Fui assistir “O Crime é Meu” da melhor maneira possível: Sem expectativas nenhumas. Não sabia nada além do nome e que era um filme francês… Retiro o que disse. Eu esperava pouco, sabendo que era um filme francês. Ok, retiro novamente o que eu disse. Estou sendo injusto com os franceses. Eles conseguem fazer filmes fantásticos (alguns deles são meus favoritos de todos os tempos). Porém é justificável esperar uma obra artsy-fartsy vindo da Europa. As coisas geralmente são simples para as nossas telonas: Dos E.U.A
recebemos os enlatados Hollywoodianos e ambiciosas obras de diretores, da Europa recebemos o arthouse e os dramas de gente velha, do Brasil temos as comédias para família ou os filmes pretenciosos para estudantes de cinema.
Mas minhas suspeitas eram ainda maiores devido ao tempo em que vivemos. Tenho a impressão que, mais do que nunca, os filmes que temos assistido ultimamente conseguem ser colocados em dois polos opostos. Blockbusters do fim de semana ou meditações sobre a condição humana em formato de imagens em movimento. No meio desses dois polos existia um território muito precioso que parece ter
sido esquecido pelos estúdios: Os filmes de gênero.

Estes sempre foram um deleite pessoal. Filmes de gênero são capazes de explorar as fronteiras da linguagem cinematográfica ao mesmo tempo que apelam às massas. Um casamento de estilo e substância que sinto muita falta. E essa saudade foi parcialmente sanada pela experiência de ter assistido “O Crime é Meu”. Digo parcialmente, pois não é do tipo de filme que perdura na sua mente. Mas vamos começar do começo.
“O Crime é Meu” imediatamente te apresenta com um tom carregadíssimo de inspirações do cinema clássico dos anos 50, desde a música, os sets e figurino de época, as transições de edição icônicas, até a fonte do título. Isso, porém, não era um bom sinal para mim. Com muita frequência recebemos obras que tentam recriar uma glória antiga sem sucesso, porém essa preocupação logo se prova desnecessária uma vez que a narrativa embala bem cedo e efetivamente.
Misturando o Noir com a Comédia, “O Crime é Meu” imediatamente te coloca para fazer perguntas enquanto te dá as respostas ao mesmo tempo que provoca risos, tudo estimulado por um roteiro esperto e otimizado pelas performances de Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder. Nadia e Rebecca compartilham a tela como duas melhores amigas e colegas de quarto (Madeleine e Pauline), ou seja, toda a imersão teria caído por terra se a química das atrizes não estivesse em sintonia.
Porém as duas se complementam naturalmente e o que resta a você é prestar atenção no desenrolar da narrativa. O mistério se apresenta com clareza ao mesmo tempo que esconde os segredos que mantém o plot constantemente em movimento através das revelações, a maioria convincentes. O filme também se permite ser, em certos momentos, uma sátira de suas próprias inspirações, não se deixando levar super a sério e conquistando minha simpatia. Arrancou risadas de situações absurdas e de assistir personagens
bobos fazendo bobagem. Em momento nenhum gargalhei, mas se dúvidas ri e me diverti.
No que se dizem os temas e arcos dos personagens, também foram tratados da mesma maneira. É obviamente um filme feminista que se dá a liberdade de tirar sarro de si mesmo, deixando poucas pontas soltas. O mesmo para o arco dos personagens, a maioria satisfatórios enquanto alguns malacabados (o que mais me incomodou, inclusive, foi a falta de carinho dedicada à trajetória da
personagem de Rebecca). Começo meio e fim claros, concisos e enlaçados. Uso de tropes e estilos do Noir e da comédia, ao
mesmo tempo que se promete originalidade. Nada genial, mas longe de ser uma experiência desagradável. “O Crime é Meu” foi uma dose de ar fresco em tempos tão polarizados entre os enlatados de CGI ou experimentais presunçosos.
Talvez eu tenha sido enganado e, na verdade, “O Crime é Meu” é uma cópia barata (em questões de plot) de algum outro filme que ainda não assisti antes. Talvez a originalidade da qual atribuo à obra seja fruto da minha falta de conhecimento no cinema. Se for o caso… Ops! De qualquer maneira, estou contente por tê-lo assistido nas condições que o vi. Obrigado, França!