seg, 6 maio 2024

Crítica | O Dublê

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Um extenso plano leva o espectador diretamente para os bastidores de um set de filmagem. Sob a direção de David Leitch, somos imersos na dinâmica de gravação de um filme de alto orçamento, seguindo o dublê Colt Seavers (interpretado por Ryan Gosling). Ao longo desse trajeto, somos apresentados a uma variedade de personagens: a operadora de câmera interpretada por Emily Blunt, o assistente de direção em constante movimento, o astro que insiste em realizar todas as cenas de ação e a produtora que cuida meticulosamente de sua imagem. O filme utiliza habilmente a própria linguagem cinematográfica para introduzir os elementos característicos da indústria de Hollywood, revelando tanto a técnica natural dos bastidores quanto a consciente construção da narrativa. Essa abordagem possibilita momentos de flerte entre Gosling e Blunt, assim como as pequenas intrigas que moldarão a trama do longa-metragem. No entanto, o acidente que atinge Seavers marca um ponto crucial, introduzindo o espectador ao que ele acompanhará nas próximas duas horas de projeção.

Baseado na série de televisão dos anos 1980, “The Fall Guy” (título original do filme de Leitch), criada por Glen A. Larson e estrelada por Lee Majors, “O Dublê” segue o personagem de Gosling enquanto trabalha em um set de filmagem com Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson). Quando Tom desaparece e o filme, dirigido pela estreante Jody Moreno (Blunt), ex-namorada de Colt, corre o risco de ser cancelado, Colt se oferece para encontrar Tom e salvar o filme de estreia de Jody. Como fica evidente na sinopse, o enredo do filme serve como suporte para dois elementos principais: as sequências de ação, sendo o primeiro e mais óbvio deles; e as referências e brincadeiras com a própria indústria cinematográfica, baseadas em uma autoconsciência que, em diferentes momentos, pode ou não funcionar. Vamos analisar cada uma dessas características para compreender melhor o filme.

A primeira delas são os momentos de ação, que giram em torno da profissão que dá título ao filme, seguindo uma progressão de possibilidades. Em outras palavras, enquanto o aumento gradual das oportunidades de ação sempre causa um certo deslumbramento devido à sua realização competente – mesmo que ocasionalmente tropece na montagem -, o filme também parece fazer questão de destacar o trabalho dos dublês. Isso permite que, ao longo do filme, os espectadores possam se perguntar quem está realmente executando as cenas. Um exemplo significativo ocorre na primeira metade do filme, quando Colt sobe em uma estrutura de metal para entrar no quarto de Tom Ryder. Ao ampliar o plano para uma perspectiva mais aberta, Leitch revela a presença do dublê enquanto avança com a narrativa. Esse método envolve o espectador de forma ativa, incentivando uma observação crítica em relação a uma profissão frequentemente invisível na indústria cinematográfica – e cuja inclusão na categoria do Oscar ainda é motivo de debate.

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Aliás, a questão sobre a premiação máxima do cinema hollywoodiano é abordada ao longo do filme, contribuindo para o segundo ponto mencionado anteriormente: a autoconsciência. Quando o filme reconhece sua própria natureza, como na dinâmica entre o dublê e a estrela do filme, ele se destaca pelas brincadeiras originadas das relações dentro do set de filmagem – como a agitação do assistente de direção, as decisões do estúdio e o jogo com a tela dividida, por exemplo. No entanto, quando o filme opta por expressar isso por meio de diálogos, pode gerar um efeito cansativo em determinado momento. O projeto de Leitch parece buscar, em certo sentido, um alicerce emocional, como se a ação só tivesse significado quando acompanhada por algum enredo narrativo ou elemento afetivo. Isso contrasta com filmes como “John Wick”, cuja primeira parte o cineasta co-dirigiu, e que demonstrou que tais elementos são apenas acessórios quando se tem sequências de ação suficientemente impactantes.

Embora algumas escolhas na direção das cenas de luta, saltos ou incêndios pareçam equivocadas devido aos cortes que tentam encurtar as sequências em vez de aproveitar ao máximo as possibilidades do tema, o grande destaque do filme é a interação entre Gosling e Blunt. Enquanto ela exibe naturalidade em cena, divertindo-se ao interpretar uma diretora em busca de autenticidade máxima em suas cenas, Gosling demonstra que está solidificando sua presença em Hollywood com sucesso, especialmente no gênero da comédia. Ele não apenas se adapta facilmente a todas as situações, mas seu timing para entregar as piadas do roteiro adiciona um frescor notável. Além disso, sua fisicalidade quando a comédia requer um aspecto mais físico é digna de reconhecimento. Apesar de tentar adotar uma abordagem mais dramática em certos momentos, “O Dublê” revela-se, essencialmente, um produto de entretenimento que valoriza os profissionais essenciais da feitura fílmica.

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