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    Crítica | O Dilema das Redes

    Netflix / Divulgação
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    Quando Matrix foi lançado, em 1999, o cinema e a sociedade foram redefinidos em três grandes temas. O primeiro em como a tecnologia poderia ser usada – e já era – para o bem e para o mal. O segundo, a revolução que ela, tecnologia, estava criando nos novos filmes e na publicidade, e o terceiro, em como a sociedade se sentia no mundo atual, tendo a possibilidade de viver em um mundo virtual; novo e moldado a imagem, semelhança e vontade daquilo que a gente quisesse.

    Matrix abriu os olhos de uma barreira que não pensávamos naquela época. O mundo inteiro se preocupava em como passaríamos pelo bug do milênio, o MSN (Messenger) engatinhava, angariando usuários do ICQ, mas as redes sociais ainda nem pensavam em nascer. Só em 2004 o Orkut apareceria com a intuito de “conectar” as pessoas, não só como fato de fazê-las se comunicarem mais, mas também em criar novas iterações humanas e diversas.

    O saudosismo dos primeiros parágrafos é importante para lembrar que o conceito inicial de iteração, comunidade e “socialização” das redes sociais e ferramentas, aplicativos, portais, e afins na internet, nasceram com ótimas ideias, em um mundo promissor, onde sonhos poderiam se tornar reais, mas que mesmo assim eles pudessem aproximar as pessoas. E essa aproximação, essas conexões e a mudança de hábito e proximidade mais virtual que real criou uma distopia utópica entre o conceito e a aplicação.

    O Dilema das Redes, novo documentário da Netflix retrata exatamente isso. Como as ideias de inúmeros produtos e novidades criados no meio virtual, tinham várias maneiras de comportamento em conceito, mas que na realidade fugiram do controle. Nele podemos ver vários depoimentos de diversos especialistas da indústria tecnológica, que largaram seus empregos em redes sociais e aplicativos como Facebook, Instagram, Twitter, Pinterest, Google, por se incomodarem justamente com os dilemas éticos que eles mesmos estavam criando, as vezes inconscientemente.

    Netflix / Divulgação

    Tristan Harris, ex-funcionário do Google, presidente e cofundador do Center for Humane Technology, é o principal entrevistado – entre vários – sobre como as suas ações impactavam as pessoas. Ele foi um dos criadores do Gmail App, e durante o desenvolvimento e melhoria do aplicativo se questionava no poder que poucas pessoas jovens – desenvolvedores – teriam em definir a rotina da vida de bilhões de pessoas. Desde usabilidade, até modelos, como por exemplo, de uma notificação de email, que eles criaram e que todos saberiam o que era apenas de ver, mesmo, involuntariamente.

    E esse poder involuntário de ação digital foi sem dúvidas a grande “cartada” das redes para captar mais pessoas de acordo com seus desejos. Com isso veio o marketing, o conhecimento de pessoas, a psicologia aplicada a iteração virtual e por fim, todo esse conceito ensinado e expandido a inteligência artificial. A partir daí as conexões renderiam ações a determinados assuntos, e por sua vez uma possibilidade infinita de negócios. Não a toa, as grades empresas de tecnologias são as mais valiosas do mundo.

    Mas como disse o conceito nem sempre foi vender as pessoas para os anunciantes. E sim, esta frase está correta. Hoje não são os anunciantes que se vendem a nós. Nós somos um produto, com gostos distintos, amizades, pensamentos e hábitos únicos, que TODA rede social conhece e por isso, sempre nos oferece o melhor – ou o mais ideal – no melhor momento nosso e deles, nos tornando escravos de um marketing baseado em satisfação de uso e consumo virtual.

    Foto: Reprodução/Documentário “Dilema das redes” – Netflix

    A criação do botão “curtir”, por exemplo, foi pensada simplesmente em mostrar que aquilo era “algo legal”. Hoje é sinônimo de depressão pela falta, ou de obsessão pela excesso, de likes. O WhatsApp foi criado com a ideia de trazer o conceito de comunicação pessoal facilitada, criada lá pelo MSN, e hoje tem o poder de ganhar eleições, usando notícias que verdade ou não, são tão rapidamente disseminadas, que se tornam uma arma para qualquer atirador virtual.

    O Facebook, como retratado no filme “A Rede Social”, se moldou de uma ideia machista a possibilidade de criar proximidade nas pessoas, e hoje é uma das ferramentas mais poderosas de poder de uso de dados do planeta. Assim como o Google. Instagram, Twitter. Mas pensar que todo conceito virtual é ruim é um engano. Mas também é um engano dizer que não se é controlado hoje pela internet. Somos.

    A expansão dessa bolha, possibilitou a criação de várias bolhas, e o – inimaginável – afastamento social da pessoas (no mundo real). Já parou para pensar o quanto somos aversos a “seguir” ou “curtir” algo que não seja de encontro ao que pensamos? É mais fácil aceitar estar num lugar onde todos e tudo pensam igual eu, para que a rede me entregue informações – erradas ou não – daquilo que EU QUERO, pra que eu me sinta feliz. E assim, a sociedade caminha a passos longos e virtuais para seu fim.

    O real Dilema das Redes talvez seja nos aprofundarmos em como poderemos ser sociáveis novamente como éramos antes da virtualização de nossas vidas, e, vendo a impossibilidade disso, em como faremos para viver afastados fisicamente sem nos destruirmos como humanos com opiniões próprias, e nos tornarmos tão somente um produto moldado ao desejo virtual.

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