O Diabo De Cada Dia (The Devil All The Time), novo thriller da Netflix, é uma adaptação homônima do romance de Donald Ray Pollock, que possui um elenco estrelado para contar uma história cheia de vertentes – e de várias conexões -, tendo como peça chave um dos piores e mais difíceis temas a se questionar: religião!
A história se passa na parte rural do Sul de Ohio e Virgínia, no final dos anos 50, pós segunda guerra mundial. Em comunidades sempre muito religiosas, com famílias que definem e norteiam sua vida e seus fatos pela “vontade de Deus”, temos a apresentação de Willard Russell (Bill Skarsgård), um veterano da segunda guerra, que devido as atrocidades vistas e cometidas, não se considera mais um homem de fé.
Essa situação muda após sua esposa Charlotte (Haley Bennett) contrair câncer. Para Willard, a única forma de salvá-la é pedindo ao criador para fazê-lo. O que o faz obrigar também seu filho Arvin Russell (Tom Holland) para que reze – mesmo sem vontade – pela vida de sua mãe, além de realizar outros sacrifícios.
O filme nos mostra que – geralmente, a não ser que você seja ateu – as pessoas tendem a buscar refúgio ou a fazer pedidos a algo superior sempre que os recursos do mundo não lhes favoreçam. Na grande maioria das vezes, caso as oferendas não tragam o retorno esperado – e desejado – significa que a força da fé não foi suficiente, e que mais precisa ser feito, mesmo que a níveis extremos.
No tempo destes acontecimentos o filme ainda nos apresenta a Carl e Sandy Henderson (Jason Clarke e Riley Keoug), uma dupla de serial killers que utilizam da bondade em ajudar estranhos para cometerem seus crimes. Os dois acabam sendo elo de ligação em várias partes do longa e definem o destino de muitos personagens.
Ainda somos apresentados ao excelente Sebastian Stan (Eu, Tonya), como o corrupto xerife Lee Bodecker e Eliza Scanlen (Adoráveis Mulheres) que no filme é Lenora Laferty, meia irmã de Arvin, que fora criada pela avó deste, numa rotina religiosa severa da qual ela se orgulha e segue.
O longa continua mostrando com mais ímpeto que todo extremismo é maléfico. Você leitor pode não concordar, por exemplo, que ser extremamente religioso é ruim. Mas definir todos os seus atos – bons ou ruins – como obra ou desejo de alguém em quem acredita, serve também para não poder se elogiar ou se culpar sozinho de alguma coisa. E esse tipo de fato é mostrado no filme, várias vezes. A obra que é produzido por Jake Gyllenhaal e dirigido por Antonio Campos (Christine), tem muitos acertos no seu roteiro e na edição, levando as várias histórias a se cruzarem de forma crível. Essas histórias ainda são narradas em terceira pessoa, fazendo que nossa atenção se mantenha presa aos fatos.
Como a religião é base da obra, a vinda de um novo pastor para a cidade é objeto de comemoração, com festa em todas as famílias para receber o mesmo. Este pastor é Preston Teagardin, interpretado maravilhosamente pelo excelente Robert Pattinson (The Batman) e que é responsável pelas cenas mais odiosas do filme.
E mesmo sendo um obra ficcional, é muito simples traduzir acontecimentos vistos na realidade. Quantos homens ou mulheres não usam do “poder de Deus” em benefício próprio para conseguir algo?!
Nesse ponto o roteiro já tem várias tramas para tratar e mesmo assim ele não se perde. Me fez lembrar muito de “Crash no Limite (2004)”, onde as conexões cruzadas fazem todo o sentido pro final. O pecado, do roteiro, é se estender mais que deveria. Um filme um pouco mais curto seria perfeito, pois tudo já se havia resolvido.
O Diabo De Cada Dia não é só um filme sobre religião e pessoas. É sobre aprendizado de vida, sobre educação e violência. Tragédias e sucessos que acontecem e a forma que diferentes pessoas as aceitam. É um filme para questionamentos pessoais e também de rejeição, mas acima de tudo sobre o que e a quem ouvir. Aliás, caso você se veja em algum personagem (qualquer um) aconselho que reflita melhor um pouco os caminhos que tem tomado em sua vida.
O filme estreia mundialmente dia 16/09.