.