qui, 10 outubro 2024

Crítica | O Convento

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Seria absurdo dizer que a temática do cristianismo no cinema de horror é uma novidade, ainda mais falando especificamente de conventos enquanto cenários para o horror. Seja em casos de filmes mais antigos com Os Demônios (1971) ou em produções recentes como A Freira (2018), a inversão do que seria santo para algo sinistro pode ser observada já como mais um clichê de gênero que, sim, ainda pode resultar em bons longas se bem utilizado mas que na sua esmagadora maioria pode ser visto como saída fácil para produções pouco inspiradas e infelizmente esse também é o caso com o longa O Convento do diretor Christopher Smith.

      O filme acompanha Grace, que após receber a terrível notícia da morte de seu irmão, viaja para um convento na Escócia em busca de respostas para as estranhas circunstâncias em que o caso aconteceu. Até aí o filme consegue ir construindo aos poucos a sensação de deslocamento típica de histórias que envolvem ambientes isolados e o desconforto de ser imerso em comunidades de crenças restritas, a atriz Jena Malone até faz um trabalho decente com a personagem principal mas talvez o melhor mérito do filme seja a sua construção do cenário em que a história se passa, com grande destaque para os biomas montanhosos da Escócia e a sobriedade da edificação em que o Convento existe.

      A protagonista reclama para si a condição de descrença em relação ao sobrenatural e isso em muito por causa do efeito que violências motivadas por religião teriam aparecido em sua vida, o embate entre os eventos potencialmente sobrenaturais ocorridos no convento, a própria natureza do ambiente em que a história se passa e os personagens que a povoam poderiam servir como gatilho para uma boa construção do embate entre visões de mundo mas o filme vai se diluindo em seus próprios mistérios ao ponto de fragilizar tudo de potencialmente sólido nessa discussão para privilegiar saídas “inesperadas”.

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       A trama vai se fragmentando com o tempo e revelando aos poucos as circunstâncias que envolvem a vida de Grace e seu irmão, mas parece que a cada passo dado em direção do enriquecimento desses personagens também chegam conceitos que parecem aparecer de forma vazia, empobrecendo os arcos dramáticos que tinham algum potencial. As revelações envolvendo todo o caso são introduzidas de forma a transformar qualquer discussão sobre os dilemas da protagonista e das freiras com quem interage em algo extremamente superficial. Os elementos de sentimentalismo que vinham com maior naturalidade no começo do longa vão perdendo força até chegar em uma conclusão que parece transformar o filme em alguma outra coisa, falando de história, de tom e de gênero. Tudo que pode ser dito sobre a conclusão desse filme é que ela atravessa a barreira do cômico.

 O Convento consegue ser um filme altamente frustrante na medida em que busca soluções alternativas para cenários do horror mas acaba não entendendo o próprio tom e os conceitos que tem em mãos. Ser uma história que deixa certos aspectos para a imaginação do público não é um problema enquanto a experiência apresentada se sustentar por outros elementos, sejam de atuação, visuais, de direção, entre outros. O maior problema com este filme é parecer uma introdução de 2 horas para um conceito que dentro do longa nem parece ter muita importância, transformando a experiência do filme em si em algo descartável.

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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