sáb, 16 novembro 2024

Crítica | Noites Alienígenas

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Desde 2016, o Acre tem sido tomado com uma onda de violência e terror, principalmente sua capital, Rio Branco. A principal explicação é uma guerra entre facções criminosas pelo controle do tráfico de droga na Amazônia. A origem dessa violência começa no sudeste, em 2016 as principais organizações criminosas do país racharam, o PCC e o Comando Vermelho. Ocorreu justamente essa migração e a disputa pelo controle da região amazônica, e assim iniciou essa guerra na região entre diferentes forças criminosas pelo controle. Uma situação horrível para os habitantes do Acre, e justamente no importante Noites Alienígenas podemos presenciar algo que infelizmente não têm hora para terminar.

Os três amigos de infância Rivelino, Sandra e Paulo cresceram na mesma periferia e se reencontram na cidade de Rio Branco. No entanto, o contexto é trágico com a chegada de perigosas facções criminosas do sudeste do Brasil na Amazônia. Nesta história, as fronteiras entre a cidade e a floresta se misturam.

O longa se trata justamente dessa luta entre a ancestralidade de uma região contra o avanço infeliz do crime, diretamente no controle territorial, mas também  chegando inevitavelmente nas famílias, com filhos ligados a organizações ou vício em drogas. São temas universais abordados aqui, desde a alternativa do crime como a maneira mais fácil ajudar ou se ajudar financeiramente, a religião como escape ou até mesmo cura de todo o mal instaurado no território, e também as ligações quebradas ou sendo construídas entre seus personagens. As abordagens aqui podem funcionar para filmes parecidos em outras regiões do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas existe algo bastante pessoal durante o filme, o diretor Sérgio de Carvalho busca essa reapresentação do estado pouco falado chamado Acre.

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O cenário, situações e personagens são muito sustentados pelas principais características da região: sua proximidade com a floresta Amazônica, as principais ligações indígenas tanto em questões familiares, mas também esse lembrete da força ancestral. A região física em si deixa muito claro a diferença para os demais filmes, constantemente temos rios, matas, construções mais precárias ou antigas.

Durante o filme vamos sendo apresentados para mais e mais personagens, mostrando suas ligações, problemas e cotidiano. O longa tem uma sensação bastante magnética ao assisti-lo, a câmera geralmente sempre seguindo suas pessoas, acompanhamos suas caminhadas, bastante close nos rostos, o início do filme já estabelece isso, dando palco para o ator Chico Diaz em uma espécie de monólogo “bicho grilo” misturando a improvisação e o talento do mesmo. Outro acerto é essa interação entre atores mais veteranos e os mais iniciantes, no geral todos estão bem, até mesmo os personagens com pouquíssimo tempo de tela.

A obra infelizmente passa a sensação de mais um prólogo do que uma história com começo, meio e fim. É fato que muitos personagens são inseridos aqui, mas nem todos funcionam como deveriam, a mistura da curta duração do filme com o pouco espaço de personagens como Sandra, Kika, entre outros só deixa a sensação de ter mais coisa para ser contada, ele abre um leque grande para uma história que poderia mostrar muito mais.

Noites Alienígenas é um filme importantíssimo para o cinema brasileiro, tanto no assunto que toca quanto na representação de uma região que até então não possuía voz no audiovisual. Ele trata de temas universais, mas também apresenta seus problemas e características regionais. É uma mão bastante clássica no modo em que filma, câmera na mão, longos planos e conversas. É uma janela na intimidade de uma região com problemas gravíssimos, vemos toda a desesperança instaurada, mas também a salvação que existe através da ancestralidade e família. No final das contas, apesar de não entregar tudo que podia, é um feito marcante a mensagem que o filme passa ao início de seus créditos.

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