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    Crítica | O Estrangulador de Boston

    Filme mira no suspense investigativo e acerta na crítica social, mas sem aprofundar suas principais discussões

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    O Estrangulador de Boston (Boston Strangler) é um thriller de crime real sobre as repórteres pioneiras que divulgaram o caso dos famosos assassinatos do Estrangulador de Boston: Loretta McLaughlin (Keira Knightley), repórter do jornal Record American, e sua colega e confidente Jean Cole (Carrie Coon). À medida que o assassino faz mais vítimas, a dupla continua corajosamente a investigação, colocando suas próprias vidas em jogo em sua busca para revelar a verdade. 

    Reconstituir fatos históricos e adaptá-los à sétima arte requer total esmero. É preciso contar, com precisão, o que aconteceu, mas não deixar o dinamismo das explicações técnicas entediar o grande público, nem mesmo resumir toda uma história de maneira rasa e desprovida de detalhes e até do valor emotivo, a fim de entregar algo às pressas. O Estrangulador de Boston, filme que estreou recentemente na plataforma Star+, está num meio termo entre o básico e o detalhado. Não é produnte afirmar que o longa se trata de um remake de “O Homem que Odiava as Mulheres” (The Boston Strangler), de 1968, dirigido por Richard Fleischer e estrelado por Tony Curtis e Henry Fonda, apesar do mesmo título original, pois, enquanto o clássico foca na investigação policial quanto aos assassinatos, até de maneira mais dramática, a produção atual de Matt Ruskin foca em mostrar a ação das duas jornalistas pioneiras em noticiar os crimes.

    O storytelling de O Estrangulador de Boston tenta fazer a trama se encontrar, inicialmente, em um instigante suspense investigativo, surfando entre dramas pessoais enfrentados especialmente pela protagonista Loretta – infelizmente, e até erroneamente, a história não aprofunda nas questões da co-protagonista Jean -. Porém, ao longo da projeção, fica esclarecido que o principal objetivo do longa é retratar a dificuldade do reconhecimento do trabalho da imprensa, ainda mais para duas jornalistas mulheres em meio a uma época sexista e extremamente machista, o que deveria ter sido realizado de forma minuciosa, com boas alusões a um fato que, infelizmente, se repete na atualidade. Mas, por conta de uma produção que deseja extrair mais de sua narrativa e fazê-lo às pressas, o filme acaba entregando frases de efeito genéricas e soluções rápidas para os problemas, de fato desafiadores, que são apresentados.  

    O roteiro lento, assim como a condução necessitada de um bom ritmo, de Matt Ruskin, acabam por casar bem, mas sem dar a O Estrangulador de Boston uma grandeza necessária, já que o longa ostenta de temas poderosos para serem debatidos. O empoderamento feminino, a luta por justiça perante uma sociedade machista e o poder da mídia são temáticas importantes que precisam ser tratados com mais atenção, mas sem romper os limites da mesmice. Por outro lado, o diretor não erra ao estabelecer um suspense que consigue deixar o público aflito, só faltou inserir mais elementos além de sombras e uma trilha sonora aterrorizante para poder instigar com mais intensidade.

    Se tem algo que O Estrangulador de Boston ostenta, de fato, é em seu elenco de repleto de nomes de peso. Keira Knightley esboça toda a coragem necessária para a composição de sua personagem, oscilando entre bravura, indignação e responsabilidade com maestria, assim como Carrie Coon, que, apesar de menos tempo em tela, passa toda a imponência de uma reporte jornalística que exigia ser ouvida. Na pele de Albert DeSalvo, um dos principais suspeitos da série de assassinatos, o ator David Dastmalchian brilha, entregando uma atuação amedrontadora. Completam o elenco Chris Cooper e Alessandro Nivola, em papéis pequenos, porém importantes para a trama.

    Imagem: IMDb

    Esteticamente, o longa capta bem o estilo dos anos de 1960 em seus veículos, roupas, móveis e até cenários, com incríveis tomadas externas mostrando a cidade de Boston daquela época. Por outro lado, um recurso visual que deixa desejar é a direção de fotografia, que optou por utilizar um filtro de tonalidade frias que escurecem o filme por demais, a ponto de se tornar indecifrável o que está se passando em tela.

    Apressando em entregar um bom resultado, a ponto de não desenvolver por completo suas temáticas, O Estrangulador de Boston pode convencer parte do público com seus diálogos que procuram dar ênfase as discussões apresentadas, mas que se perdem por não haver um real aprofundamento.

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