qui, 20 fevereiro 2025

Crítica | O Brutalista

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Normalmente, a época de janeiro e fevereiro da distribuição de filmes dos cinemas brasileiros têm um espaço reservado para os filmes citados na temporada de prêmios, e este é o contexto de ‘O Brutalista’ também. Filme amplamente premiado na temporada da crítica, tanto para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Original e algumas categorias técnicas como Melhor Fotografia e Melhor Trilha Original. Com uma campanha fortíssima, o longa foi indicado a 10 categorias no Oscar, sendo um forte candidato para Melhor Filme, Diretor e Ator. O filme é dirigido por Brady Corbet, ator e diretor, conhecido por atuar em filmes como ‘Mistérios da Carne’ (2004), ‘Os Thunderbirds’ (2004), ‘Violência Gratuita’ (2007) e ‘Melancolia’ (2011), e recentemente conhecido pelos seus dois primeiros longas-metragens, ‘A Infância de um Líder’ (2015) e ‘Vox Lux – O Preço da Fama’ (2018). No papel principal, Adrien Brody, o homem mais jovem da história a ganhar o Oscar de Melhor Ator por ‘O Pianista’ (2002), na época com 29 anos, e com Felicity Jones, Guy Pearce e Joe Alwyn no elenco de apoio. Afetado pela pandemia de COVID-19, o filme só foi ser gravado em 2023 com um orçamento de apenas $10 milhões de dólares (!!!), com o diretor já falando, claro, que “queria ter tido mais $30 milhões”, considerando quase um milagre gravar um épico de época de 215 minutos de duração com esse orçamento. A estreia do filme foi no Festival de Veneza de 2024 e venceu o Leão de Prata, após o diretor ter trabalhado no projeto durante 7 anos.

Fugindo da Europa devastada após a Segunda Guerra Mundial, László Toth (interpretado por Adrien Brody) tenta recomeçar a vida nos Estados Unidos, enquanto sua esposa Erzsébet (interpretada por Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (interpretada por Raffey Cassidy) estão presas na Europa. 

Créditos: Universal Pictures/Focus Feature

No contexto atual das produções cinematográficas, principalmente de grandes estúdios, uma produção com custo entre $50 milhões e $100 milhões de dólares já é considerada um orçamento baixo. Tendo isso em vista, uma produção como ‘O Brutalista’, de época, com mais de 210 minutos e com um orçamento tido por várias fontes como menos de $10 milhões de dólares, é um feito a se reconhecer enquanto produção. Apesar disto, pelo bem ou pelo mal, o filme é um recheio de discussões, desde as discussões sobre o brutalismo e a arquitetura, passeando pelo debate sobre a migração de judeus após a Segunda Guerra Mundial e por debates políticos acerca do “sonho americano” e do Sionismo. No geral, de forma positiva, a abordagem grandiosa do filme é consistente, desde os atos mais pequenos até os momentos mais grandiosos, rimando exatamente com as características da arquitetura brutalista: imponente, opressora e crua.

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Para além da aproximação com o protagonista, a relação entre o amor e a arquitetura na primeira parte do longa é exemplo evidente dessa junção entre o brutalismo e as emoções de László, entre a arte e os sentimentos do artista. Cenas como László construindo as maquetes para o primeiro grande trabalho após chegar nos Estados Unidos, enquanto escutamos o próprio narrando sua carta feita para Erzsébet, que ainda estava na Europa. Como grande destaque além da decupagem, isto é, a seleção da sequência de planos do filme, a trilha sonora composta por Daniel Blumberg também auxilia no balanço entre a intimidade do protagonista e o épico de suas obras. Sendo esta apenas a segunda trilha feita para longa-metragens, é um dos pontos altos desse projeto, ainda mais se tratando de um épico, dando o devido peso para os momentos de ascensão do personagem principal e destacando os singelos toques da narrativa amorosa. A fotografia é o grande destaque pelo uso do VistaVision, mas me encantou o refino no Design de Produção, principalmente o uso dos figurinos e o uso de cores como o vermelho, que no passar da rodagem do longa vai escurecendo simbolizando o perigo constante que eles viviam, seja no trabalho ou em seus relacionamentos pessoais e o uso dos cenários para, justamente, ilustrar a arquitetura e simbolizar os grandes momentos de László. Além, claro, o destaque para as atuações de Adrien Brody e Guy Pearce, mas principalmente a de Felicity Jones, com suas cenas contendo exatamente as nuances que a obra constrói muito bem.

Créditos: Universal Pictures/Focus Feature

Sobre o discurso político, acredito que haja duas principais interpretações que geram discussão e reflexão no filme: o falso “sonho americano” e o sionismo, criação do Estado de Israel. O primeiro é o mais notável e melhor trabalhado, mostrando a realidade dos imigrantes no pós-guerra e como eles eram tratados, sobretudo por seus patrões, como o relacionamento e os abusos entre Harrison Lee Van Buren (interpretado por Guy Pearce) e László ou a maneira do filho de Harrison, Harry (interpretado por Joe Alwyn) lidar com Zsófia, mas sem se distanciar do estilo do filme e sem tirar o foco do que realmente importa. O que não ocorre quando é tratado sobre o segundo assunto, ainda que haja uma tentativa de criar um impacto (como a transmissão via rádio celebrando a resolução 181 da ONU, aprovada em 1947, propondo a criação de dois estados, sendo um Estado Judaico e o Árabe, partilhando a Palestina sob mandato Britânico), não passam apenas de uma tentativa do diretor de discutir essa pauta, mas que não agrega a história e só desfoca a obra das suas melhores qualidades, soando apenas como momentos de propaganda sionista, ainda mais levando em conta o momento da região, com o genocídio que ocorre na Faixa de Gaza.

Com um escopo ambicioso e um orçamento surpreendentemente modesto, ‘O Brutalista’ entrega um épico visual e emocional que reflete a própria essência do personagem principal e a relação com sua arte, a arquitetura. Entre a grandiosidade de suas construções e as fragilidades humanas de seu protagonista, o filme se equilibra com atuações marcantes e uma trilha sonora que amplifica seu impacto. No entanto, ao ampliar sua discussão política, a obra nem sempre mantém o mesmo nível de coesão, resultando em momentos que desviam do que há de mais potente em sua narrativa. Ainda assim, trata-se de um feito cinematográfico digno de seu espaço na temporada de premiações.

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