sex, 22 novembro 2024

Crítica | O Acidente

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Na produção nacional O Acidente, a ciclista Joana sofre um estranho acidente, em que é carregada no capô de um carro por alguns metros. Ela sai ilesa e decide esconder o ocorrido da companheira, porém, um vídeo do acidente viraliza na internet e ela se vê obrigada a prestar queixa na polícia. Joana, então, começa aos poucos a se envolver na vida da família da pessoa que a atropelou. 

Há casos, alguns raríssimos e pouco divulgados ou detalhados pela mídia, e que a pessoa taxada como vítima de determinada situação se encontra numa reviravolta de fatos e descobre, por meio de diversos fatores, que a história, assim como muitas, tem dois lados e que ela, talvez, não seja a única prejudicada da situação. É com melancolia e um aprofundado estudo psicológico de personagem que “O Acidente”, produção nacional do Rio Grande do Sul, reflete como meros incidentes de trânsito pode acarretar consequências desastrosas para os envolvidos.  

O roteiro de Marcela Ilha Bordin e Bruno Carboni, que foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Beijing (2023), é inteligente ao extrair de uma inesperada situação, que pode ser até cotidiana nas grandes metrópoles, um mar de consequências que afetam não só seus 3 indivíduos envolvidos (a ciclista Joana, a motorista Elaine e seu filho cinegrafista Maicon), mas também quem convive com as personagens, gerando conflitos tanto internos quanto externos. A narrativa também procura se distanciar da exploração de vulnerabilidades, apostando em mostrar uma escassez de reações por parte da pessoa visivelmente esgotada e afetada psicologicamente. A partir disso, devemos destacar o desenvolvimento da personagem Joana, vivida por Carol Martins, uma mulher reservada e, talvez, a mais real de todas as personagens apresentadas em O Acidente. Grávida por meio de um procedimento realizado por ela e sua companheira, interpretada pela ótima Carina Sehn, Joana se encontra pressionada devido ao ocorrido e ainda deve encarar a responsabilidade de iniciar uma família.  

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Carol Martins e Carina Sehn entregam ótimas performaces em “O Acidente”. Imagem: Vulcana Cinema

Paralela a situação da protagonista, temos a família dos outros responsáveis pelo acidente que deu início a história. A partir daí, a narrativa brinca ao dar entendimentos sobre o caráter dos seus membros, compostos brilhantemente por Marcello Crawshaw e Gabriela Greco, sendo esta última um grande destaque, ainda mais quando é revelado aos poucos o também esgotamento de sua personagem. O jovem ator Luis Felipe Xavier, que interpreta o tímido menino Maicon que é o grande responsável pela divulgação do vídeo do acidente, também consegue brilhar em seus momentos.

Tanto o roteiro quanto a direção de Bruno Carboni, por outro lado, parecem extrapolar na quantidade de mensagens e significados que O Acidente procura transmitir de maneira implícita. Há uma sutileza, no lugar de um inteligente teor metafórico, que funciona, mas que também proporciona ao longa uma certa lentidão em seu desenvolvimento. A melancolia, apresentada pela trilha sonora com instrumentos de sopro e pela fotografia que ostenta tonalidades frias e planos sequência longos, chega a ser repetitiva e também contribui para a monotonia a partir do segundo ato, porém não ao ponto de prejudicar a obra.

O Acidente mostra que muito pode ser descoberto a respeito de determinada situação, se todos os lados fossem realmente ouvidos, e também reflete sobre como o esgotamento físico e mental pode ser prejudicial para si próprio e para quem convive ao seu redor.

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Destaque

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