dom, 22 dezembro 2024

Crítica | O Culpado

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O início de O Culpado busca contextualizar uma Los Angeles decadente em meio a uma abordagem relacionável aos filmes de John Carpenter. Não só pela demonstração do crescente caos urbano, mas de seu protagonista, Joe Baylor (Jake Gyllenhaal), como resultado de uma violência institucionalizada pela polícia e seu ambiente. Os caminhos escolhidos para desenvolver o personagem de Gyllenhaal nesta adaptação do filme polonês Culpa (2018) vão de encontro a uma versão mais palatável para o público americano, dedicando boa parte de seu tempo a um drama de fundo para traçar uma proximidade e garantir cenas mais dramaticamente intensas.

É nesse caminho de elevar a dramaticidade que boa parte da projeção consegue se espaçar do original e pavimentar uma unidade própria. A direção de Antoine Fuqua centra os momentos do filme polones como um guia procedural das situações até chegar nos pontos climáticos. Sua perspectiva do caso começa de forma muito promissora, evidenciando as diferenças socioculturais entre os países de cada longa, assim como integra o espaço com as televisões ao fundo, passando uma sensação de urgência e transtorno social bastante característico dos tempos atuais. A decisão de situar os acontecimentos durante o ciclo de queimadas da Califórnia contribuem para essa construção da deterioração espacial.

Divulgação Netflix

O que não se sustenta é um aparente conforto com o filme de 2018, que cada vez mais começa a ser puxado como fio condutor. A relação do homem com o espaço é interrompida para dar lugar a uma ambientação mais semelhante ao original. Ainda que procure estabelecer sua diferença, oferecendo um fluxo mais rápido entre cada ação e reação, não deixa de parecer que Fuqua deixou-se levar em prol de uma boa relação com o material fonte. Isso fica mais evidente quando Joe se isola na sala e os planos mais fechados remetem aos mesmos utilizados por Gustav Möller para demonstrar o sentimento de fraqueza.

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A contribuição de Gyllenhaal parece ter sido escolhida a dedo. Com uma dramatização mais intensa, o ator parece ser o nome perfeito para transitar entre diversos estados, servindo como um verdadeiro showcase de atuações. Claro que esse tipo de trabalho chama mais atenção pelas mudanças e momentos de gritaria descontrolada – alguns momentos devidamente exagerados para um suposto impacto com a narrativa -, mas é antes dessa escalada dramática mais evidente que estão os melhores momentos de Gyllenhaal. A forma como vai aos poucos revelando seus problemas internos, juntamente de um centro imaginativo pertencente ao filme, revelam as noções de entendimento e controle da demanda sugerida pelas cenas.

Nessa necessidade de destacar o valor dramático, bem como a atuação carregada de Gyllenhaal, as decisões temáticas quanto ao drama particular do personagem e sua repercussão dentro da história oferecem soluções questionáveis quanto sua mensagem e moral. Ao expandir para um real sentimento de culpa, não ficando apenas o desenrolar de uma chamada de emergência, seu final fica no meio termo entre ser propriamente punitivista e relativizar os reflexos da violência. É como se, por tentar relacionar Joe como alguém que necessariamente precisa de uma punição, as situações surgem como penitência, mas que, em sua conclusão, carrega uma inversão entre culpado e vítima que se encaixa em muitos discursos utilizados para justificar uma brutalidade policial.

Divulgação Netflix

Como remake, O Culpado exerce bem sua função de adaptação para outros públicos, não em sua totalidade, nem ao menos decide reivindicar sua autoria provida por outro contexto, mas em trazer para o gosto americano um filme que demandaria mais urgência dramática. Um aparente potencial que ficou tímido para dar lugar a uma recapitulação dos fatos, com algumas poucas mudanças. Não é a melhor forma de se fazer um remake, mas também não chega a agredir. 

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Jornalista que se aventura no mundo da crítica de cinema. Gosto de café e filme em preto e branco.
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