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    Crítica | O Astronauta

    Ficção-científica existencialista com Adam Sandler se prende em drama melancólico raso

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    Em O Astronauta (Spaceman), acompanhamos Jakub Procházka (Adam Sandler), o primeiro astronauta da República Tcheca, que está em uma solitária missão espacial há 6 meses, lutando para superar a Coreia do Sul em um feito histórico. Quando Jakub vê sua vida na Terra se despedaçando, ele se volta para a única voz que pode ajudar a consertá-la. Porém, a voz pertence a uma estranha criatura (voz original de Paul Dani) que fica à espreita nas sombras da nave dele.

    A solidão no vasto e profundo espaço sideral já não é de hoje retratada com maestria pelas mídias. Músicas, filmes, histórias em quadrinhos e séries de TV procuram se aprofundar ainda mais nas inúmeras reflexões que a temática proveniente da ficção-científica, amalgamada a alusões à realidade, para gerar impacto. Porém, há evidentes casos em que a reflexão extrapola limites, tornando-se massiva e até beirando a cafonice. No caso de O Astronauta, nova produção da Netflix que procura desenvolver um drama espacial com generosas doses de existencialismo e a importância do auto perdão, as inúmeras temáticas, louváveis e bem idealizadas, se perdem em desenvolvimentos rasos e escolhas questionáveis de como contar essa história procurando evitar clichês, mas, consequentemente, acertando em cheio no marasmo e o desinteressante.

    Existe aqui um curioso exemplo de premissa parcialmente funcional que, infelizmente, carece de uma narrativa que pudesse lhe atribuir complementos e emoções. O Astronauta parte desse argumento interessantíssimo de colocar o personagem de Adam Sandler em um conflito interno à deriva do espaço sideral, ao mesmo tempo que é guiado pela criatura Hanus que serve como uma espécie de Consciência, à lá Grilo Falante, tal como a obra na qual o longa se baseia, Spaceman of Bohemia (2017), de Jaroslav Kalfař. E como essa ideia poderia render mais do que um simples drama repetitivo, sem grandes ou memoráveis resultados! Acostumado em bater na mesma tecla repetitivamente a ponto de tornar a trama, de apenas 1 hora e 40 minutos, cansativa, o roteiro adaptado por Dia de Colby se acomoda numa zona de conforto que impede o longa ser mais do que meramente propõe.

    Imagem: Netflix/Reprodução

    A divisão da história em 3 núcleos, sendo o principal que mostra a aventura de Jakub no espaço, o secundário que foca no drama vivido por sua esposa grávida Lenka (Carey Mulligan novamente transforma em ouro tudo aquilo que toca) e o terceiro que mostra o controle terrestre da aeronave do cosmonauta, representado principalmente por Kunal Nayyar (The Big Bang Theory), não chega a ser um problema, mas quebra o clima em diversas ocasiões, principalmente quando a primeira história vem a ser a mais interessante do longa. A atmosfera atribuída pela direção de Johan Renck (Chernobyl), que se preocupa em intensificar o drama reflexivo que o fim e propõe, funciona a princípio, mas, tal como a narrativa, torna-se repetitiva e enfadonha. A melancólica solidão do protagonista, retratada por cenas internas fechadas e externas em computação gráfica que mostram a vastidão do espaço, se fazem presente a todos instante, seguidos de uma direção de fotografia que prefere optar por penumbras e ângulos diferenciados que favorecem a questão da gravidade zero.

    Mesmo que a sinopse oficial e o material de divulgação de O Astronauta deixem evidente que o filme não se trata de uma comédia dramática e sim um drama de ficção-científica, há quem deva pensar que, por ter Adam Sandler como protagonista, o filme traria momentos cômicos. Um pensamento bobo e ultrapassado, já que faz tempo que o ator demonstrou aptidão para papéis dramáticos, tendo seu ápice em Jóias Brutas (2019). Em O Astronauta, Sandler utiliza de um comportamento assustado e arrependido para lidar com seus conflitos. Há momentos em que sua serenidade não convence nem combina com a situação impactante que se procede, mas nada que interfira no resultado final de sua atuação. Sua química com Carey Mulligan e a espécime aracnídeo em CGI, vivido por Paul Dano, também são pontos positivos do longa-metragem.

    Imagem: Netflix/Reprodução

    Diante de questões metafísicas e existencialistas, O Astronauta até procura se mostrar uma obra competente e comprometida para com suas ideias, mas falha devido duas grandes ambições que são realizadas sem o esmero necessário. Falta personalidade ao filme e, principalmente, ousadia na hora de desenvolver sua boa premissa.

    Equipado com uma boa bagagem, O Astronauta, por outro lado, acaba por flutuar na órbita de uma desinteressada produção que não explora a vastidão de possibilidades dentro de suas temáticas.

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