Inspirado num artigo da jornalista Marie Brenner, sobre o caso de Richard Jewell, homem que teve a vida virada ao avesso após passar a ser suspeito de um atentado à bomba no Centennial Park, onde ocorria eventos ligados às Olimpíadas de Atlanta, em 1996, Clint Eastwood mostra as diversas formas de fazer o certo e o errado, seja em nome do bem maior, da justiça ou simplesmente por vaidade.
Richard Jewell (Paul Walter Hauser) é um homem sensível e atencioso, altamente comprometido no que faz, porém, nunca obteve o devido reconhecimento por onde passou. Durante as Olimpíadas de Atlanta, consegue bico para apoio em eventos culturais ligados à competição. Visando uma indicação para futuros trabalhos afins, tenta dedicar-se ao máximo. É dessa forma que, ao confrontar algumas pessoas e seguir corretamente protocolos, descobre uma bomba caseira junto a multidão. Embora os esforços, a bomba acaba explodindo e vitimando dezenas de pessoas, ainda assim, um cenário mais ameno, caso não tivesse sido descoberta. Considerado um herói pela mídia, Richard rapidamente se vê no inferno quando o FBI o confirma como principal suspeito.
O diretor, assim como em Sniper Americano (2014), aborda os reflexos das ações de instituições governamentais: lá, mais ligada ao pós-guerra e seus traumas e aqui, escancaradamente sobre a pressão e as falhas e ela ligadas, por resoluções de casos como o abordado no parágrafo acima. Assim, Eastwood, para demonstrar melhor seu ponto de vista, tem como roteirista o brilhante Billy Ray, indicado ao Oscar de melhor roteiro em 2014, por Capitão Philips (2013). Ray inicia o filme mostrando o início de sua amizade com o advogado Watson Bryant (Sam Rockwell), desenvolvendo o perfil de ambos, e segue mostrando fatos isolados da vida de Jewell, de forma a criar um estereótipo, tanto para quem assiste como para os acontecimentos que se seguirão. Em paralelo, estabelece a intensidade dos laços com sua mãe, vivida com carisma por Kathy Bates, e da relação de “toma lá, dá cá” entre a jornalista sanguessuga Kathy Scruggs (Olivia Wilde) e agente Tom Shaw (Jon Hamm).
Do ponto de vista técnico, o longa segue o estilo de Eastwood, com tomadas curtas, enquadramentos abertos, câmera precisa e algumas cenas com Zoom in. As atuações são suficientes quando falamos de coadjuvantes e variam de boas (Wilde e Hamm) a espetaculares (Rockwell e Hauser). Paul atua tão bem que às vezes fica cômico ver tamanha inocência quando é posto à prova dos federais. A edição é ótima, mérito mais uma vez de um roteiro bem escrito.
Talvez, o maior pecado de O Caso Richard Jewell seja mesmo a indecisão por parte da direção em retratar o caso, focando na exposição de eventos e provas que seriam determinantes para a inocência do protagonista (o que existe, mas é insuficiente) ou no cotidiano de Richard e sua mãe, psicologicamente abalados pela ineficaz investigação do FBI (o que ocorre com maior frequência). Porém, nada que comprometa o desenvolvimento. Existem dois momentos onde fica carimbada a intenção da direção e produção (que conta com nomes como Leo DiCaprio e Jonah Hill) com o filme, e que estes eventos foram responsáveis por tudo o que veio depois da resolução do caso.
O Caso Richard Jewell é uma ótima retratação de drama real, talvez, maximizada pelas cuidadosas mãos de Clint Eastwood, que se encontra em sua fase mais zen, iniciada com A Mula (2018).