sáb, 27 abril 2024

Crítica | O Exorcista: O Devoto

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O Exorcista, de 1973, talvez seja o filme de horror com o maior impacto de sua época, sendo considerado até hoje uma pedra fundamental no gênero de horror no cinema e responsável por toda uma linha de filmes derivativos de possessão que surgem nos 50 anos seguintes. Com uma forte ambientação que gradualmente evocava o sobrenatural, a direção impecável de William Friedkin (que nos deixou este ano, inclusive) e a inesquecível trilha “Tubular Bells” que embalava o pacote todo, o filme de 1973 se tornou um marco, sendo aclamado por público e crítica, inevitavelmente incitando a indústria a produzir sequências e capitalizar no sucesso do original. Até então nenhuma das sequências e prequelas realizadas no universo de O Exorcista conseguiu emular uma fração do charme (e sucesso) do original mas isso não impediu que, no aniversário de 50 anos da franquia, uma nova investida fosse feita, resultando no novíssimo O Exorcista: O Devoto.

O novo filme é mais uma produção sob o comando de David Gordon Green, responsável pela recente trilogia que tentou revitalizar (e talvez encerrar com alguma dignidade) a franquia Halloween, conseguindo uma repercussão mista tanto de crítica quanto de público para a direção tomada nos filmes contudo não o impedindo de tentar trazer sua visão para mais uma grande franquia de Horror. Mas afinal, do que se trata essa nova entrada na mitologia de O Exorcista?

O Exorcista: O Devoto acompanha a jornada de Victor (Leslie Odom Jr.) um pai (viúvo após a morte precoce de sua esposa em um desastre natural) que agora precisa lidar com o repentino sumiço de sua filha, vista por último entrando na mata com uma também desaparecida amiga de escola. O que ele não sabia era que uma vez que as jovens dessem as caras, um antigo mal surgiria novamente. Uma premissa simples e funcional para uma história de exorcismo.

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O filme pega o conceito de exorcismo, de sua luta entre crença e alguma forma de mal obsessor e tenta agregar a noção de que espiritualidade tem seu papel, independente de sua origem, dando também destaque para ritos diaspóricos africanos em paralelo aos cristãos, os equiparando. É uma ótima ideia para uma tentativa de revitalização do que foi feito no passado com a franquia e que tem amparo na construção desse universo desde o primeiro filme. Nesta produção o calor humano e a crença, em oposto aos espíritos malignos tem mais relevância que ritos em si, o que trás uma ideia de tentar humanizar a situação mas que ao mesmo tempo enfraquece a mística em torno da própria ideia da franquia. Isso poderia ser algo interessante se feito de forma realmente desruptiva, mas o longa não chega a abraçar esse lado de desconstrução da mitologia até o fim, sendo algo que parece mais aleatório do que estruturado.

Se a ideia de dobrar ameaça da possessão ao introduzir duas jovens sob influência maligna parece um caminho natural para chamar atenção em uma sequência do filme de 1973, o foco dramático aqui está quase todo em uma das duas jovens, o que acaba colocando o investimento na história em jogo justamente por um desenvolvimento quase nulo de uma das supostas figuras de interesse na história. Isso resulta em diversas cenas que seguem todo um núcleo de personagens que não tem o mínimo de conteúdo aproveitado para além do seu contexto familiar, que serve para entrar em contraponto com o de Victor e sua filha Angela.

O mais triste em relação “O Devoto” é que, ao remover algumas poucas citações e nomes de personagens, esse filme poderia muito bem ser uma das centenas de produções sobre exorcismo que surgem de maneira derivativa nas décadas que seguem o lançamento de O Exorcista. A mística do original não dá as caras nessa produção, as novas ideias estão mais a serviço do contexto do que do aprofundamento, o sobrenatural não consegue ter o mesmo efeito, o desconhecido não tem o mesmo impacto. Tudo neste filme chega com propriedade superficial por olhar com certa distância para o original e não conseguir assumir seus traços únicos como definidores. O filme entrega uma história que consegue encontrar um ciclo natural de ações de começo ao fim mas que não trás ao longo dessa jornada quase nenhum momento que faça juz ao nome que carrega.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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